A decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 25% sobre todos os veículos produzidos fora de seu território desencadeou uma onda de reações políticas e econômicas ao redor do globo.
A medida, anunciada pelo presidente Donald Trump, tem como objetivo declarado favorecer a reindustrialização americana e proteger as montadoras locais, mas o custo político e econômico da decisão já se mostra elevado.
As tarifas impostas pelo governo Trump sobre veículos importados, especialmente a tarifa de 25% anunciada recentemente, têm implicações significativas para o Brasil, afetando tanto as exportações de aço e ferro quanto o comércio automotivo entre os dois países.
O Brasil é um dos principais fornecedores de aço para os Estados Unidos, representando 47,9% das exportações brasileiras desse setor. Com as novas tarifas, espera-se uma redução na demanda por aço brasileiro, o que pode impactar negativamente a balança comercial do país. Além disso, empresas brasileiras como a Gerdau, que possui 11 plantas de produção nos EUA, podem enfrentar desafios adicionais devido a essas políticas protecionistas.
Em visita oficial ao Japão, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva manifestou preocupação com a escalada protecionista:
“O realismo está sendo derrotado. O livre comércio está sendo prejudicado.”
Em 2024, as importações brasileiras de automóveis de passageiros cresceram 43,2%, totalizando US$ 8,3 bilhões, com destaque para um aumento de 201,3% nos veículos importados da China. Embora a China tenha se tornado um fornecedor significativo, os Estados Unidos continuam sendo um parceiro comercial relevante no setor automotivo. No entanto, as exportações brasileiras de veículos para os EUA são menos expressivas em comparação com as importações.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou as tarifas impostas pelos EUA, argumentando que elas prejudicam o livre comércio e podem ter efeitos adversos tanto na economia americana quanto na global. O Brasil está considerando medidas como apresentar queixas à Organização Mundial do Comércio e implementar tarifas recíprocas.
Diante desse cenário, é essencial que o Brasil busque diversificar seus mercados de exportação e fortaleça parcerias comerciais para mitigar os impactos das políticas protecionistas adotadas pelos Estados Unidos.
O impacto imediato foi diplomático em nivel global não tardou. O novo primeiro-ministro canadense, Mark Carney, convocou seu gabinete para formular uma resposta. Já a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, classificou as tarifas como
“ruins para os negócios e piores ainda para os consumidores”.
Bruxelas prometeu retaliar, caso Washington siga adiante.
Trump reagiu no mesmo tom, prometendo contra-retaliações ainda mais duras, elevando o risco de uma guerra comercial generalizada. A China adotou um discurso mais cauteloso, mas não menos incisivo: denunciou a medida como uma violação das normas da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A reação dos mercados financeiros foi imediata e negativa. As ações da General Motors caíram 7% apenas na quinta-feira subsequente ao anúncio. Ford e Stellantis registraram perdas médias de 3%. Os países mais impactados — México, Japão, Coreia do Sul, Canadá e Alemanha exportaram juntos US$ 474 bilhões em veículos para os EUA no último ano.
Especialistas apontam que, ao afetar diretamente cadeias produtivas complexas e globalizadas, a medida pode ter consequências profundas. Modelos fabricados parcialmente nos EUA e parcialmente no exterior, como veículos da GM ou picapes da Ford, enfrentam incertezas sobre quais componentes serão tarifados uma vez que estes veículos acabam sendo montados com itens produzidos em outros países em suas unidades no exterior, os quasi seguem para os EUA e são finalizados em suas linahs de produção.
Como resumiu uma analista econômico Jin Yen, consultado pelo Plano Brazil:
“Nem a indústria americana sabe precificar o impacto.”
Embora o Brasil não seja um dos principais exportadores de veículos para os EUA, entrou no radar da Casa Branca por outros motivos. Um levantamento feito pelo USTR (Representante de Comércio dos EUA) identificou diversas barreiras e políticas públicas brasileiras como alvos de queixas do setor privado americano, entre elas:
- Juros subsidiados via linha Finame Baixo Carbono;
- Adicional ao frete para renovar a Marinha Mercante;
- Barreiras fitossanitárias ao milho americano;
- Cotas de conteúdo nacional para filmes e séries;
- Taxação sobre plataformas de streaming (Condecine);
- Demoras no registro de patentes farmacêuticas;
- Regulamentações emergentes sobre inteligência artificial.
O conjunto dessas críticas revela que o Brasil pode ser alvo de novas pressões tarifárias ou negociações forçadas. Conforme sintetizou um analista.
“Entramos na mira das empresas americanas”
Com a ausência de diretrizes claras sobre o escopo e a aplicação das tarifas como, por exemplo, se autopeças também serão incluídas e quais segmentos serão afetados montadoras e investidores vivem dias de especulação. Consultores do setor relatam dificuldade até para montar planilhas de custo.
“A única certeza que posso lhe dar é que o custo vai subir, a rentabilidade cair e as vendas devem desacelerar em nível global afetando mais diretamente a própria economia Americana”
Nesse cenário, as previsões de recessão para a economia americana começam a ganhar força, impulsionadas pela queda nas ações e pela deterioração da confiança dos investidores.
“Já podemos escutar o rufar dos tambores da mais poderosa guerra comercial de todos os tempos, mas o movimento americano parece não ser feito por bons estrategistas”
A rigidez das novas tarifas sobre os automóveis, apresentada como permanente por Trump, dificulta qualquer tentativa de negociação multilateral. Mas pode-se dizer esperar que o governo americano pode recuar internamente para reduzir os impactos sobre suas próprias montadoras e evitar demissões em massa. Apesar do cenário tenso, há tentativas de articulação por parte do setor privado, que busca evitar o agravamento da crise.
Muitas das queixas americanas se referem a questões regulatórias e não ao comércio direto de bens um sinal de que há espaço para ajustes e mediação.
A nova rodada de tarifas sobre automóveis pode ser o estopim de uma guerra comercial prolongada. Embora ainda existam caminhos diplomáticos e técnicos para negociação, o tom beligerante adotado por Washington, somado à rigidez das medidas e às reações defensivas dos parceiros comerciais, criam um ambiente altamente volátil.
A comunidade internacional, ao que tudo indica, assiste à consolidação de uma era de protecionismo explícito e desconfiança multilateral, um cenário que promete redefinir as relações econômicas globais nos próximos anos.
Percentuais do novo programa de tarifas dos EUA:
10% — Tarifa base sobre todos os bens importados de todos os países do mundo. Na realidade, para muitos países, será maior.
25% — Em todos os carros importados, a partir de 3 de abril.
Ao mesmo tempo, ele apresentou uma tabela com novas tarifas sobre importações de diferentes países:
▫ China — 34%
▫ União Europeia — 20%
▫ Vietnã — 46%
▫ Taiwan — 32%
▫ Japão — 24%
▫ Coreia do Sul — 25%
▫ Tailândia — 36%
▫ Suíça — 31%
▫ Indonésia — 32%
▫ Malásia — 24%
▫ Camboja — 49%
▫ Reino Unido — 10%
▫ África do Sul — 30%
▫ Brasil — 10%
Tabela de Tarifas Recíprocas
País | Tarifas cobradas aos EUA | Tarifas recíprocas com desconto (EUA) |
---|---|---|
Peru | 10% | 10% |
Nicarágua | 36% | 18% |
Noruega | 30% | 15% |
Costa Rica | 17% | 10% |
Jordânia | 40% | 20% |
República Dominicana | 10% | 10% |
Emirados Árabes Unidos | 10% | 10% |
Nova Zelândia | 20% | 10% |
Argentina | 10% | 10% |
Equador | 12% | 10% |
Guatemala | 10% | 10% |
Honduras | 10% | 10% |
Madagascar | 93% | 47% |
Mianmar (Birmânia) | 88% | 44% |
Tunísia | 55% | 28% |
Cazaquistão | 54% | 27% |
Sérvia | 74% | 37% |
Egito | 10% | 10% |
Arábia Saudita | 10% | 10% |
El Salvador | 10% | 10% |
Costa do Marfim | 41% | 21% |
Laos | 95% | 48% |
Botsuana | 74% | 37% |
Trinidad e Tobago | 12% | 10% |
Marrocos | 10% | 10% |
Fontes
- AS TARIFAS DE TRUMP E OS IMPACTOS PARA A INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA, Autoentusiastas, Link
- Brazilian firms tout U.S. plants, leaning into Trump trade wars, Reuters, Link
- IMPORTAÇÃO DE AUTOMÓVEIS CRESCEU 43% EM 2024. E 201% ENTRE OS CARROS CHINESES, Agência DC News, Link
- Brazil still open to tariff negotiations ahead of expected US announcement, Reuters, Link
- Brazilian President Lula swipes at Trump as US imposes auto tariffs, AP News, Link