Mbappé declarou recentemente que deseja investir tempo e realizar projetos para desenvolver o futebol na África. A nova estrela do mundo da bola foi duramente criticado pelo jogador Assou-Ekotto, nascido na França mas que decidiu defender as cores de Camarões, nação de seus pais. Ekotto ironizou as palavras de Mbappé, dizendo “que esses jogadores de origem africana que carregam a África no coração e desejam ajudar o futebol africano e tudo mais, enquanto escolhem atuar por seleções europeias, fazem-me rir, mas parecem bons quando afirmam ter uma boa causa!“.
No entanto, atletas como Mbappé, Umtiti, Kanté, Pogba, Dembelé, Matuidi e outros não tem ”culpa” alguma no cartório. Todos eles nasceram em território francês ou para lá foram antes dos dois, três anos de idade. Cresceram naquela sociedade, com a qual têm laços de sociabilidade, afetos. Eles se sentem franceses.
O que deve ser criticado nesse aspecto é o sistema de relações de poder que permite à França parasitar e vampirizar suas antigas colônias: o imperialismo suga não apenas os recursos, mas também cérebros, talentos e corpos dos países que subordina. Congo, Camarões, Argélia, Mali, todos eles se tornam exportadores de matéria prima e de homens para o território francês, ainda que essa relação seja anunciada com termos palatáveis como “imigração”, “cosmopolitismo”, “multiculturalismo”, “comércio”.
Toda vez que Mbappé marca um golo pela França, toda vez que Umtiti realiza um desarme ou decide uma partida – como decidiu essa semifinal de Copa – é um golo, um desarme e uma jogada decisiva a menos que poderiam estar realizando por Camarões.
Repito: eles se sentem franceses, foram criados lá, e isso decide a questão no âmbito individual. Mas o sistema de relações de poder que permite essa sangria africana deve, sim, ser apontado e criticado. É bobagem pensar que o fundamento dessas questões é a mera “escolha individual” e não uma hierarquia geopolítica.