Jovens Patriotas: contra-senso branco na esquerda revolucionária

Seguem alguns enxertos do livro Hillbilly Nationalists, Urban Race Rebels, and Black Power: Community Organizing in Radical Times, de Amy Sonnie e James Tracy, recomendados pelos nossos camaradas americanos. Os Jovens Patriotas (já abordados por nós anteriormente) foram uma organização identitária e nacional-revolucionária americana que, ao lado de movimentos como IRA, EZLN, Hezbollah, os Comandos Nacionalistas de Brizola, entre outas, figuram no panteão das figuras revolucionárias que inspiram a NR.

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Jovens Patriotas: o contra-senso dos brancos apalachianos na esquerda revolucionária

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Sob a liderança dos Panteras, o grupo [Jovens Patriotas] lançou seu próprio Programa de Dez Pontos, que incluía demandas como pleno emprego, moradia digna, direitos para os prisioneiros e o fim do racismo. A Plataforma original dos Patriotas nunca mencionou a palavra “branco”, ao invés disso, expunha as questões relativas à brutalidade policial, aos sindicatos, as escolas degradadas e a guerra nos termos da política de classes. Uma versão posterior, no entanto, ecoou mais de perto o Programa dos Panteras, substituindo a palavra “preto” por “branco”.

“Exigimos o poder para determinar o destino da nossa comunidade branca oprimida […]. Exigimos o fim imediato da brutalidade policial e do assassinato do povo branco oprimido: que o povo da nossa comunidade controle a polícia.”

Ao falar dos brancos oprimidos, os Patriotas lançavam uma questão ao seu público: os Apalaches urbanizados eram uma nação separada dentro de uma nação, do mesmo modo que os negros e os índios americanos eram nacionalidades oprimidas dentro dos Estados Unidos? Os Patriotas respondiam que sim, eles eram. Influenciados pela política da época, os Patriotas afirmavam que os brancos oprimidos – os brancos pobres do sul, especificamente – constituíam “um povo” e, ao assim proceder, estabeleciam uma reivindicação rara e controversa do nacionalismo étnico-revolucionário branco. Como “nacionalistas de Hillbilly”, eles reivindicavam o direito dos brancos do sul de determinarem seu destino e de se fazerem oposição à “estrutura podre do poder” que criou a escravidão e a divisão capitalista Norte-Sul. E embora o termo nunca tenha sido completamente definido e nunca tenha ficado claro o que eles pensavam que devesse ser uma nação Hillbilly se, de fato, a revolução ocorresse, ficava claro que eles buscavam construir um novo marco para o orgulho sulista. Apesar da imprecisão de suas posições, a mensagem dos Patriotas pode ser uma das poucas vezes na história dos EUA em que alguém proferiu a frase “Poder Branco” sob a forma de um grito pela justiça racial.

Os panfletos iniciais dos Patriotas procuravam chamar a atenção com uma frase de destaque na capa que, na parte de dentro, tinha o seu real significado demonstrado. Como o slogan das Panteras foi “Poder Preto para os pretos; Poder Marrom para o povo marrom; Poder Vermelho para o povo vermelho; Poder Amarelo para o povo amarelo […] Poder Branco para o povo branco”, os Patriotas logo avançaram nos termos desta mensagem. 

“O Sul deve se erguer novamente”, lê-se em um de seus primeiros manifestos, acompanhado da ressalva: “só que, dessa vez, em solidariedade com nossos irmãos e irmãs oprimidos”.

Como prova desta solidariedade, os Jovens Patriotas dedicavam páginas após a páginas de seu novo jornal-tabloide – apropriadamente intitulado de O Patriota – à libertação de prisioneiros políticos, incluindo os fundadores dos Panteras, Huey Newton e Bobby Seale. O Patriota apelou aos brancos para que abandonassem o racismo, se unissem às vanguardas políticas de outras comunidades oprimidas e “combatessem o verdadeiro inimigo” […].

Com novos membros como [William “Preacherman”] Fesperman, os Patriotas forjaram sua retórica e imagem pública. Em uma década em que o simbolismo importava mais do que nunca, a maioria dos grupos de esquerda elaborava o seu próprio código radical de vestimenta – dos trajes característicos dos líderes dos direitos civis aos elegantes casacos de couro das Panteras – para, conscientemente, passarem uma mensagem. Para o bem ou para o mal, os Patriotas adotaram a bandeira Confederada como um símbolo da revolta dos pobres do sul contra a classe proprietária. Na análise dos Patriotas, a bandeira Confederada abria uma discussão sobre a história da nação dos latifundiários capitalistas e acerca do dividir-para-conquistar. Eles argumentavam que a Guerra Civil foi um conluio entre uma classe feudalista agrícola do Sul e o Norte capitalista recém industrializado. A divisão entre o Norte e Sul, diziam eles, não foi criada pelo povo, mas sim por empresários e políticos ricos. Nessa lógica, a bandeira Confederada, originalmente um símbolo cultural do Sul, não era mais ofensiva que as estrelas e as listras [da bandeira americana].

“Pela experiência histórica, sabemos que as pessoas definem o significado de uma bandeira”, escreveram em seu jornal. “Desta vez, queremos ver o espírito da rebelião encontrando e esmagando o verdadeiro inimigo ao invés de nossos irmãos e irmãs oprimidos”.

Sem temer reações, a escolha da bandeira Confederada também ofendeu aos estudantes de esquerda. A maioria dos Patriotas, porém, ficou orgulhoso com sua habilidade de desnortear a classe média. Eles também careciam de um uniforme radical pelo qual pudessem pagar e as miniaturas de bandeiras eram baratas em lojas de artigos militares locais e costurá-las em jaquetas jeans e boinas parecia bastante fácil.

Assim, enquanto os Patriotas discutiam suas opções, o Pantera Bob Lee lhes dava seu total consentimento (desde que eles estivessem de acordo com todos os termos trazidos por ele). Lee chegou a passar três semanas iniciais dividindo o pão com a gente de Uptown sem comunicar ao presidente [dos Panteras] Fred Hampton. Mas tão logo Lee teve algo de concreto nas mãos, ele levou a ideia da coalizão [a Rainbow Coalition] para Hampton, que “acatou a ideia” de imediato. Mas nem todos reagiram como Hampton. Alguns membros dos Panteras e dos Lords [Young Lords, organização identitária chicana que atuou na época] questionaram a escolha do emblema, de modo que eles simplesmente ficavam confusos com as aparentes contradições de radicais negros ficando ao lado de autoproclamadas hillbillianos, que usavam bandeiras confederadas. Os Young Lords discutiram o assunto seriamente ao decidirem unir forças com os Patriotas. “Foi, de fato, uma escolha pessoal deles “, explicava Cha-Cha Jimenez. “Para entender isso, você tem que entender a influência do nacionalismo”. Então os Lords de Chicago finalmente decidiram que havia uma perspectiva suficientemente comum para construir algo, mas ressaltavam que a camaradagem entre os membros da coalizão demoraria algum tempo.

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