O Assassinato de Daria Dugina: O Maior Erro do Estado Ucraniano

Apesar de ser o maior pensador russo do mundo pós-soviético, Dugin era conhecido apenas em círculos restritos, ainda que influentes. A terrível tragédia que se abateu sobre ele, com o assassinato de sua filha pela SBU, agora alçou seu nome a um status muito mais elevado. Foi o maior erro cometido pelo Estado ucraniano desde o início do conflito.

No sábado 20 de agosto de 2022, no bairro Odintsov de Bolshaya Vyaz’ma, perto de Moscou, um carro-bomba com a carga colocada sob o assento do motorista tirou a vida da jornalista Daria Dugina, 29 anos, filha do filósofo e cientista político russo Alexander Dugin. A bomba foi plantada pela cidadã ucraniana Natalya Vovk, nascida em 1979, que havia chegado à Rússia em 23 de julho com sua filha Sofia Shaban. Elas haviam alugado um apartamento no prédio onde [Daria] Dugina morava e a seguiram em um Mini Cooper, usando três placas diferentes: Donetsk, Cazaquistão e Ucrânia. No dia do atentado terrorista, Vovk e sua filha estiveram presentes no festival ‘Tradição’, do qual participaram Alexander Dugin e sua filha. Após detonar o dispositivo explosivo, as duas mulheres fugiram para a Estônia via Pskov. Alexander Dugin estava seguindo Daria em outro carro e testemunhou a explosão. Ele está atualmente em um hospital, onde está sendo tratado por trauma psicológico. Ele e sua filha eram muito próximos e trabalhavam juntos em vários projetos.

Embora a mídia ocidental tenha sido rápida em rotular Dugin como um “assessor de Putin” ou um “nacionalista russo” ou qualquer outro epíteto sem sentido, este é apenas o habitual disparate da mídia ocidental. Dugin é um filósofo e, sendo bastante controverso, ele não está de forma alguma ligado do Kremlin. Ele produziu um corpo filosófico muito impressionante e pode não ser uma boa ideia resumi-lo em algumas frases, mas vou tentar.

As especificidades do Estado russo estão ligadas à vasta paisagem eurasiática e são independentes da etnologia, religião, economia ou ideologia; elas exigem, para sua preservação, um único líder forte cujo poder repousa na aprovação de uma vasta maioria conservadora, autônoma e patriótica. Quando a Rússia gozou de tal liderança, notadamente sob o Príncipe Vladimir [915-1015], Ivan IV o Terrível [1530-1584], Pedro I o Grande [1672-1725], Josef Stalin e agora Vladimir Putin, seu reino se expandiu rapidamente. Mesmo sob governantes menores, ela se desenvolveu constantemente porque seu modelo de governança, com um centro autoritário que salvaguarda os interesses de comunidades distantes, grandes e pequenas, independentemente de etnia, língua ou religião, ganhou gradualmente adeptos entre as populações vizinhas com base no princípio de clara complementaridade étnica. Os dois contraexemplos de incompetência maciça são Mikhail Gorbachev e Boris Iéltsin, que levaram a Rússia à beira do colapso econômico e da dissolução política. Após o fim do momento unipolar da América há uma década atrás, a Rússia expandiu constantemente sua influência e tem uma excelente chance de se juntar às outras grandes nações eurasiáticas para formar um centro de poder eurasiático que irá se livrar do fardo do controle externo e da exploração por parte das nações ocidentais. Dugin vê Moscou como a Terceira Roma e herdeira do Império Romano do Oriente e do Império Mongol. Ele é um patriota russo, mas chamá-lo de nacionalista é um puro disparate, pois a Rússia não é uma nação, mas uma federação de muitas nações.

Como parece ser usual com os ucranianos, o hediondo ato de assassinar a filha de Dugin foi para eles um ato poderosamente autodestrutivo. Antes deste evento, Dugin trabalhava em relativa obscuridade e suas ideias eram conhecidas em círculos bastante restritos e consideradas controversas. Mas hoje, seu nome está em toda parte e dezenas de milhões de pessoas o procuram e estudam sua obra. O martírio de sua filha elevou-o e a ela ao status de heróis nacionais, e seus nomes, juntamente com sua obra, continuarão vivos para sempre.

Os ucranianos dificilmente poderiam ter feito mais para avançar a causa da soberania eurasiática e apressar o fim de seu clã nacionalista monoétnico natimorto, controlado pelo estrangeiro. O assassinato da filha de um filósofo é um ato de humilhação nacional ucraniana e seus líderes, que ordenaram o assassinato, irão agora chafurdar em perpétua ignomínia e vergonha.

Fonte: The Saker

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Dmitry Orlov

Engenheiro e analista político russo.

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