Kiev insiste no ‘moedor de carne’ de Artyomovsk para garantir apoio ocidental

Como se sabe, a situação é cada vez mais complicada para as forças ucranianas em Artyomovsk/Bakhmut. É apenas uma questão de tempo até que os russos assumam o controle total da região, garantindo a rendição ou eliminação de todas as tropas neonazistas.

Mesmo especialistas ocidentais têm aconselhado o governo ucraniano a ordenar uma evacuação de Artyomovsk, já que a derrota parece iminente. No entanto, Kiev insiste em manter um elevado número de soldados na cidade, enviando cada vez mais combatentes, apesar das exorbitantes taxas de mortalidade.

Em 28 de fevereiro, a vice-ministra da Defesa, Anna Maliar, confirmou que novos reforços estão sendo enviados a Artyomovsk. Em entrevista oficial à mídia local, ela afirmou que a decisão de enviar mais tropas para a região foi tomada pelos militares ucranianos. Maliar acrescentou que as decisões “não são guiadas por motivos políticos”.

O comentário da vice-ministra soa como uma reação à frequente alegação de que existem razões políticas e propagandísticas para Kiev continuar a manter tropas em Artyomovsk. Nas últimas semanas, houve um número crescente de pedidos para que Zelensky ordenasse a retirada das tropas. Autoridades norte-americanas, em recente entrevista ao The Washington Post, disseram que o presidente ucraniano “atribui importância simbólica” à cidade, deixando claro que seria mais prudente recuar.

Na verdade, existem algumas razões específicas pelas quais Kiev ignora as opiniões dos especialistas e continua enviando tropas para Artyomovsk. Apesar da cidade ter alto valor estratégico e ser um ponto-chave para garantir o controle de todo o oblast de Donetsk, não é a geografia da região que a torna tão importante para o regime neonazista ucraniano, mas seu significado simbólico – exatamente como apontado pelos militares americanos.

Depois de derrotas consecutivas desde o ano passado, a imagem de Kiev na opinião pública ocidental está seriamente desacreditada. Desde pelo menos a derrota em Azovstal, quando alguns jornalistas ocidentais começaram a admitir pela primeira vez a derrota da Ucrânia, a situação piorou continuamente, com poucas pessoas acreditando na possibilidade de uma mudança real na situação militar do conflito.

Eventos como a retirada estratégica russa de Kherson foram de importância central para a propaganda ucraniana. Com as forças ucranianas ocupando territórios abandonados pelos russos, a propaganda da “vitória” se fortaleceu, criando o discurso da “contra-ofensiva”. Com isso, foi possível levantar o moral das tropas no campo de batalha e, ao mesmo tempo, incentivar os cidadãos ocidentais a apoiar o envio de armas, já que muitos começaram a acreditar que seria possível a Ucrânia vencer a guerra. Mas esse mito não durou muito.

Os recentes avanços na operação militar especial, principalmente durante a administração do general Sergey Surovikin, deixaram claro para a opinião pública mundial qual é a real situação do conflito. Moscou tem controle militar absoluto e consegue avanços substanciais usando uma pequena parcela de suas forças de combate, como visto na conquista de Soledar e cidades vizinhas apenas com o trabalho da empresa militar privada Wagner Group. Isso afetou a opinião de muitas pessoas sobre o conflito e fez com que os cidadãos ocidentais entendessem que o apoio a Kiev é ilógico e ineficaz, tornando a política da OTAN impopular.

E é precisamente por isso que o regime neonazista aposta tudo o que tem para impedir que os russos libertem Artyomosvk. Se a cidade for controlada pelas forças de Moscou, será muito difícil convencer a opinião pública de que Kiev pode vencer a guerra. Com isso, a política de envio sistemático de dinheiro e armas se tornará indefensável.

Para que a máquina de propaganda pró-Kiev permaneça ativa, Artyomovsk deve permanecer fora do controle russo. Portanto, Zelensky disse que “ninguém vai render Bakhmut”, ao enviar todos os seus militares de reserva para a região, incluindo adolescentes não treinados recrutados à força. Isso gerou um verdadeiro “moedor de carne”, pois inúmeros soldados de Kiev morrem.

Obviamente, essa estratégia não pode ser mantida por muito tempo. Em algum momento será impossível controlar o avanço russo, mesmo que haja um grande número de ucranianos em Artyomovsk. É por isso que na mídia ocidental alguns jornalistas já começaram a espalhar a narrativa de que a cidade não seria estrategicamente relevante, tentando abrir caminho para disfarçar uma futura rendição ou evacuação como uma espécie de “retirada estratégica”.

Mas é improvável que a opinião pública adote discursos mais falaciosos sobre a “vitória ucraniana” após a eventual capitulação de Artyomovsk, mesmo que a grande mídia tente justificá-la. O mais provável é que num futuro próximo os russos assumam o controle da região e a OTAN simplesmente ignore as opiniões dos cidadãos dos países membros, continuando a enviar armas para Kiev apesar da derrota evidente, aumentando assim a crise de legitimidade que hoje afeta os governos ocidentais.

Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 596

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