Os incêndios na Austrália são uma crise humanitária

vemos um novo grande problema ambiental acontecendo e adquirindo dimensões internacionais e proporções humanitárias: os incêndios na Austrália.

Os incêndios na Austrália são uma crise humanitária, mas isso não interessa ao Ocidente.

Por Lucas Leiroz

No último ano, surgiu uma grande discussão no cenário internacional: a legalidade das chamadas “intervenções climáticas”. Essas intervenções ainda não ocorreram em nenhuma parte do mundo, mas os debates sobre sua possibilidade ganharam força após a propagação dos incêndios na floresta amazônica. O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, iniciou uma era de políticas neoliberais avançadas no Brasil, flexibilizando as leis ambientais em favor do desmatamento e da exploração desenfreada dos recursos naturais. Naquele momento, foi publicada uma nova edição da renomada revista geopolítica americana Foreign Policy (fundada pelo próprio Samuel Huntington) contendo um artigo de Stephen Walt, professor de Relações Internacionais de Harvard, intitulado Quem invadirá o Brasil para salvar a Amazônia (e como)? . Neste artigo, o estudioso defendeu publicamente a invasão militar do território brasileiro em relação à proteção ambiental da Floresta Amazônica.

O texto referenciado começa expondo um cenário hipotético em um futuro próximo, no qual o presidente dos EUA anunciaria publicamente um ultimato ao governo brasileiro para impedir o desmatamento excessivo da floresta amazônica, sob pena de bloqueio militar dos portos brasileiros e bombardeios aéreos. No decorrer do infame artigo, o autor elabora uma defesa superficial e barata da maximização dos esforços internacionais para evitar danos ambientais, em favor da máxima relativização da soberania do Estado. O texto, brevemente, gira em torno da questão de quais seriam os limites para as ações de segurança ambiental no sistema internacional. Em seguida, o autor afirma que os maiores emissores de poluentes do mundo são grandes potências militares, contra as quais as intervenções internacionais seriam infrutíferas. Enquanto, por outro lado, o Brasil – como países em situações semelhantes – seria um alvo fácil por causa de seu alto grau de agressão ambiental paralelamente à sua fraqueza militar.

Nesse mesmo período, Bolsonaro e o presidente francês Emmanuel Macron iniciaram uma guerra de palavras, na qual Macron defendia a internacionalização da Amazônia, ou, em outras palavras, a atribuição à floresta tropical do status de “território internacional”, ou uma zona inacessível à soberania nacional, análoga ao espaço sideral, aos polos e aos ares e mares internacionais. O discurso cosmopolita inflamado proferido pelo presidente francês causou enorme comoção e reações no Brasil e em outros países amazônicos e, além da ideia acadêmica exposta pelo professor Walt, pode revelar alguns planos internacionais obscuros para países em desenvolvimento que violam as normas ambientais.

Atualmente, vemos um novo grande problema ambiental acontecendo e adquirindo dimensões internacionais e proporções humanitárias: os incêndios na Austrália. Uma área de milhões de hectares foi afetada em torno de Sidney e Adelaide. Mais de 20 pessoas e um número incrível de meio bilhão de animais morreram até agora. A população de coalas saudáveis ​​foi reduzida em mais de 50%. Mais de mil casas foram demitidas. E o governo anunciou que os incêndios ainda podem ocorrer por meses.

Os incêndios são comuns e pertencem ao ciclo natural do ano na Austrália. Mas, incontestavelmente, nos últimos anos, esse fenômeno adquiriu novas proporções de acordo com a elevação da temperatura devido às mudanças climáticas. A Austrália é um dos maiores emissores de poluentes do mundo e, além disso, existem muitas acusações de omissão do Primeiro Ministro Scott Morrison, em resposta às providências e apoio financeiro adequados. Além disso, existem várias denúncias e julgamentos sobre possíveis causas criminais de alguns incêndios florestais.

A nota mais curiosa desses fatos é o silêncio brutal na comunidade internacional. Não podemos ver discussões internacionais sobre planos de intervir militarmente na Austrália e torná-la um território internacional. Por que os políticos e estudiosos ocidentais ficam calados quando um país inteiro está queimando, perdendo sua fauna exuberante e singular, enquanto as discussões sobre os incêndios na Amazônia há alguns meses adquiriram proporções militares por causa de uma quantidade incomparavelmente menor de danos?

É claro que por trás da máscara falsa e hipócrita do “capitalismo verde” existem vários interesses obscuros. As potências ocidentais motivaram grandes discursos contra o Brasil porque esses mesmos países e suas empresas transnacionais estavam interessados ​​em aniquilar a soberania brasileira para adquirir o direito de explorar livremente os recursos naturais da floresta tropical. O mesmo interesse não está presente na Austrália. Por isso, as respostas internacionais à crise ambiental nada mais serão do que mensagens de solidariedade e apoio. Os incêndios na Austrália são uma catástrofe humanitária e ambiental. Mas as potências ocidentais não querem salvar vidas humanas e animais, apenas seus próprios interesses.

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 596

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