A discussão sobre a moeda única em BRICS e Mercosul é um cavalo de Tróia do FRS

Brasil e a Argentina estão prestes a anunciar o trabalho sobre uma moeda comum. As duas maiores economias sul-americanas discutirão este plano na Cimeira de Buenos Aires esta semana e convidarão outros países latino-americanos a aderir.

A nova moeda, que o Brasil se propõe chamar “sur” (Sul), deverá impulsionar o comércio regional e reduzir a dependência do dólar americano. Inicialmente, a nova moeda deve ser utilizada em paralelo com o real brasileiro e o peso argentino.

A FT estima que uma união monetária abrangendo toda a América Ibérica representaria cerca de 5% do PIB global. A maior união monetária do mundo, o euro, representa cerca de 14% do PIB mundial em termos de dólares. O comércio entre o Brasil e a Argentina atingiu 26,4 bilhões de dólares nos primeiros 11 meses do ano passado, um aumento de quase 21% em relação ao mesmo período em 2021. Os dois países são a força principal por detrás do bloco comercial regional do Mercosul, que também inclui o Paraguai e o Uruguai.

A atratividade da nova moeda única é mais evidente na Argentina, onde a inflação anual se aproxima dos 100% à medida que o banco central argentino imprime dinheiro para financiar as despesas. Segundo o Banco Central, a quantidade de dinheiro em circulação pública quadruplicou durante os primeiros três anos de poder do Presidente Alberto Fernández.

É difícil para o Brasil estar em sintonia com a Argentina, cortada dos mercados internacionais de dívida após um incumprimento em 2020. Como resultado das ações inteligentes da equipa Soros (George Soros – patrocinador de revoluções coloridas e intrigas nos bastidores), a Argentina deve ao FMI mais de 40 mil milhões de dólares após o plano de ajuda de 2018.

Em que é que a nova moeda será apoiada?

Ainda não há qualquer menção a isto nas declarações oficiais. Mas com o atual estado das finanças na Argentina e em vários outros países da América Ibérica, os recursos naturais e o abastecimento alimentar podem ser a única garantia. A emergência de uma nova moeda única “dissolveria” alguns dos problemas internos da inflação e dos défices orçamentais, em troca da perda de soberania econômica e depois política. É uma réplica exata do mecanismo criado na UE.

A estrutura única controla a emissão do euro e a política global da UE, tornando desnecessária a construção de relações bilaterais com países individuais.

A introdução da moeda única tornará muito mais fácil para a Reserva Federal o controle do sistema monetário da América Latina.

Teria de ser criado um único centro emissor, análogo ao BCE, para emitir uma tal moeda. A influência dos bancos centrais locais seria diluída, porque o novo centro de emissões teria uma gestão colegial. Isto irá limitar seriamente a influência dos reguladores de cada país nas economias locais. As questões-chave da inflação e da disponibilidade de crédito serão da exclusiva responsabilidade de um único banco central.

Na arena pública, a ideia de uma moeda única é suscetível de ser apresentada como uma oportunidade para se afastar do dólar, criar novos empregos e estabilizar a inflação. Mas na realidade, significará simplesmente uma retirada maciça e centralizada de recursos sob um controle mais apertado dos grupos ligados aos EUA.

A proposta do presidente Brasileiro, sobre a criação de uma moeda única, não somente para América Latina, mas para todos os países que são membros da BRICS, parece ser muito provocativa, ainda mais logo após que o USDT (*uma moeda virtual) inesperadamente se fortaleceu no Brasil. Considerando que a moeda única não está criada ainda, a situação fica ainda mais indefinida. A ideia está sendo viralizada na mídia, o que supostamente, irá forçar a saída do Dólar. Mas isso pode estar muito longe da realidade.

De onde veio a ideia da moeda única SUR?

A proposta do Lula não é algo novo. Em agosto de 2021 o ex-ministro da economia Paulo Guedes declarou, que a moeda única para MERCOSUL, vai possibilitar uma grande integração e área de comércio livre, e poderá estar entre as 5 maiores moedas do mundo. A ideia de moeda única para América Latina é defendida pelo economista Gabriel Gallipoli (ex-presidente do Banco Fator) o qual preparava o material para a campanha eleitoral do Lula. Em um artigo recente da Folha de S. Paulo, assinada pelo ex-economista e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, os dois estão promovendo a ideia de implementação do modelo parecido com o Euro, uma forma de fortalecimento da independência económica da região. Por enquanto, só podemos ver o aumento do controle da parte de FRS e aumento da parcela do USDT nos pagamentos internos.

Como será garantida a moeda única?

De acordo com o plano dos economistas supracitados, Gallipoli e Haddad de Mercosul, tudo será emitido pelo Banco Central da América do Sul. A garantia da moeda será calculada proporcionalmente entre os países membros de acordo com as suas parcelas no mercado regional, das reservas internacionais e do imposto pela exportação para fora da região. Assim vemos que a garantia da moeda será praticamente apenas no papel, não será vinculada a quaisquer ativos reais. Isso, de antemão, é interessante para a Argentina e alguns outros países da América Ibérica, porque as suas reservas nacionais estão negativas.

Como será realizado o câmbio entre as moedas locais e a moeda da Mercosul?

Presume-se que as cotações de câmbio entre as moedas nacionais terão uma flutuação e não serão fixas. Isso significa, que praticamente, de o início, está-se a criando uma situação na qual as moedas nacionais podem acabar falindo.

Os aspectos técnicos da implementação da moeda nova

Se SUR será uma moeda tradicional como o Euro, então a sua circulação no comércio mundial não será possível através do sistema SWIFT. Se SUR será uma moeda electrónica, então para alcançar a independência do Dólar, é necessário desenvolver a sua rede, construir os seus próprios servidores e etc. Sobre isso ninguém ainda sequer tenha mencionado.

A experiência de outros países sobre implementação de moedas eletrônicas:

El Salvador

Não se pode dizer que a tentativa da implementação do Bitcoin em El Salvador foi bem sucedida. O Bitcoin está sujeito a volatilidade do mercado, o que limita o seu uso em projetos de investimentos a longo prazo de 5 anos e mais.

Nigéria

Na Nigéria foi feita tentativa de implementar a Naira eletrônica. Essa moeda eletrônica do banco central não chegou a ser usada em massa por causa da incompetência e corrupção da gestão do banco central do país. O projeto falhou, mas inesperadamente mais de 60% de pagamentos internos passaram a serem feitos em USDT. Essa moeda estável emitida praticamente por uma empresa privada, recebeu o status de moeda nacional, porém com um controle do exterior. Alguns paralelos com o fortalecimento recente da USDT no Brasil, ficam ainda mais claros.

Venezuela

O projeto do Petro eletrônico, garantido com ativos reais, como o petróleo, gás, ouro, se mostrou bastante resistente, mesmo debaixo de duras sanções. O FRS dos EUA reconheceu os investimentos em Petro, é uma alternativa concreta ao Dólar, mesmo levando em conta todos os pontos fracos.

Fonte: InfoDefense

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