A guerra como o núcleo do paradigma de política externa norte-americana:
A política e a economia americana dependem da condução de guerras. A guerra é necessária, para os EUA, em termos ideológicos, políticos e econômicos. É por essa razão que o complexo militar-industrial dos EUA é uma das forças mais influentes no Estado.
Eventualmente, o complexo militar-industrial é chamado de Deep State, Estado Profundo. E para que o Deep State/CMI continue obtendo recursos na campo da defesa (estimados na casa dos trilhões de dólares), é necessário que ele faça guerra, do contrário, tais custos não serão justificados. Assim, ninguém pode ficar no caminho, nem o imperativo pacificador de Obama, nem o realismo duro de Trump. O complexo militar-industrial americano dá as cartas para qualquer presidente, de qualquer ideologia, e, portanto, a guerra é necessária (inevitável). Mas o que esperar de Trump?
A Estratégia Trump:
Trump procura mudar o paradigma da política externa, mas não pode fazê-lo drasticamente sendo pressionado pelo Estado Profundo. Qualquer mudança drástica no curso e na metodologia da política externa levará à sua eliminação. Assim, Trump tenta virar a massa de gastos militares para outra direção. A principal tarefa política de Trump, que prometeu evitar um conflito nuclear com a Rússia e se esquivar do perigo emergente de uma Terceira Guerra Mundial Nuclear, é a normalização de relações com a Rússia. Ao mesmo tempo, a pressão do complexo militar-industrial dos EUA sobre Trump não diminuiu e ele se vê forçado a guerrear. É daí que se deve partir ao analisar a escalada no conflito em relação à Coreia do Norte.
A colisão com a Rússia é mais provável na Síria e, portanto, Trump tira sua atenção da Síria e a dirige para o Extremo Oriente. Vale ressaltar que a Rússia claramente não quer semelhante guerra americana contra a RPDC, principalmente pela interferência chinesa na questão. Mas, ao mesmo tempo, ela não seria tão dolorosa e seria mais um confronto indireto com os EUA.
Outro candidato para a agressão americana, sob a estratégia Trump, é o Irã. O Irã é o aliado russo mais próximo em termos de interesses políticos na região. Para nós [russos], a guerra americana contra o Irã seria muito mais dolorosa. E se considerarmos que Trump não pode lutar (e que a Rússia é o inimigo com maior probabilidade de levá-lo a uma guerra nuclear), então o conflito entre os EUA e a RPDC é o menor dos males possíveis nesta conjuntura e só afeta a Rússia tangencialmente. Ela não é benéfica para nós, mas é melhor que a guerra russo-americana.
A guerra com a RPDC: suicídio político para Trump?
Desde uma perspectiva racional, Trump não deve iniciar uma guerra contra a RPDC, já que isso não melhorará sua situação em qualquer sentido. As bases militares americanas estão na Coreia do Sul, a região já é controlada pelos EUA de uma maneira ou de outra. Não há interesses estratégicos especiais para uma guerra contra a RPDC. A guerra levará a enormes baixas civis, milhares morrerão e isso acabará se convertendo em uma catástrofe política completa em qualquer cenário possível. Não é possível que Trump não compreenda isso. O início de uma guerra contra a RPDC seria o suicídio de Trump e criaria uma situação na qual não existe chance de vitória. Não obstante, isso seria melhor que uma guerra nuclear mundial, rumo à qual Trump é constantemente empurrado pelo complexo militar-industrial dos EUA, algo que, na realidade, ocorre com qualquer presidente dos EUA (e para onde Hillary Clinton aparentemente tendia).
Nós temos visto que Trump substituiu o seu conselheiro para assuntos ligados à Rússia, de modo que a tensão neste sentido enfraquecerá levemente. Trump substituiu seu conselheiro para o Oriente Médio e a tensão neste sentido também se enfraquecerá. Em semelhante conjuntura, o “bode expiatório” escolhido foi o absolutamente inocente e notável Kim Jong-Un, que simplesmente defende e tenta defender a soberania de seu pequeno, mas grandioso país na arena internacional. Em uma perspectiva moral, isso é belo, mas do ponto de vista da grande política, se essa guerra começar, então a China será arrastada para ela e isso pode significar o fim dos EUA, isto é, se Trump decidir por esta guerra… Novamente, se ele não ousar, se ele agir racionalmente, então o confronto com o complexo militar-industrial também será fatal. A situação será tensa, principalmente para Trump, que tenta manobrar entre Scylla e Caríbdis, entre a racionalidade, que o ordena a não guerrear, e o caminho do complexo militar-industrial, o Estado Profundo. A racionalidade será salutar e benéfica para os EUA e, pessoalmente, para Trump, mas ela provocaria um conflito irreconciliável com o agressivo complexo militar-industrial americano, que não permitirá uma solução pacífica e nem uma transição para o realismo geopolítico. Em uma perspectiva racional, não deve haver guerra com a RPDC, porque ela levará e incontáveis e injustificadas baixas e a uma queda brusca no status político americano no mundo. Essa violência será injustificada, totalmente injustificada. Não há como haver vencedores aqui. E, ainda assim, seria menos pior que um conflito nuclear com a Rússia pela Ucrânia ou pela Síria, ao qual o governo alternativo pode levar. Obviamente, isso seria péssimo. Que Trump faça sua escolha…