O protecionismo voltou. Mas é claro que não afirmamos isso como se ele tivesse deixado de ser posto em prática em algum momento, retornado agora. Na verdade, todas as atuais potências do Primeiro Mundo alcançaram seu status atual por meio de doses cavalares de protecionismo, acoplados a todo tipo de impulso estatal − indo de subsídios e criações de estatais até o controle de preços, bem como outras medidas ainda mais radicais. O modus operandi padrão nos últimos três séculos tem sido esse.
No caso de parte desses países, especialmente no dos influenciados pela teoria política liberal, o que acontece é a aplicação de medidas econômicas liberais após ter sido atingido um patamar satisfatório de industrialização, eficiência e complexidade produtiva. Aí, então, os países desenvolvidos se transformam em verdadeiros cruzadistas do liberalismo econômico, ao passo que, antes, eles apenas o promoviam no que tange ao consumo exterior. Não obstante, de forma setorial e usualmente discreta, a maioria desses países ainda assim sempre aplicou algumas doses de protecionismo econômico.
Para nós, brasileiros, isso nunca foi novidade. O Brasil há décadas tem tido que se deparar com tarifas médias nominais de até 44% para os principais produtos de exportação brasileira, de modo geral do setor primário. Nesse sentido, os EUA sempre foram praticantes de um “protecionismo seletivo”.
O que há de inovação no momento atual, porém, no qual Trump levanta barreiras contra a importação de aço, por exemplo, é que nada disso está sendo maquiado. Tudo está sendo feito de forma completamente aberta, declarado, com intenções e objetivos perfeitamente claros. Enquanto antes havia picos e tarifas extra-quotas sob o disfarce de tarifas médias baixas, com os menos informados chegando até mesmo a defender que os EUA não eram protecionistas, agora não há mais qualquer tipo de dúvida. E isso já estava previsto e foi comentado por nós na época das eleições americanas.
Os EUA padeceram e afundaram com a depredação predatória e parasitária da Reaganomics. O país foi desindustrializado de forma radical no que concerne às indústrias leves e pesadas. Empregos foram exportados para o Terceiro Mundo. Um dos resultados foi o “Rust Belt”, uma grande área geográfica com cidades repletas de fábricas abandonadas, trabalhadores brancos precarizados ou dependentes de “food stamps” e outros benefícios sociais, acumulando raiva de um sistema que os havia abandonado em prol de uma política desenraizada de “redução de custos”.
O Brasil, que já era afetado pelo protecionismo seletivo e disfarçado dos EUA, será agora ainda mais afetado pelo protecionismo oficial de Trump. Uma das principais atingidas será a empresa CSN, uma das joias industriais brasileiras, privatizada de forma ilegal, ilegítima e desvantajosa pelos governos neoliberais pretéritos.
É esse o destino inevitável dos países de Terceiro Mundo em que as elites forçam a aceitação e a propaganda econômico-ideológica dos países de Primeiro Mundo. Quando os ventos mudam, e a população desses países se cansa da exploração, nós somos prejudicados ainda mais do que de costume.
A beleza desse protecionismo está no golpe que ele dá no projeto de “recuperação econômica” da equipe econômico-financeira por trás de Temer. O que poderíamos esperar de uma liderança política patriótica? Responder a isso com o levantamento de várias barreiras de nossa parte, não? Engana-se quem esperaria que o governo Temer poderia fazer isso.
O imperialismo criou, aqui, cadelinhas que realmente acreditam nas benesses do livre-comércio e do liberalismo econômico, então a resposta brasileira será tão somente a de tentar fortalecer laços comerciais com algum dos outros países que ainda não abandonou a mitologia do livre-comércio: o que, obviamente, seguirá sendo desvantajoso para nós.
Enquanto isso, o choro liberal é livre.
O único caminho para o Brasil é ser DEZ VEZES mais protecionista que os EUA, e romper de vez com os mitos do liberalismo econômico.
Situação semelhante ocorreu às vésperas da I GG. À época, um conflito intra-imperialistas, tanto entre imperialistas estabelecidos quanto com aspirantes. Hoje parece mais um conflito entre imperialistas e globalistas. Os primeiros precisam do Estado-nacional instrumentalizado, os segundos o veem como obstáculo. É a contradição entre forças produtivas e relações de produção da dialética histórica marxista, o motor da História, e que possibilita o surgimento das condições, as denominadas causas objetivas, para a Revolução. Estejamos atentos!