15 teses sobre o aspecto revolucionário e heterodoxo do pensamento evoliano. Por Aleksandr Dugin.
1. Não resta dúvida de que Julius Evola é uma das figuras centrais do fenômeno ideológico que chamamos de Revolução Conservadora. De fato, ele foi próximo de vários representantes desta corrente política e ideológica na Alemanha. Podemos citar, por exemplo, homens como Heinrich von Gleichen ou Karl Anton Prinz Rohan do Herrenklub — descendente do Juniklub fundado por Arthur Moeller van den Bruck, a grande figura fundadora da Revolução Conservadora na Alemanha.
2. A participação de Evola na política italiana também pode ser descrita como “conservadora revolucionária”. A fórmula “revolução conservadora” define perfeitamente a essência da Weltanschauung evoliana para além dos aspectos mais contingentes de seu trabalho.
3. Devemos especificar, porém, que a Revolução Conservadora jamais foi um fenômeno reacionário. Os dois elementos léxicos da expressão “revolução conservadora” — uma expressão aparentemente paradoxal — são bem sugestivos, e refletem a profunda originalidade do fenômeno, que se estendeu para muito além dos confins do movimento alemão mais conhecido por esse nome.
4. Revolução conservadora é uma versão conservadora da revolução — isto é, a revolução vista pela Direita — e também uma versão revolucionária do conservadorismo — isto é, conservadorismo visto pela Esquerda.
5. Politicamente, Evola se posicionou à direita da Revolução Conservadora, chegando a se intitular abertamente como “reacionário”. Mas a totalidade do trabalho de Evola — e principalmente seus últimos livros — clara e incontestavelmente mostram a presença de uma autêntica sensibilidade revolucionária interior. Tal sensibilidade só pode ser entendida, dentro de uma terminologia contemporânea, como sendo de Esquerda.
6. Às vezes essa sensibilidade é relacionada a um anarquismo de direita: pouco importa, já que o anarquismo é um conceito inextricavelmente ligado à esquerda.
7. O paradoxo da Revolução Conservadora de Evola está mais marcado no campo metafísico do que propriamente no político. Se, no nível político, Evola parece gravitar para a direita ou extrema-direita (tomemos, por exemplo, seu envolvimento com o jornal Contre-révolution, ao lado de Emmanuel Malynski e Léon de Poncins), é inegável que, no nível espiritual, sua simpatia tendia para correntes menos ortodoxas. Ao contrário de conservadores políticos e religiosos, como Léon de Poncins e Heinrich von Gleichen, Evola se mantém na via espiritual — profundamente dissidente — que podemos justamente caracterizar como “esquerda metafísica”. A expressão indiana “Caminho da Mão Esquerda” é bem significativa nesta conexão, especialmente quando Evola se autodefine explicitamente como adepto de tal caminho.
8. A celebrada equação pessoal de Evola, a partir da qual ele se define como um “Brahmin-Kshatriya”, também se enquadra na estrutura desta “esquerda metafísica”.
9. Sendo assim, se ele mantém-se à direita no campo político, no nível metafísico, permanece fiel à revolução. Neste sentido, quando falo de uma “revolução metafísica” de Evola, não falo apenas de obras como Cavalgando o Tigre, mas também e essencialmente de trabalhos como A Yoga de Poder e A Doutrina do Despertar, passando por textos sobre tantrismo, mágica ou Zen.
10. Evola encontra no tantrismo a forma tradicional que melhor reflete sua natureza espiritual. O vīra tântrico é seu próprio arquétipo. Ora, mas logo a figura do vīra tântrico, que rejeita os laços védicos tradicionais, que se ocupa de práticas obscuras e aterradoras em cemitérios — seria ele verdadeiramente ortodoxo? Falar aqui de uma ortodoxia estrita é impossível. Trata-se de uma ponto que tangencia uma certa “ortodoxia heterodoxa” e, portanto, uma “revolução conservadora” — até mesmo uma metafísica paradoxal. Também cabe lembrar da atitude bastante positiva de Evola referente a certas figuras controversas, como Aleister Crowley, Giuliano Kremmerz, Gustav Meyrinck, etc.
11. O Caminho da Mão Esquerda consiste, essencialmente, em uma total negação da sacralidade exotérica (fundamentalmente, uma atitude revolucionária) a fim de atingir e realizar uma sacralidade esotérica (uma afirmação conservadora). Paradoxalmente, negação e afirmação convergem, aqui, sobre sínteses paradoxais e suprarracionais. Por essa razão, o vīra tântrico (como o monge budista) nega castas, laços tradicionais, normas, regras: o caminho tântrico é Revolução Conservadora par excellence.
12. Em minha perspectiva, a essência da mensagem evoliana consiste, precisamente, em numa terceira via espiritual; uma ortodoxia heterodoxa; em uma Revolução Conservadora Metafísica.
13. Logo, designar Evola à direita (isto é, implicitamente ortodoxo) é um erro. Designá-lo à esquerda (isto é, como vetor de uma subversão da ortodoxia) é outro erro.
14. Para entender Evola, devemos rejeitar a dicotomia entre o Político e o Espiritual. A essência de sua mensagem é primeiramente paradoxal. Assim, seguindo o conselho que os antigos mestres da alquimia ocidental nos deram, devemos resolver o paradoxo a partir de um novo paradoxo; entender o obscuro pelo obscuro.
15. A leitura de Evola pela direita está esgotada. Considerar Evola um pensador da Direita é banal; e é por sua própria banalidade que esse raciocínio é falso. Devemos redescobrir a dimensão “esquerdista” de Evola — acima de tudo, o esquerdismo metafísico que ele expressa — para entender a verdadeira natureza da Revolução Conservadora de uma das principais personalidades do nosso século.