O multiculturalismo é um problema onde quer que ele emerja. O Brasil não é menos prejudicado ou ameaçado pelo multiculturalismo do que qualquer outro país. Desde que entendamos corretamente o que é o multiculturalismo.
Multiculturalismo não é meramente “diversidade”. Porque existem diversidades orgânicas, naturais e históricas. Existem diversidades que surgem do processo histórico, sem projetos nefastos coordenando as coisas por detrás das cortinas.
Multiculturalismo, ao contrário, é o apagamento gradual da diversidade, com a sua conseguinte substituição por uma cultura global comum. A diferença é exaltada na mesma medida em que é apagada. O Outro é artificialmente tornado parte de si. Trata-se do aspecto cultural da construção de uma Aldeia Global, com um Mercado Global.
Uma coisa é a transformação de uma cultura enraizada em outra cultura enraizada. Ou a amalgamação cultural orgânica que se dá pelas interações livres entre povos: algo que acontece em todas as fronteiras, por exemplo. O Rio Grande do Sul tem muito do Uruguai e da Argentina. O Alsácia tem muito de germânica. O norte da Grécia tem elementos eslávicos. O sudoeste dos EUA sempre foi bastante hispânico. O Brasil, sendo um país de encontros entre povos, possui igualmente amálgamas culturais em todas as suas regiões, sempre originando novas culturas orgânicas e autênticas.
O multiculturalismo, não obstante, é um fenômeno recente, do século XX. Em certo sentido, ele é uma evolução do pensamento homogeneizador tipicamente burguês e liberal, do século XIX, que demanda que o Estado-Nação deva ter uma única etnia e uma única cultura. O multiculturalismo é a aplicação global desse pensamento.
Se o mundo deve ser unificado em um único grande mercado, com um único grande governo, deve haver uma única grande cultura. Falo aqui em “única” porque a essência é nivelada. Visitar São Paulo, Londres, Nova Iorque, Paris, Pequim e Tóquio é visitar a mesma cidade. Os processos migratórios garantem que a demografia vá se nivelando. As diferenças remanescentes vão se tornando meramente exteriores e opcionais. O trans-humanismo vai possibilitando que um japonês possa se tornar branco, um branco, negro, e um negro, japonês.
Essa cultura única, promovida pelo multiculturalismo, não é orgânica, porque não está fundada em nenhum modo existencial autêntico. Em termos simples, ela não está fundada em uma vivência histórica. Seu único suporte é uma adesão aos valores da sociedade pós-liberal.
Eis aí uma das maiores pragas da humanidade.