A PEC da Morte está COLAPSANDO o Brasil

“Todos que por aqui passem protejam esta laje, pois ela guarda um documento que revela a cultura de uma geração e um marco na história de um povo que soube construir o seu próprio futuro”.

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Simplesmente não há palavras pra explicar a tragédia que acometeu o país hoje, com a destruição do Museu Nacional, localizado na Quinta da Boa Vista, bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro.

A fundação da instituição se confunde com a do nosso Estado. Ela fica no centro da memória do Império, em pleno Palácio Imperial, residência oficial dos Imperadores no século XIX.

As chamas consumiram a maior instituição de História Natural e Antropologia da América Latina. Sua coleção de mineralogia, paleontologia — com fósseis raras de dinossauros —, de Botânica — parte da qual pode ter sido salva, pois funciona em prédio separado na própria Quinta da Boa Vista — e de Antropologia da África, da América Pré-Colombiana, dos povos indígenas brasileiros, etc., não tem paralelo no nosso continente.

Tínhamos ali coleções raríssimas da Antiguidade do Mundo Mediterrâneo: gregas, etruscas e — joia das jóias — egípcias. Múmias do Egito Antigo, dos Andes, artefatos do Pacífico, fósseis dos primeiros habitantes do nosso território.

Trata-se também de uma das maiores instituições científicas do país. A maior parte de sua biblioteca, que contém milhares de obras absolutamente únicas no sentido preciso do termo, deve estar a salvo — queira Deus! —, porque funciona também em prédio separado, na mesma Quinta da Boa Vista.

O Museu não era só centro de memória e pesquisa, era parte da História do país, um dos seus maiores símbolos culturais, e orgulho de todo brasileiro minimamente educado. Era acessível, popular, entrada gratuita depois de certo horário, como deve ser toda instituição desse calibre, totalmente pertencente à população.

Por mais que se gaste grana pra reconstruí-lo, ele jamais poderá ser recuperado. Não importa quantas promessas vão ser feitas agora, quantos projetos vão ser montados, quanto vai ser gasto.

A destruição do Museu Nacional é o sinal mais evidente do fim das possibilidades da civilização brasileira. Não seria possível punição maior para o país do que a perda de uma instituição desse porte, com toda essa simbologia e qualidade. É como se apunhalassem o coração do país, ou como se lobotomizassem o organismo da nação.

É como se houvessem lançado uma bomba atômica sobre a memória histórica do país.

Não é o primeiro incêndio em um museu ou centro de pesquisa importantes. O Museu da Língua Portuguesa, o Instituto Butantã e a Fiocruz também já pegaram fogo. Ficamos nos perguntando qual será a próxima vítima do descaso e dos cortes de investimento.

O Museu Nacional já vinha sofrendo cortes desde o segundo mandato do governo Dilma e já sofria com descaso há décadas. Mas a última pá de cal foi lançada pela famigerada PEC do Teto de Gastos. Muita gente avisou. Não faltou gente para dizer que era impossível manter um país de pé com uma medida dessas, inaudita entre as nações civilizadas.

Mas não adiantou. A sanha liberal e rentista do governo conseguiu que a PEC do Teto de Gastos fosse aprovada. A partir de então, o Brasil se dedicaria de forma quase exclusiva à rolagem da dívida, à satisfação dos interesses rentistas. O resto? Bem, se sobrasse dinheiro…

De um orçamento de mais 500 mil reais, que já é microscópico, o Museu Nacional, esse ano, só havia recebido 1/10 do valor até quase a metade do ano. Em 2018, portanto, o Museu Nacional recebeu o mesmo que recebe um juiz do STF. E um juiz recebe, ao ano, o mesmo que o MUSEU NACIONAL deveria estar recebendo. Mas salário de juiz não atrasa.

Enquanto isso, a arrecadação privada para garantir as exibições do Queermuseu ultrapassaram o dobro do orçamento anual do Museu Nacional. Quais são as prioridades culturais de nossa elite? “Criança gay” parece ter mais importância e um lobby muito mais forte do que múmias milenares, fósseis raríssimos, pinturas inestimáveis e documentos únicos da história de nosso país.

O Museu Nacional até tentou uma “vaquinha” também. A arrecadação foi de pouco mais de 50 mil reais. Menos de 1/10 do arrecadado para o Queermuseu.

Como afirmamos, é como se uma bomba atômica tivesse arrasado a história nacional, e de pé sobrassem apenas os projetos de engenharia social do progressismo liberal. Fora com os meteoritos, e que venham mais exposições sobre travestis infantis e insultos às religiões tradicionais.

Essas são as consequências da apologética do Estado Mínimo e da penetração do pensamento liberal em nosso país. É só o começo. O colapso do Brasil seguirá se intensificando. Por mais que a situação pareça péssima agora, ela ainda vai piorar. Todas as promessas de recuperação econômica eram falsas. O Brasil está trilhando os mesmos caminhos que a Argentina de Macri trilhou.

No momento das “políticas de austeridade”, as primeiras vítimas são sempre as instituições culturais e educacionais, vistas como supérfluas. Em um país em que candidatos falam seriamente em extinguir o Ministério da Educação e o Ministério da Cultura, ou que cidadãos acham razoável pensar em acabar com o ensino de disciplinas das Ciências Humanas, que outro resultado se poderia esperar? Que esperança há para um país onde hordas de zumbis começam a culpar a Lei Rouanet ou a UFRJ pelo incêndio?

A Lei Rouanet não é um bicho-de-sete-cabeças, mas parte do povo brasileiro (a parte que compra toda a bobajada da direita) parece não ter entendido que os alvos de investimentos da Lei e as fontes de recursos vêm da iniciativa privada.

A UFRJ implora por verbas há anos. Ela própria já foi vítima de incêndio, no próprio prédio da reitoria, esse ano. A UFRJ sofre com o projeto privatista do governo neoliberal, que corta verbas para sucatear a educação e depois começa a propagar debates sobre privatização das universidades (e usa o FIES como tapa-buraco enquanto isso).

Do Brasil, só sobram as ruínas.

As perdas do Museu Nacional são irrecuperáveis. Todos os que falam em recompôr o acervo, mentem. Ele não pode ser recomposto. Quem fala em investir é hipócrita. Por que não investiram antes?

Sobrou de pé a estátua de Dom Pedro II, amante do saber, sob cuja tutela parte considerável do acervo foi amealhado. Entre as ruínas sua estátua aguardará vigilante que o povo brasileiro se reerga dessa tragédia e desperte para a realidade de nossa escravidão atual. E que a partir disso, assuma a responsabilidade da Ressurreição Nacional, para a qual a compreensão das próprias raízes é indispensável.

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