É correto considerar Hans-Georg Gadamer um tradicionalista? Seus questionamentos e críticas à modernidade e aos princípios iluministas mostram que sim. O pensador alemão examina a utilização do método, que busca alcançar uma verdade inquestionável, como na filosofia de Descartes. O erro dos iluministas foi a confiança cega na razão como a única ferramenta analítica do ser humano. A era moderna é caracterizada pelo casamento de método e razão, união essa que legitimou os saberes científicos como a fonte da verdade suprema.
Descartes e os iluministas eram inimigos da tradição, buscando criticá-la e julgá-la. Gadamer, inspirado por nomes do Romantismo alemão como Schleirmacher e Schlegel, além de seu mestre Martin Heidegger, busca reabilitar e aprofundar os significados da tradição. Os filósofos do século das luzes cometeram um grande erro ao pensar que qualquer forma de pensamento poderia se desenvolver descontinuada e isolada da tradição.
A tradição não é algo passível de análise por uma razão que em vão se pretende pura, pois essa mesma razão faz parte de uma tradição que ela tenta julgar. Para Gadamer, a tradição é a alma que torna viva a cultura, não um amontoado de valores alógicos e saberes sem fundamentos. Essa concepção de Gadamer dialoga fortemente com nossa visão de culturas tradicionais, o que prova que ele é um pensador a ser estudado e adaptado à nossa práxis. A tradição, de fato, é algo vivo, não um fetiche pelo passado. Ela brilha como um sol que emana as mais variadas manifestações culturais populares.
As “forças iluministas” tentaram um reset. Não à toa muitos falarem hoje em dia em “reset econômico mundial”, que seria uma teoria de conspiração anos atrás mas mostrou-se verdadeira com a crise do corona.