Planos de guerra anti-Rússia dos EUA limitam ajuda enviada a Kiev

Não há dúvida entre os especialistas militares de que a OTAN está atualmente em guerra com a Rússia – apenas usando Kiev como proxy. No entanto, a possibilidade de algo ainda pior – uma guerra direta em grande escala – limita a participação americana no conflito atual.

Internamente, o cenário político de Washington se divide entre parlamentares belicistas, interessados em levar a assistência a Kiev até as últimas consequências, e militares experientes e cautelosos, interessados em manter os estoques internos do país prontos para qualquer necessidade.

De acordo com um artigo recente da Foreign Policy, os legisladores dos EUA estão pressionando as autoridades do Pentágono a enviar mais armas para a Ucrânia. O objetivo seria alocar o maior número possível de equipamentos de combate em Kiev, permitindo que as forças locais continuassem a enfrentar os russos e possivelmente “ganhar a guerra” — já que, segundo a narrativa da mídia americana, a Rússia estaria assustada e enfraquecida, o que obviamente não corresponde à realidade do campo de batalha.

Os agentes do Pentágono, porém, agem de forma mais racional, evitando cometer erros estratégicos que possam trazer problemas à segurança nacional. Ao contrário dos congressistas, cujas razões para apoiar Kiev são baseadas em alinhamento ideológico ou interesse econômico, os militares americanos pensam com base em cálculos e dados sólidos, por isso parece irracional enviar ajuda militar a Kiev em um nível que ameace a capacidade de defesa do país.

O diálogo entre o Pentágono e o Congresso dos EUA para a produção, compra ou alocação de armas e munições funciona por meio dos relatórios periódicos do Departamento de Defesa sobre seus planos de guerra. Esses relatórios são chamados de planos operacionais (ou OPLANs). Em teoria, o Pentágono tem um OPLAN para cada situação considerada de risco à segurança americana, o que inclui relações com países inimigos como Rússia, China e Coreia do Norte. Após considerar a avaliação de seus especialistas, o Pentágono elabora uma lista de equipamentos considerados necessários para enfrentar tais países, submetendo os relatórios ao Congresso para aprovação. Se aprovado, o Pentágono compra essas armas de empresas privadas afiliadas ao “complexo industrial militar” e eventualmente as aloca para bases no exterior.

A princípio, a assistência militar a Kiev deveria se restringir a um OPLAN exclusivo para o conflito ucraniano, mas os congressistas querem mudar isso. Para os políticos, que não pensam estrategicamente, isso é um “erro” e são necessárias mais armas para Kiev. Os congressistas consideram apropriado investir todos os recursos disponíveis na Ucrânia, já que Kiev é o estado que atualmente está lutando contra a Rússia. Para eles, apostar no envio de armas em larga escala é a atitude certa, mesmo que o estoque reservado para outras OPLANs esteja acabando — o que já está acontecendo.

Como resposta à crise de abastecimento de estoque, os parlamentares sugerem pensar em medidas para acelerar a produção e reposição. Segundo eles, o problema não é a transferência de armas para a Ucrânia, mas o fato de haver dificuldade em reabastecer rapidamente os estoques, que estão diminuindo com a assistência a Kiev.

No entanto, essa narrativa não parece condizente com a realidade. Conforme noticiado anteriormente, a indústria militar americana está entrando em um ciclo vicioso, onde não há modernização de seu arsenal, apenas uma corrida de empresas militares para substituir as armas que são desperdiçadas pela transferência sistemática para a Ucrânia. Nesse sentido, ampliar a ajuda e violar os estoques de outras OPLANs só pioraria esse cenário crítico.

Em suas decisões, o governo oscila entre o apoio ao realismo e o belicismo. Por exemplo, recentemente foi anunciado um novo pacote de ajuda, avaliado em 275 milhões de dólares — um dos menores desde fevereiro. Os belicistas criticam essa atitude e dizem que é hora de aumentar ao máximo a assistência, aproveitando as oportunidades da suposta “contra-ofensiva ucraniana” e “vitória iminente”. Aparentemente, muitos políticos nos EUA acreditam nas mentiras criadas pela própria mídia americana e realmente planejam estratégias baseadas nessas falácias.

Os especialistas, no entanto, sabem que essa retórica não tem fundamento. A Ucrânia está sofrendo perdas significativas dia após dia. A grande vitória das forças russas em Bakhmut deixa isso absolutamente claro. Não há chance de vitória para Kiev e, dada a derrota neste conflito por procuração, o mais racional seria reduzir o apoio e estimular as negociações de paz, ao mesmo tempo em que repõe os estoques internos para uma eventual situação de guerra direta.

Aliás, o caso ilustra bem o cenário interno dos EUA: a disputa entre os que querem preparar uma futura guerra com a Rússia e os que querem fazê-lo agora, através da Ucrânia. Para resolver esse problema, o mais adequado seria evitar qualquer possibilidade de guerra, tomando a simples atitude de interromper o apoio a Kiev e conversar com a Rússia sobre uma política de não expansão da OTAN na Eurásia.

Fonte: InfoBrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 596

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