Apesar de tanto a Segunda Guerra Mundial quanto a Guerra Fria não passarem de memórias fugidias nas mentes de idosos, e de ambas terem extinguido, respectivamente, o fascismo e o comunismo enquanto forças metapolíticas aptas à disputarem a hegemonia global, os slogans necromânticos das organizações políticas de esquerda e de direita seguem tentando amedrontar a população com os fantasmas de uma “ameaça comunista” ou de uma “ameaça fascista”.
Todos já nos deparamos com esses discursos esquizofrênicos. Para boa parte da direita, vivemos sob o comunismo. Soros é comunista. Obama era comunista. A América Latina inteira é comunista. A Europa é comunista. Putin é comunista. Tudo e todos são comunistas. E insatisfeitos com já dominarem o mundo, aparentemente os comunistas querem… dominar ainda mais aquilo que já dominam? Vai entender. Ou melhor, não tentem entender a conspirologia direitista. Ela não faz sentido e nem tenta fazer sentido.
Do outro lado, com uma histeria ainda mais esclerosada, uma parte considerável da esquerda insiste que o fascismo (morto há mais de 70 anos) está à espreita, prestes a tomar o poder e impôr sua “ditadura do capitalismo radicalizado”. A preocupação teórico-terminológica é mínima. Fascismo se transforma, basicamente, em sinônimo para qualquer tipo de autoritarismo de direita, e nos âmbitos mais solipsistas, fascismo é basicamente qualquer distanciamento de qualquer uma das pautas morais liberais. Trump é fascista. Putin é fascista. Temer é fascista.
Nos dois casos, parece haver algum tipo de fetiche por pertencer a alguma forma de resistência oprimida e perseguida, sobrevivendo nas “catacumbas”, enquanto o inimigo está no poder. Nos dois casos, parece faltar a mais básica percepção de que é o próprio lado que está no poder.
São os liberais de direita e esquerda que estão no poder, disputando de forma sempre “racional”, “sensata”, “moderada” e “comedida” o poder. Mas preservando o monopólio liberal sobre este poder e, inclusive, se aliando sempre que qualquer força política minimamente exógena ameaça tal monopólio.
Retirado o véu das esquizofrenias esclerosadas e fantasmagóricas das teorias políticas defuntas do século passado, a verdade que se revela é a de que o mundo vive hoje sob uma hegemonia liberal. Quase todos os países do mundo são governados por pessoas e/ou organizações políticas liberais, e são os valores liberais que regem a estruturação política, econômica, social e cultural dos povos.
Alguns entre estes liberais possuem como foco a abertura comercial, a liberdade de mercado, as privatizações e outras medidas semelhantes. Alguns outros possuem como foco a ideologia de gênero, as cotas, a adoção gay, o aborto e outras medidas semelhantes. Há ainda aqueles liberais preocupadíssimos com as ameaças religiosos ao sacrossanto “Estado laico”. Há liberais de todo tipo e com todos os enfoques possíveis, mas SÓ HÁ liberais. As exceções são mínimas, pontuais.
Não há uma única tragédia política, econômica, moral, cultural, espiritual ou ambiental dos últimos cem anos cuja origem não possa ser atribuída, em alguma medida, ao liberalismo teórico-filosófico e seus derivados.
Nesse sentido, falar em “ameaça comunista” ou “ameaça fascista” nos faz refletir sobre que interesses podem se ocultar por trás dessa propaganda caduca. De fato, parece evidente que a maioria esmagadora das pessoas que manejam esses slogans, ou são idosos confusos, ou adolescentes que ingeriram soja em excesso, ou pessoas simplesmente mentalmente desequilibradas em geral.
Mas por trás dessas hordas de zumbis há partidos, think-tanks, intelectuais. É muito improvável que essas figuras não saiba que as propagandas caducas do anticomunismo e do antifascismo servem para distrair as massas em relação ao único inimigo, aquele que está no poder, o liberalismo. Eles sabem. Longe dos olhos de suas seitas compostas por pequeno-burgueses lobotomizados pela televisão, eles abraçam uns aos outros e cultivam laços pessoais e sociais. A elite é uma só. Ela é global, e sabe que as disputas entre seus membros não passam de entretenimento para manter o tédio longe.
Anticomunismo e antifascismo são as ferramentas de uma elite que pretende seguir tratando o povo como gado a ser explorado, manipulado e descartado. Falar em anticomunismo ou antifascismo, em uma era na qual comunismo e fascismo estão MORTOS e NÃO EXISTEM MAIS, é assumir o lado do liberalismo.
O inimigo do Brasil é um só.
O inimigo dos povos do mundo é um só.
É a elite global, internacional, apátrida, desenraizada. E essa elite é liberal.