O assassinato de Soleimani: o tão esperado começo do fim das ambições imperiais da América

Os Estados Unidos estão agora em guerra com o Irã. Não haverá declaração de guerra vinda de nenhum dos lados, mas o assassinato de Qassem Soleimani mudará o conflito entre as duas nações.

Por Philip Giraldi

Os Estados Unidos estão agora em guerra com o Irã em um conflito que poderia ser facilmente evitado e não terminará bem. Não haverá declaração de guerra vinda de nenhum dos lados, mas o assassinato do comandante da Força Quds iraniana, Qassem Soleimani, e do chefe do Kata’ib Hezbollah Abu Mehdi Muhandis através de um ataque de drone em Bagdá, mudará o conflito entre as duas nações. O Irã não pode deixar de responder o assassinato de um oficial militar de alto escalão, embora não possa enfrentar diretamente os Estados Unidos militarmente. Mas haverá represálias e o uso suspeito de proxies por Teerã para realizar ataques limitados agora será substituído por ações mais prejudiciais que podem ser atribuídas diretamente ao governo iraniano. Como o Irã tem recursos significativos localmente, pode-se esperar que toda a região do Golfo Pérsico seja desestabilizada.

E também há a carta na manga do terrorismo, que entrará em jogo. O Irã tem uma diáspora extensa em grande parte do Oriente Médio e, como está sendo ameaçado por Washington há muitos anos, teve muito tempo para se preparar para uma guerra a ser travada em grande parte nas sombras. Nenhum diplomata, soldado ou mesmo turista americano na região deve considerar-se seguro, pelo contrário. Será uma “temporada aberta” para os americanos. Os EUA já ordenaram uma evacuação parcial da Embaixada de Bagdá e aconselharam todos os cidadãos americanos a deixarem o país imediatamente.

Donald Trump chegou à vitória em 2016 com a promessa de acabar com as guerras inúteis no Oriente Médio, mas agora demonstrou muito claramente que é um mentiroso. Em vez de procurar détente, uma de suas primeiras ações foi encerrar o acordo nuclear do JCPOA e reintroduzir sanções contra o Irã. Em certo sentido, o Irã desde o início foi uma exceção ao compromisso de não-agressão de Trump, uma posição que pode ser razoavelmente atribuída diretamente ao seu relacionamento incestuoso com a comunidade judaica americana e, em particular, derivada de seu interesse pelas necessidades expressas pelo primeiro-ministro beligerante de Israel, Benjamin Netanyahu.

Trump tem total responsabilidade pelo que vem a seguir. Os neoconservadores e israelenses estão previsivelmente aplaudindo o resultado, com Mark Dubowitz, da Fundação de Defesa das Democracias, organização pró-Israel, entusiasmado por ser “maior que Bin Laden … um duro golpe para o regime [iraniano]”. Dubowitz, cujas credenciais como “Especialista no Irã” é dúbio, na melhor das hipóteses, está pelo menos um pouco certo neste caso. Qassem Soleimani é, com certeza, carismático e também muito popular no Irã. Ele é a figura militar mais poderosa do Irã e em toda a região, sendo o principal contato de proxies e aliados no Líbano, Síria e Iraque. Mas o que Dubowitz não entende é que ninguém na hierarquia militar é insubstituível. Os assessores e altos funcionários de Soleimani no ministério da inteligência são certamente mais do que capazes de pegar seu manto e continuar suas políticas.

Na realidade, a série de ataques tolos iniciados pelos Estados Unidos na semana passada apenas acelerará a saída de grande parte das forças armadas dos EUA da região. O Pentágono e a Casa Branca têm insistido que o Irã estava por trás de um suposto ataque do Kata’ib Hezbollah a uma instalação dos EUA que desencadeou um ataque de Washington contra alvos de milícias reivindicados na Síria e também dentro do Iraque. Embora a presença militar dos EUA seja a convite do governo iraquiano, Washington continuou seu ataque mesmo depois que o primeiro-ministro do Iraque, Adil Abdul-Mahdi, disse “não”.

Para justificar suas ações, Mark Esper, secretário de Defesa, chegou ao ponto de insistir que “o Irã está em guerra com o mundo inteiro”, uma demonstração clara de quão ignorante é a equipe da Casa Branca. O governo dos EUA, caracteristicamente, não forneceu nenhuma evidência demonstrando o envolvimento iraniano ou do Kata’ib em desenvolvimentos recentes, mas depois que o contra-ataque matou 26 soldados iraquianos, as manifestações em massa contra a Embaixada em Bagdá se tornaram inevitáveis. As manifestações também foram atribuídas ao Irã por Washington, embora as pessoas nas ruas fossem, sem dúvida, iraquianas.

Agora que os EUA também mataram Soleimani e Muhandis em um ataque de drone no aeroporto de Bagdá, claramente realizado sem a aprovação do governo iraquiano, é inevitável que o primeiro-ministro peça às forças americanas que batam em retirada. Isso, por sua vez, tornará insustentável a situação das tropas americanas restantes na vizinha Síria. E também forçará outros estados árabes da região a repensar o acolhimento de soldados, marinheiros, fuzileiros navais e aviadores dos EUA devido à lei das consequências imprevistas, já que agora está claro que Washington iniciou uma guerra tola que não serve aos interesses de ninguém.

O sangue dos americanos, iranianos e iraquianos que morrerão nas próximas semanas está claramente nas mãos de Donald Trump, pois essa guerra nunca foi inevitável e não serviu a interesse nacional dos EUA. Certamente será um desastre, além de devastador para todas as partes envolvidas. E pode muito bem, depois do Afeganistão, Iraque, Síria e Líbia, ser o tão esperado começo do fim das ambições imperiais da América. Espero que sim!

Fonte: https://ahtribune.com/world/north-africa-south-west-asia/iran/3782-end-of-america-imperial-ambitions.html

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Nova Resistência
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