Boicote ao Carrefour: assassinos de animais

O caso do espancamento, envenenamento e morte de um cachorro por um funcionário do Carrefour (não interessa que seja terceirizado) tem causado bastante comoção no Brasil.

Afirmamos que essa comoção é JUSTA.

Considerando que os vídeos do caso já foram liberados, e que já foi possível verificar o procedimento adotado pelo funcionário em questão, não há mais qualquer tipo de dúvida de que este é um caso típico e clássico de que não há limites para a barbárie capitalista.

Porque, sim, o Carrefour é fundamentalmente culpado, diretamente culpado, primariamente responsável.

O veneno e a mortadela não caíram do céu.

O funcionário não trouxe a barra de alumínio de casa.

Ele não tentou matar o animal por, subitamente, ter se decidido a isso.

A política do Carrefour e de TODAS as grandes redes e marcas varejistas é essa.

O que aconteceu foi o cruzamento de um limite dentro do que é o padrão.

Diz-se que tudo começou com a notícia de uma visita de um diretor do Carrefour à loja onde o crime ocorreu.

Visita de diretor de grande rede em loja é quase como visita de monarca a vilarejo medieval.

A política padrão, no caso, adotada pela camada dos gerentes “puxa-saco” é “causar boa impressão” no semideus que se aproxima.

Funcionários são postos para trabalhar além da hora e sem hora-extra; gente é posta para trabalhar fora de sua função; tudo é “maquiado” para dar a impressão de um funcionamento perfeito.

Os gerentes recebem o diretor servilmente, com mil genuflexões, e para cada genuflexão, dez mil chibatadas nas costas dos trabalhadores, obrigados a ficar além da hora até quando já bateram o cartão.

E se houver um cachorro vira-lata ficando ali pela loja?

Bem, “assim não dá”.

“Não pode”.

O que será que o semide…quer dizer, o diretor vai pensar se houver um vira-lata na frente da loja?

Tem que se livrar dele. Bem, aquela loja do Carrefour conseguiu se livrar do cachorro.

Mas não parece que a direção nacional e internacional do Carrefour vai ficar muito feliz com isso.

A comoção popular é grande e ela é justa.

Muita gente fala em boicotar o Carrefour e esperamos que essas promessas se cumpram, e não que se esvaiam na primeira promoção de Natal que essa marca vier a anunciar.

Mas eis que surge a direita brasileira para proteger o Carrefour.

Agora que a direita chegou ao poder, ela se tornou a “bombeira do Sistema”, papel assumido pela esquerda nos últimos anos.

Segundo a direita, a culpa não é do Carrefour, é exclusivamente do funcionário.

Bem, nossa argumentação acima já demonstrou o elo incontornável entre a práxis gerencial do Carrefour e a morte do cachorro.

Mas não para por aí.

O Carrefour é uma empresa vil em geral.

E ela devia ser, realmente, boicotada, ainda que não tivesse matado cachorro algum.

Aproveitemos, então, para acrescentar razões para se boicotaer ao Carrefour, para todas as pessoas que pensam em aderir.

Em primeiro lugar, a expansão dos supermercados é, de modo geral, ruim para a economia, para a liberdade de mercado e para o bem-estar das comunidades.

Para cada supermercado que abre, fecham vários açougues, quitandas, padarias, e dezenas de outros tipos de pequenas lojas especializadas, que historicamente são o âmbito de prosperidade das classes médias.

Incontáveis trabalhos acadêmicos já demonstraram os efeitos economicamente nocivos da expansão de redes como WalMart e Carrefour ao redor do mundo.

Em troca dos empreendimentos de classe média que fecham, os empregos que as grandes redes varejistas de supermercados oferecem são em menor número e de baixa renda.

Nos EUA, funcionário de WalMart depende de “food stamps” para sobreviver.

A fuga de capital também é grande.

A maior parte do capital gasto em pequenos empreendimentos comerciais locais, ou seja, nas padarias, nos açougues, etc., tende a ficar no local.

São usados para consumir outros serviços locais.

É um efeito cascata.

Um estudo acadêmico americano provou que 100 dólares gastos em uma loja local geram 60% mais atividade econômica do que 100 dólares gastos em uma grande rede.

Acrescente-se o fato de que o Carrefour não é apenas uma grande rede de supermercados, mas uma instituição internacional.

O dinheiro gasto no Carrefour não está só saindo da comunidade em que uma determinada loja se localiza.

É DINHEIRO SAINDO DO PAÍS.

Comprar no Carrefour, portanto, é ajudar a garantir que o Brasil continuará sendo um país de terceiro mundo.

Leve-se em consideração, ademais, que os supermercados constituem oligopólios com pretensões e tendências monopolistas.

Quanto mais os supermercados crescem, mais poder de determinar preços eles têm e, portanto, menos liberdade o consumidor possui, menos livre o mercado é.

Essas redes de supermercados também constituem monopsônios, a contraparte dos monopólios.

Monopsônio é o que acontece quando os fornecedores de um determinado bem ou serviço passam a ter apenas um comprador.

O dano causado aos pequenos empreendimentos lojistas se estende aos pequenos produtores.

A título de evidência, observe-se que, esse ano, foi noticiado que o Grupo Carrefour está sondando o Grupo Pão de Açúcar para uma possível fusão.

Mais alguns passos serão dados na direção de um monopólio megavarejista.

O poder econômico das grandes redes de supermercados retiram incontáveis padeiros, açougueiros, leiteiros e verdureiros do mercado, bem como agricultores, pecuaristas, queijeiros e tudo mais.

As grandes redes varejistas constituem um exemplo clássico da chamada “tirania das pequenas decisões”.

Consumidores acham que comprar nas grandes redes é melhor por causa dos preços e por ser mais prático ir a um só lugar, para comprar tudo, do que ir a dez lugares diferentes, mas o efeito acumulado disso é desastroso para a economia.

Observe-se que, enquanto a economia do país afunda, o lucro do Carrefour em 2017 foi de 1.7 bi, o maior na história dessa empresa no Brasil.

A economia melhorou junto?

A título de informação, os três maiores acionistas do Carrefour global são o Grupo Arnault, o Grupo Motier, o Fundo de Investimentos Colony, e em quarto lugar vem o sionista brasileiro Abílio Diniz.

Focando ainda no caso específico do Carrefour, é público e notório que trata-se de uma empresa cujos diretores não possuem o menor escrúpulo.

-Em 2002, uma CPI comprovou que diversas unidades do Carrefour faziam receptação de mercadoria roubada, participando assim na rede de criminalidade;

-Em 2012, o Carrefour foi condenado a 1 milhão em danos morais por fraudar o registro de jornada de seus funcionários (os funcionários eram obrigados a bater ponto e depois voltar a trabalhar);

-Também em 2012, o Carrefour foi condenado a 1 milhão por assédio moral contra operadores de caixa;

-Em 2013, o Carrefour foi obrigado a pagar 20 milhões em uma ação coletiva do MP por desrespeitar normas de saúde do trabalho.

Diversos funcionários, de inúmeras unidades, desenvolveram lesão por esforço repetitivo por serem submetidos a trabalho extenuante e repetitivo. Além disso, seus funcionários trabalhavam sem equipamento de proteção;

-Mais recentemente, em 2017, o Carrefour foi proibido de limitar e impedir o uso de banheiro por seus funcionários.

Faltava apenas o Carrefour fazer como a Amazon e orientar que seus funcionários usassem fraldas para não ter que usar o banheiro.

E esses são apenas alguns poucos casos, os primeiros que aparecem em uma busca rápida na internet sobre processos, multas e investigações envolvendo o Grupo Carrefour.

Pesquisas feitas sobre o Carrefour Global mostram, ainda, que fraudar preços e propaganda enganosa são práxis comum no exterior.

Ou seja, sim, devemos boicotar o Carrefour.

O Carrefour é responsável pela morte cruel de um cachorro, e tudo por causa da mentalidade gananciosa e materialista que o permeia.

Mas também porque o Carrefour (tal como outras redes varejistas) é ruim para a economia, é ruim para o trabalhador brasileiro, é ruim para o pequeno comerciante, é ruim para o pequeno produtor, enfim, é ruim para o Brasil.

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