“Metacapitalismo” não existe

“Metacapitalismo”, “capitalismo de compadrio”, “capitalismo de conchavos”, “capitalismo corporativista”, nada disso existe. Mas Olavo de Carvalho e seus seguidores, além de toda a direita liberal-conservadora, adora falar nestas mistificações.

Quando descrevem tais fenômenos, trata-se apenas do capitalismo mesmo. Capitalismo padrão. Capitalismo 1.0. Capitalismo original. Capitalismo capitalista. Sem adjetivos, sem prefixos, sem qualificações. É o mais puro, usual, comum e original capitalismo.

Essas terminologias, antes, são utilizadas por pessoas que querem “salvar” o capitalismo contra críticas dirigidas à sua essência, como se estivéssemos falando de coisas circunstanciais, “acidentes” no percurso histórico do capitalismo. Eles ignoram ou camuflam o fato de que essas supostas “imperfeições” históricas do capitalismo são, na verdade, parte das próprias condições necessárias que permitiram o surgimento do capitalismo e seu entranhamento nas sociedades ocidentais.

O capitalismo dos conglomerados internacionais não é diferente, em essência, das outras unidades capitalistas de produção que operam em escala menor. São apenas fases de desenvolvimento e acumulação de capital distintas. Mas o que o “capitalista nacional” almeja é se tornar igual ao grande capitalista internacional. Portanto, não estamos falando de algum tipo de fenômeno distinto quando falamos nos grandes capitalistas internacionais, os chamados “globalistas”. Eles são apenas o resultado lógico, inevitável e incontornável do desenvolvimento do capitalismo.

No que concerne às críticas contra as relações promíscuas entre Estado e burguesia, ao contrário do que dizem, é correto afirmar que essas relações precedem até mesmo o próprio capitalismo. Elas já vêm da fase mercantilista pré-capitalista. Os reis e parte da burocracia aristocrática se aliaram à burguesia para enfraquecer o resto do senhorio feudal e consolidar os Estados nacionais nascentes na aurora da Modernidade. O capitalismo surge já na dependência do Estado.

Mas há uma questão fundamental a ser compreendida. Existe um entendimento errado sobre essa relação, e esse entendimento errado é derivado da ingenuidade dos críticos do capitalismo.

Hoje sabemos, obviamente, que o capitalismo não é monarquista. Mas os críticos do capitalismo do século XIX faziam essas associações entre capitalismo e monarquia. Lembrem daquele desenho de livro escolar com o proletariado na base e a monarquia no topo, passando por clero, burguesia, etc. Essa estrutura é puramente circunstancial. O capitalismo, e seus operadores, se utilizam das forças sociais à disposição em um dado momento histórico, mas a partir do momento em que essas forças não favorecem expansões ainda maiores do capital, elas se tornam impedimentos e precisam ser enfraquecidas ou derrubadas.

E lá se foram as monarquias.

O mesmo se aplica à Igreja e ao clero. Eles não têm nada a ver com a classe burguesa, com o capitalismo ou com o que seja. Mas, tal como com as monarquias, foram instrumentalizadas enquanto forças sociais com grande influência cultural e moral sobre a sociedade civil. Depois que deixaram de ter tal utilidade (com o surgimento do cinema, da TV, das mídias de massa, etc.), a religião se tornou um alvo. Isso aconteceu por volta do início do século XX. Ou seja, a esquerda está 100 anos atrasada quando critica o Cristianismo como parte da ideologia da classe dominante. Não é.

É importante fazer esse percurso histórico pelo seguinte motivo:

É claro que o capitalismo, hoje, possui uma relação simbiótica com os Estados modernos. Mas isso não é algo inevitável e da natureza do próprio Estado. Então não adianta buscar enfraquecer o Estado, combater o Estado, para atingir o fim de combater o capitalismo.

O Estado, aí, é um instrumento, tão somente um instrumento, uma ferramenta das forças que controlam o capital. Isso também não muda o fato de que o capitalismo, que cresceu a ponto de não precisar mais dos monarcas, depois cresceu a ponto de não precisar mais da igreja, agora cresceu a ponto de não precisar mais do Estado. E, por isso, conspira em prol de seu enfraquecimento.

E esse é o modus operandi padrão do capitalismo. Ele vai crescendo como um parasita, se apoiando e dependendo de forças e instituições sociais pré-existentes. Mas essas forças e instituições sociais são, ao mesmo tempo, limitadoras a longo prazo, porque o objetivo fundamental do capitalismo é a expansão infinita, ilimitada, irrestrita, e as forças e instituições históricas, usualmente, desejam impôr limites.

O capitalismo, resumindo, é um câncer. Um câncer que tende a devorar o planeta e corroer todas as forças e instituições dos povos para garantir a realização de seu objetivo inato. Ao mesmo tempo, o capitalismo é um parasita, que se aferra a essas forças e instituições enquanto puder tirar proveito delas, mas as destrói quando elas perdem sua utilidade ou quando se revelam entraves ao fim último da expansão infinita.

Não é à toa que é útil pensar no combate ao capitalismo como uma Guerra Santa, uma “Jihad”, um combate contra forças essencialmente devastadoras, anti-humanas e diabólicas. Assim, afirmamos: por trás dos operadores humanos desse câncer parasitário estão as figuras mais sombrias, mais podres, mais degeneradas em um nível que ainda pudemos vislumbrar.

Eles não são apenas inimigos de classe. Eles são um vírus. E se não extirparmos esse vírus, o risco é a ruína do planeta inteiro.

Devemos extirpar esse vírus custe o que custar.

9 comentários

  1. Todo tipo de comercio não é capitalista? Toda exportação e importação? Todo empréstimo? Circulação de moeda? produtividade, compra e venda, consumo…tudo isso não é capitalismo? O que seria extirpar o capitalismo? e se não deve haver rótulos para o capitalismo ,ou seja, tudo o que citei é capitalismo, então como uma sociedade poderá subsistir?

        • Todo tipo de comércio não é capitalismo. Nem foi o primeiro sistema econômico. Antes do capitalismo a troca de bens de consumo era feita bem por bem (escambo), quando necessário, pois as comunidades feudais, por exemplo, eram autossuficientes e não dependiam de um sistema fixo de trocas entre seus membros em princípio. Ainda com a inserção da moeda a finalidade das feiras nessa época ainda não era o acumulo de riqueza pelo comércio, pois eram dadas a finalidade bem mais práticas. Não existia uma classe formada exclusivamente na base do lucro comercial (burguesia). O capitalismo mesmo surge com o mercantilismo – criação de mercados internos tocados por uma classe que só viria a fazer isso, a burguesia – no fim do século XV e se expande depois com o inicio da era das navegações com o mercado de especiarias.

  2. Muita teoria e poucos exemplos, tipico da utopia comunista. Poderia citar pelo menos algum pais que se deu bem com essa utopia, algo que esteja no planeta terra? Aliás a Venezuela obteve sucesso com seu governo? ou ainda obterá?

    • Do que você está falando? Por que daríamos exemplo seja lá do que for se o texto não se trata de uma defesa do comunismo, mas de uma análise do termo “metacapitalismo”? E quem disse que a Venezuela é comunista? Talvez você precise exercitar melhor sua interpretação de texto e desligar um pouco a metralhadora de falas-prontas.

  3. A ideia de Capitalismo está intrinsecamente ligada às de propriedade privada e liberdade econômica, coisas essas que são justamente o que as promíscuas relações entre o Estado e o grande empresariado violam, por definição. Sabe o quanto a discussão sobre isso ser ou não implicação necessária do Capitalismo influencia no conceito de Capitalismo? Nada! Nadica de nada… Aliás, nem mesmo o próprio Olavo de Carvalho defende que isso é mero acidente de percurso que nada tem a ver com o Capitalismo, não sei de onde tiraste isso. Provavelmente, da sua cabeça.

  4. Olha só o nível de hipocrisia socialista: “É útil pensar pensar no combate ao capitalismo como uma Guerra Santa”, uma “Jihad” “Devemos extirpar esse vírus custe o que custar” Criticam o suposto “capitalismo opressor,” mas recorrem à uma Jihad que é uma luta de morte e ainda diz “custe o que custar,” eu fico imaginando, até milhões de vidas humanas né? Isso só revela a índole assassina do socialismo desde sua concepção. não é atoa que já mataram mais de 100 milhões de pessoa no mundo, mais do que todas as guerras mundiais somadas às epidemias e catástrofes naturais

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