O PT é liberal e Haddad é o mais liberal dos petistas

É inadmissível que o PT pretenda retornar ao governo sem realizar nenhuma auto-crítica, por menor que seja, de sua passagem pelo Palácio do Planalto. O partido governou por 13 anos o país e não arranhou a estrutura desigual e liberal em que vivemos: tivemos uma economia ortodoxa, desindustrializante, que só gerava empregos de baixa qualificação, com um programa social tributário de Milton Friedman, com terceirização ferrenha de serviços públicos, e em aliança com os setores mais pútridos das oligarquias brasileiras — que transformaram o país no paraíso da corrupção sistêmica. E aí o PT, como quem não é nem com ele, pretende voltar à Presidência como se nada disso tivesse acontecido e por meio de uma candidatura absurdamente fake. O PT é o maior inimigo do país.

O que quer que tenha havido de positivo materialmente em seu período no governo se deve de forma quase exclusiva ao boom das commodities, na qual o país surfou e que não foi utilizada para financiar uma reindustrialização de alto nível.

O Partido dos Trabalhadores pode ser muito bem acusado de um “esquerdismo de goela”. É um epíteto perfeito pro governo PT e seus apoiadores, por mais de uma razão. A primeira e mais importante é que os petistas sempre fizeram um governo liberal quando no Palácio do Planalto.

Os governos do “esquerdismo de goela” sempre mantiveram uma arquitetura econômica liberal, ortodoxa, com um abraço sincero ao tripé macroeconômico estabelecido por Armínio Fraga. Um governo propício ao cartel de banqueiros que mantém lucros imensos no país, mesmo durante a maior recessão da história da Nova República, à financeirização da economia e, consequentemente, ao rentismo.

A arquitetura econômica do petismo acelerou a desindustrialização do Brasil. Aceitamos uma nova divisão internacional do trabalho em que nos incluímos como exportadores de “commodities” (a saber: carne, soja, minério de ferro, óleo cru, placas de aço). Em troca, importamos até trigo para fazer pão. Vergonhoso. Somos obrigados a ficar olhando o câmbio para saber se o preço do pãozinho vai aumentar — isso em um país que tem o tamanho de um continente. Importamos até derivados simples de petróleo.

Esse é o país do Partido dos Trabalhadores, aquele que nasceu nos sindicatos de metalúrgicos do ABC paulista. Um país sem indústria e que vende carne e soja para manter o consumismo que os governantes petistas propagandeiam para as classes populares como sinônimo de “boa vida”. Não é à toa que o PT foi dizimado politicamente nas cidades do ABC paulista, que não aguentam mais as políticas desindustrializantes com que os “esquerdeiros de goela” se abraçam.

O “esquerdismo de goela” é, na verdade, neoliberalismo na veia. É expansão de empregos de baixa qualidade no setor de serviços, divulgação de um consumismo insustentável (por causa do déficit nas contas correntes, já que exportamos soja para comprar chips de computação) como sinônimo de “ascensão de classe”, domínio da economia por um cartel de bancos, financeiras e fundos de investimentos.

Em troca, o governo sustenta paradas gay na Avenida Paulista e na praia de Copacabana, ou “marchas das vadias” ou pela liberação da maconha.

Vejam vocês: os banqueiros lucrando os tubos com uma economia que só se desindustrializa e gera empregos de baixa qualificação, os serviços públicos de saúde e educação sendo privatizados e terceirizados, o sistema tributário inteiro nas costas dos mais pobres (enquanto ricos ficam isentos de impostos), o narcotráfico se expandindo até por setores da administração pública e ocasionando mais de 60 mil homicídios por ano….

Mas o governo é de “esquerda” porque a classe média pode fazer um “maconhaço”, um “abortinho” para compensar aquela noite muito doida, uma marchinha das “vadias”, mostrando os seios no meio da rua, uma carnaval gay nas principais metrópoles em alguns dias do anos.

É o “esquerdismo de goela”, que se chama de “sociedade neoliberal”. Ópio pro povo, para que ele esqueça que não tem saúde, não tem educação, não tem moradia, não tem transporte, não tem emprego, não tem soberania, não tem coisa alguma, e tem de tomar cuidado para não levar uma bala na cabeça enquanto fica no engarrafamento para chegar no trabalho.

Este é o epíteto perfeito para o novo FHC, de sobrenome Haddad. O sociólogo Jessé de Souza já tinha aventado algo parecido, se referindo à “esquerda de Oslo”, aquele pessoal que acha que a pauta de esquerda aqui no Brasil tem de ser a da Noruega, como se o país não tivesse outras prioridades. Mas “esquerdismo de goela” ou “de gogó” é ainda melhor.

E Haddad? Um farsante. Ele finge que quer ser Presidente da República, quando na verdade vai ser primeiro ministro de Lula. Ele finge que acredita que o país sofreu um golpe, quando na verdade já declarou que considera a “palavra muito dura”, e que o Judiciário é neutro, “embora sujeito a erros”. Ele finge que vai aplicar um projeto desenvolvimentista quando o que quer mesmo é um Ministro da Fazenda ortodoxo, um neoliberal no Banco Central e já andou dizendo que não vai revogar o “teto dos gastos inteiro”. Ele finge que é socialista quando na verdade gosta mesmo é de bundaço e maconhaço. Ele é uma farsa, que aceitou a bizarrice de ser vice, sabendo que Lula não poderia se candidatar. Ele finge ser contra a Globo, quando partilha DA MESMA IDEOLOGIA da empresa dos Marinhos.

O novo Fernando, chamado Haddad, já deixou claro em plena campanha que vai fazer um governo centro-liberal.

Depois de piscar os olhinhos para o economista liberal Marcos Lisboa, depois de iniciar namoro com o PSDB, já está conversando com “os empresários” sobre as “Reformas”.

Ele está tranquilizando os “empresários” (leia-se FIESP), que não pretende mexer no jogo, que podem confiar nele. A mesma FIESP golpista que contribuía para as manifestações anti-Dilma e proporcionou o símbolo do “pato”. A mesma FIESP que patrocinou a Reforma Trabalhista de Temer.

Esse aí é o novo “Fernando”, que os petistas alucinados, os iludidos e os idiotas úteis pensam que vai fazer um “governo de esquerda”, mas que está esfregando na cara de todo mundo as mesmas alianças com o fisiologismo pútrido brasileiro, está de mãos dadas com o Geraldo Alckmin para salvar o PSDB, e está acenando para os liberais para acalmá-los — porque o governo dele não vai ter nada que ver com o que o programa que ele divulgou, de fato, diz.

Vejam que ele já se afastou do Pochmann, um economista desenvolvimentista que andou dizendo que a Reforma da Previdência não é exatamente uma prioridade. Bom neoliberal que é, que já tentou aliança até com Paulo Guedes como noticiado na grande mídia, Haddad não gosta de desenvolvimentismo.

Então está aí o candidato que pretende se “contrapor” ao Paulo Guedes e ao Bolsonaro. Ele quer fazer isso cumprindo o programa liberal do PSDB e da FIESP. Ele não sabe de fato nem se vai para o segundo turno, mas já está esfregando na cara de todo mundo quem ele realmente é: o novo Fernando, chamado Haddad.

Para quem desejou tanto a mudança, tanto a transformação da política do país, ou mudanças sociais profundas etc., Haddad é o pior dos três candidatos ainda com chances de vencer essas eleições.

Disparado o pior.

A testa de Haddad está agora adornada com um adesivo onde se lê: CONTINUIDADE.

É a continuidade do monetarismo, do tripé macroeconômico do Armínio Fraga, da desindustrialização, do MDB na base do governo, do paulistocentrismo da política nacional, dos cosmopolitismo, da terceirização dos serviços públicos, do lulismo, da crise e da polarização política.

Haddad é o candidato do Sistema.

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André Luiz dos Reis

 

 

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3 comentários

  1. Nesses últimos 30 anos, o esquerdismo se preocupou em falar da presidência da República, quando o poder está em ter acesso às leis mais profundas. Não haverá de haver emancipação social e tecnológica, sem que ala social tenha acesso à capacidade de legislar. A chamada esquerda é rica em anacronismo e é conservadora. Sergio Govea. ..

  2. Estamos em apuros com esse futuro governo. Ao contrário de Dilma, sequer poderemos acusar Haddad de estelionato eleitoral, visto que o poste claramente diz a que veio: implementar um governo ainda mais neoliberal.

    Não passa de um FHC sem o “C”.

    FORA HADDAD! FORA PT!

  3. Haddad não é muito diferente da Batata Amaral! As únicas diferenças é que ele não obedece a um mega empresário como o Jorge Paulo Lehmann e não declarou apoio a reforma da previdência! E ele deu aula em um lugar tão burguês quanto a Fundação Lehmann (Insper) e e defende a autonomia do Banco Central! Se isso não é ser neoliberal eu não sei mais o que é!

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