A vingança de Michael Kohlhaas, uma alegoria nacional-revolucionária.

Por Mateus Pereira

“A vingança de Michael Kohlhaas” (1810), do escritor prussiano Heinrich Von Kleist, talvez seja a novela mais fundamental da literatura alemã, mais até que “A metamorfose”, e de certo uma das grandes da literatura ocidental. Está ali lado a lado com “Coração da trevas”, do polonês Joseph Conrad, e “Bartleby, o escrivão”, de Melville.

Retrato vultoso da incendiária fúria revolucionária contra a injustiça e a burocracia do estado, o texto narra a trajetória de um simples comerciante de cavalos que, quando paralisado por trâmites alfandegários em seu comércio local, se transforma em um inclemente chefe bandoleiro em busca de justiça, espalhando terror, caos e pânico por toda a Prússia.

Ele, um simples negociante de cavalos, um dia precisa passar com seus animais pela propriedade do junker Von Tronka. Mas é surpreendido pela informação de que precisa de um salvo-conduto para prosseguir. Seus cavalos são arbitrariamente apreendidos na fronteira e Kohlhaas, quando volta para busca-los, percebe que eles estão pele e osso, completamente fatigados e esgotados, para nada mais servindo. Em busca de uma justificativa e também de uma reparação que nunca vem, ele se depara com o brutal nepotismo prussiano e com o poder inalcançável dos senhores feudais da região, que impiedosamente desprezam sua queixa e o ignoram como um rato. Kohlhaas não consegue seus animais de volta, mesmo apelando para lei, que parece escrava de von Tronka, completamente submissa ao seu poder.

Revoltado, Kohlhaas decide fazer justiça com as próprias mãos, criando uma espécie de grupo guerrilheiro, e incendeia vilas e pequenas aldeias, chamando a atenção dos chefes locais e até de líderes intelectuais importantíssimos como Martinho Lutero, que escreve um tratado inflamado contra suas atitudes de violência.
O protagonista é claramente uma profecia em carne e osso, puro e verdadeiro, do homem revolucionário do século XX, dos anjos da História que varreram as poeiras reacionárias da face do planeta com suas asas resplandecentes e vistosas!

É a obra de um visionário e certamente um dos mais belos tratados jamais escritos sobre os efeitos devastadores da injustiça no seio do povo.

Kleist é um autor que precisa ser redescoberto no Brasil. Ele é pouco lido e pouco falado por aqui, mas é um escritor de inegável talento, o típico gênio alemão.

Seu leitor mais famoso foi Frank Kafka, que dizia ser seu “parente de sangue”. E, de fato, percebe-se grande influência de Kleist sobre ele. Alguns críticos dizem que Kleist o antecipou com sua prosa menos palavrosa e mais direta, com seu interesse pelos nós da lei, pela areia movediça do direito e pelo absurdo das relações humanas.

Um texto fundamental para qualquer, e não só, militante nacional-revolucionário!

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Nova Resistência
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