As condições de saúde do Presidente Lula despertam preocupação nas fileiras da esquerda. A esquerda tem futuro sem Lula?
O que mais chamou a atenção quando da internação de Lula nos últimos dias foi a inquietude da esquerda brasileira. É que mesmo acreditando nas notícias tranquilizadoras dos médicos, ela foi forçada pelas circunstâncias a encarar o horizonte da finitude.
Sejamos honestos: Lula tem 79 anos de idade, já teve câncer, está na fase da vida em que quedas são comuns e perigosas e teve o crânio aberto para uma cirurgia por causa de uma hemorragia cerebral. Mesmo com todo otimismo do mundo, obviamente todos os seus apoiadores ficaram preocupados.
E após a preocupação imediata pela saúde do Presidente, veio a preocupação mais distante pelas eleições de 2026. Afinal, Lula insiste que ele será o candidato à Presidência. Mas ele tem condições? E se não tiver, então o que será do PT e da esquerda em geral?
Convenhamos, em boa parte do Brasil, os votos em Lula não são votos “na esquerda”, mas na pessoa individual do Lula. Isso é típico de líderes carismáticos (vale o mesmo para Bolsonaro). A adesão a Lula se dá em um nível de magnetismo pessoal, por processos subracionais, nos quais se encontra uma identificação que supera questões programáticas e ideológicas. Para confirmar isso basta analisar o fenômeno do voto nordestino em Lula: trata-se praticamente de um voto identitário pelo qual pessoas conservadoras ignoram as pautas progressistas do PT em prol de uma identificação puramente subjetivista.
Assim sendo, morrendo Lula, como fica a esquerda brasileira? Quem elas poderiam colocar no lugar de Lula para exercer o mesmo efeito?
Fala-se em Fernando Haddad, Guilherme Boulos, Rui Costa, Camillo Santana, João Campos e ainda vários outros nomes. Há até quem, a sério, cogite o nome do Flávio Dino.
Tirando o fato de que alguns desses, como Haddad e Boulos, são notórios fracassados no âmbito eleitoral, nenhum tem o mesmo carisma magnético do Lula. Alguns desses até possuem um forte carisma, mas que parece adstrito à sua região (ainda é cedo para dizer, mas pode ser o caso do João Campos, que disputa onde a sua família tem influência há mais de 100 anos).
Excluído o carisma, operam outros interesses, e aí parte do eleitorado de Lula pode migrar, inclusive, para candidatos do centrão ou mesmo da direita. Não seria nada surpreendente se isso acontecesse. De fato, há algumas enquetes recentes que indicam que aproximadamente 15% dos eleitores do Lula não votariam em nenhum desses possíveis substitutos já conhecidos.
O dilema da esquerda não é exclusividade sua, naturalmente. No mesmo sentido, não sabemos como a direita lidará com a provável ausência de Bolsonaro nas próximas eleições presidenciais, mas a direita aparenta ter um leque de opções um pouco maior em comparação com a esquerda.