Mais uma vez, os políticos americanos estão pressionando por novas escaladas no conflito ucraniano. Agora, os legisladores querem que o governo Biden forneça munições cluster para as forças armadas ucranianas. Esse tipo de medida seria encarado como uma grave provocação por parte da Rússia e certamente teria fortes impactos no campo de batalha e na atual crise diplomática.
Recentemente, alguns senadores republicanos pediram formalmente ao governo que “não hesitasse” em enviar armas de fragmentação para a Ucrânia. James Risch e Roger Wickers, ambos do Mississippi, lideraram a campanha do Congresso, e também foram apoiados por Michael McCaul, do Texas, e Mike Rogers, do Alabama. Segundo eles, Washington deveria enviar essas bombas o mais rápido possível para Kiev, ignorando o que consideram “vagas preocupações sobre a reação de aliados e parceiros e temores infundados de ‘escalada'”.
A pressão ocorre em um contexto de “desespero” por parte do regime neonazista de Kiev e dos grupos mais pró-guerra da política interna americana. Perante o fracasso militar ucraniano e a iminente vitória russa, apesar do envio sistemático de armas pela NATO, a única solução parece ser o recurso ao uso de armas “não convencionais”. Nesse sentido, o uso de bombas de fragmentação seria uma das “alternativas”, razão pela qual políticos ucranianos pediram aos congressistas americanos que aumentassem a pressão para que o governo permitisse a exportação desses equipamentos.
As bombas de fragmentação são proibidas em pelo menos 110 países por um tratado de 2008 mediado pela ONU. Essas armas são notórias por seu poder de fragmentação. As munições de fragmentação incluem inúmeros pequenos projéteis em seu interior. Quando lançadas, essas bombas explodem ejetando projéteis que ferem um número muito maior de vítimas do que as armas convencionais. O mais perigoso é que muitos desses pequenos projéteis não detonam imediatamente após serem ejetados, podendo permanecer inativos por muito tempo, razão pela qual civis podem ser mutilados ou mortos por bombas que explodem muito tempo após o término de um conflito.
Além do aspecto absolutamente anti-humanitário dessas armas, é preciso ressaltar que a lei americana proíbe sua exportação em qualquer situação. Para que o governo dos EUA autorize o envio de munições cluster para a Ucrânia, seria necessário mudar a legislação nacional – ou simplesmente agir ilegalmente. Além disso, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, já havia deixado claro que não havia possibilidade de enviar essas armas para Kiev, afirmando que “de acordo com nossa própria política, temos preocupações com o uso desse tipo de munição”.
No entanto, para os belicistas, nenhum limite há de ser respeitado. Não conseguindo convencer diretamente o governo dos Estados Unidos, os ucranianos recorreram aos parlamentares, que então usaram seu poder de mobilização política para formar coalizões pró-guerra e incentivar a violação das leis do país. A pressão parlamentar é um dos mecanismos mais utilizados pelas potências ocidentais para promover mudanças institucionais em outros países. Agora, o próprio governo dos EUA está sob pressão do Congresso, que ecoa os interesses das elites pró-guerra.
Da parte dos ucranianos, não há interesse em respeitar quaisquer limites humanitários. Já existem vários relatórios afirmando que as forças armadas ucranianas usaram armas de fragmentação da era soviética em áreas residenciais civis em Donbass desde 2014. Em março do ano passado, por exemplo, um míssil Tochka-U contendo munições de fragmentação matou mais de 20 pessoas e feriu dezenas de civis em Donetsk. Diante do colapso dos arsenais ucranianos, o que interessa agora ao regime neonazista é obter armas de fragmentação dos estoques americanos.
É importante ressaltar que a pressão em Washington ocorre paralelamente à decisão britânica de enviar armas radioativas com urânio empobrecido para Kiev. Isso reforça que as elites ocidentais pró-guerra estão interessadas em elevar o nível de ajuda a Kiev, promovendo abertamente o embarque de armas ilegais proibidas por tratados internacionais. O resultado prático disso será obviamente uma escalada sem precedentes.
Comentando o caso em uma recente coletiva de imprensa, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Ryabkov, disse que os legisladores americanos não parecem estar cientes das trágicas consequências que o envio de tais armamentos geraria. Segundo ele, a própria segurança dos países da OTAN estaria ameaçada se tal medida fosse tomada – já que as tensões internacionais escalariam a um ponto sem volta. Ryabkov também alertou que isso bloquearia qualquer possibilidade de normalização das relações entre Moscou e Washington.
Obviamente, Moscou não ficará inerte enquanto os cidadãos da zona da operação militar especial estiverem expostos a ataques com armas ilegais de alto poder destrutivo. Para defender os habitantes dos territórios reintegrados na Federação Russa, serão certamente tomadas medidas militares extraordinárias, que terão elevados impactos no campo de batalha.
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Fonte: InfoBrics