21 dias de 1930: a Revolução marcha

A data marca convencionalmente o fim da Revolução de 1930, mas era apenas o começo…

Em 3 de outubro de 1930, às 17h12, em Porto Alegre (RS), o Quartel-General da 3.ª Região Militar e o Arsenal de Guerra escutam tiros de fuzil, seguindo-se o disparo de um foguete contra o QG. Com revólveres escondidos sob suas túnicas, 35 guardas municipais atacam os fundos do quartel, seguindo-se na retaguarda um grupo liderado por Osvaldo Aranha, Flores da Cunha e Barcelos Feio, todos membros da extinta Aliança Liberal. Segue-se um combate de 15 minutos com 14 mortos (nenhum deles liberalista), mas o general Gil de Almeida apenas desiste de uma resistência inútil após receber uma carta do presidente estadual Getúlio Vargas, que garante que lhe tratará com merecida estima. A breve resistência do arsenal é encerrada após civis convencerem o major Elpídio Martins a aderir ao movimento, que visava impedir a posse fraudulenta de Júlio Prestes, presidente de São Paulo, na Presidência da República.

Paralelamente, Juarez Távora contraria seus aliados em João Pessoa (PB) — cidade recém-renomeada em homenagem ao presidente assassinado da Paraíba — e vai buscar garantir a rápida tomada de Recife (PE) pessoalmente. Lá, descobre a deflagração precipitada da revolução em Porto Alegre, de forma que os governistas pernambucanos já se encontravam mobilizados no 21.º Batalhão de Caçadores. Frustrado, encarrega a família Lima Cavalcanti da missão de sabotar equipamentos de telefonia e embarca de volta para João Pessoa.

Olegário Maciel — presidente de Minas Gerais indicado pelo ex-candidato liberalista Antônio Carlos de Andrade — comunica a vários prefeitos interioranos sua adesão à revolução. A Central do Brasil, no Rio de Janeiro (DF), é tomada por um alvoroço quando mineiros recebem ligações de seus parentes, que os pedem para permanecer onde estão, porque algo estranho está acontecendo em Belo Horizonte…

No dia 4 de outubro de 1930, as últimas unidades legalistas de Porto Alegre caem de madrugada, e as do Rio Grande do Sul, à tarde. Em João Pessoa, o tenente do Exército Juraci Magalhães e o coronel da PM Elísio Sobreira lideram a tomada do 22.º BC, alvejando o general Alberto Wanderley, que descreve sua própria morte como “coisa da política”. Juarez Távora chega na cidade e nomeia Zé Américo, romancista e secretário de Segurança, seu interventor na Paraíba. O 25.º BC derruba Pires Leal, presidente do Piauí. Em Recife, civis liderados pelos Lima Cavalcanti tomam o depósito da 7.ª Região Militar. Numa enorme campanha popular de sabotagem, a população negra de Salvador (BA) sai às ruas e destrói infraestruturas de transporte e energia. O Rio de Janeiro (DF) é tomado por pânico e incerteza, visto que a censura não permite a elucidação das notícias dos estados, tampouco do intenso movimento policial nas ruas.

Em discurso publicado, Getúlio Vargas contrasta sua busca por paz, ordem e conciliação com a intransigência de Washington Luís e a fraudulência da eleição de Júlio Prestes. Inicia-se o alastramento da revolução por todo o território nacional.

No dia 5 de outubro de 1930, Santo Ângelo se torna a última cidade a se render no Rio Grande do Sul. Enquanto o comandante Getúlio Vargas intima oficiais e praças do Exército a comparecerem ao QG em 48 horas, saem de Porto Alegre colunas lideradas pelos coronéis Alcides Etchegoyen, João Alberto e Adalberto Correia, com destino final ao Rio de Janeiro. Em Itaqui (RS), populares prendem e fuzilam comunistas que buscam se apropriar da revolução. Levantes eclodem por Minas Gerais, em apoio a Olegário Maciel. Cai o presidente paranaense Afonso Camargo, e o general Mário Tourinho é aclamado interventor no estado.

Encerrando definitivamente a prolongada revolta cangaceira de Princesa (PB), o “coronel” Zé Pereira para a clandestinidade. O Quebra-Bondes se aprofunda em Salvador, levando à destruição de dois terços dos veículos. O presidente potiguar Juvenal de Faria é deposto e exilado, dando lugar a uma junta militar. Juraci Magalhães chega a Recife, onde encontra focos esparsos de resistência legal. Em Belém (PA), o 26.º BC não logra tomar o quartel-general, pelo que os insurgentes se retiram para uma guerrilha fora da capital.

Desesperado, o presidente federal Washington Luís decreta estado de sítio nacional até o fim do ano, embora seu governo sequer vá durar até o fim do mês…

No dia 6 de outubro de 1930, o governo federal envia três aviões para bombardear Belo Horizonte: dois aderem imediatamente à revolução, mas o terceiro lança duas bombas antes de fazer um pouso forçado. Lorena (SP) sedia os primeiros ataques paulistas contra Minas Gerais. Os destróieres Bahia e Rio Grande do Sul chegam a Paranaguá (PR). A fim de auxiliar as forças revolucionárias já dominantes, a Coluna Miguel Costa chega ao Paraná por União da Vitória. A revolução eclode no Mato Grosso.

Juarez Távora retorna a Recife, onde estabelece o Quartel-General Revolucionário do Norte. Populares queimam a sede do jornal oficial A Provincia, assim como casas e negócios da família do político e empresário Francisco Pessoa Queirós. Juvenal Lamartine abandona a presidência do Rio Grande do Norte.

No dia 7 de outubro de 1930, os comércios, bancos e bolsas amanhecem fechados no Brasil inteiro, por decreto presidencial da véspera. O 12.º Regimento de Infantaria, de Belo Horizonte, se rende à Polícia Militar e à Guarda Civil, que imediatamente convocam o povo a pegar em armas em apoio a Olegário Maciel. O polímata, político e magnata Assis Brasil chega a Porto Alegre e urge o Partido Libertador a reunir-se em torno de Vargas. O general legalista Nepomuceno Costa chega a Florianópolis e não encontra gente disposta a lutar, vendo-se encurralado pelo progresso das forças de Trifino Correia, de Tubarão. Senadores e deputados fogem do Rio de Janeiro. Tenentistas sob Juarez Távora conquistam posições em Alagoas, Sergipe e Pará.

Washington Luís assina diversos decretos: toma 100 mil contos de réis dos cofres públicos; convoca os reservistas da Marinha; e nacionaliza as estradas do Sul de Minas, para ocupação por tropas paulistas. Reporta-se falsamente que o ex-presidente nacional e mineiro Arthur Bernardes, que assistia o movimento em Viçosa (MG), fora preso em São Paulo.

No dia 8 de outubro de 1930, caem o presidente cearense Matos Peixoto — substituído por Manuel Távora, irmão de Juarez — e o maranhense Pires Sexto. Após um saldo de 150 mortos, a reação governista é finalmente suprimida em Pernambuco, de forma que os 700 homens do coronel Edgar Facó se organizam para se unir aos 8 mil de Juarez Távora na Bahia. Revolucionários avançam por Santa Catarina e Paraná. Quatro aviões que foram bombardear Minas Gerais e cinco que se encontravam em Natal se unem à revolução. A rendição do 12.º Regimento de Infantaria pacifica Belo Horizonte, abrindo espaço para tropas mineiras intervirem no Espírito Santo e focarem nos aquartelamentos legalistas de Juiz de Fora, São João del-Rei e Três Corações.

Enquanto a coluna de Asdrúbal Gwyer de Azevedo avança pelo interior fluminense, governistas recolhem armas de lojas nas principais cidades do estado e assumem postos em Niterói. Washington Luís institui uma tabela nacional de preços, ameaçando os que a descumprirem de prisão.

No dia 9 de outubro de 1930, Getúlio Vargas deixa o governo gaúcho e nomeia Oswaldo Aranha seu interventor no estado. O jornal Estado do Rio Grande agradece aos engenheiros da Viação Férrea por seu apoio à causa da liberdade. Juarez Távora constitui o governo provisório do Brasil Norte, liderado por Zé Américo. A Coluna Etchegoyen derrota um destacamento paulista de 1300 homens entre Jaguariaíva (PR) e Carlópolis (PR). O Serviço de Informações e Controle gaúcho noticia a presença de um navio de guerra inglês e um estadunidense na Baía de Guanabara.

No Rio de Janeiro, o trabalhador paraibano Miguel Alves de Souza mata João Suassuna — ex-presidente da Paraíba, deputado federal governista, pai de Ariano Suassuna (que alegorizaria o evento em A Pedra do Reino) e primo do recém-morto João Dantas (assassino de João Pessoa). Washington Luís discursa prometendo a derrota dos insurgentes, que acusa de interromperem três anos de paz com atos terroristas e de não terem objetivos claros. Convocam-se os reservistas da Polícia Militar do Distrito Federal com 25 a 40 anos de idade.

No dia 10 de outubro de 1930, a comitiva liderada por Getúlio Vargas e Pedro Goes Monteiro entra em um trem em Porto Alegre com todo o Estado-Maior. Apesar da destruição de Salvador, a Secretaria de Polícia da Bahia emite uma declaração afirmando que o estado está em ordem e pedindo que assim continue. Cai Álvaro Correia Paes, presidente de Alagoas. Rebeldes manauaras pressionam pela queda do presidente estadual Dorval Pires Porto. O futuro presidente Nereu Ramos toma São Joaquim (SC).

No Rio de Janeiro, partes do Exército e da Marinha aderem à revolução. João Suassuna é velado com grande pompa. Enquanto apelos totalmente mentirosos do Ministério da Justiça são publicados em jornais pelo mundo, a montadora Fiat disponibiliza dois aviões à Força Pública de São Paulo. Noticiam-se perturbações no abastecimento de viveres pelo país, mas tanto governistas quanto revolucionários reforçam sua adesão aos preços tabelados por Washington Luís.

Em 11 de outubro de 1930, os revolucionários chegam a cruzar a ponte para Ribeira (SP), mas a situação na fronteira entre São Paulo e Paraná ainda é instável. Em Quatiguá (PR), um prisioneiro liberalista informa aos legalistas o tamanho da comitiva de Getúlio Vargas (então em Ponta Grossa), provocando a rendição de 200 unidades da cavalaria. Em Santa Catarina, a reação é reprimida em Blumenau e Joinville. Tropas paulistas ocupam Delta (MG) e expulsam moradores e comerciantes. Mineiros se alistam em massa nos quartéis leais a Olegário Maciel e adentram o Rio de Janeiro. Dom João Becker, arcebispo de Porto Alegre, condena publicamente as acusações de comunismo contra os gaúchos.

No dia 12 de outubro de 1930, Osvaldo Aranha publica um discurso que afirma “o estabelecimento do prestígio das leis e da moralidade administrativa” como finalidade da revolução e desmente diversos pontos da propaganda governamental, como o suposto linchamento do general Gil de Almeida e as acusações de leninismo. A Coluna Etchegoyen toma a estação férrea de Quatiguá sem resistência, mas é atacado no mesmo dia por um destacamento da Força Pública de São Paulo. Por indicação de Zé Américo na véspera, o tenente Júlio Perouse Pontes cede o comando do Rio Grande do Norte ao deputado estadual Irineu Joffily.

Enquanto isso, o Brasil celebra a festa de Nossa Senhora de Aparecida pela primeira vez desde sua decretação por Pio XI.

No dia 13 de outubro de 1930, as tropas de Etchegoyen derrotam a intervenção paulista em Quatiguá, após centenas de baixas. Em Ponta Grossa, o Estado-Maior da Revolução se prepara para um grande confronto pela estação ferroviária de Itararé (SP). Forças paulistas seguem avançando pelo Sul de Minas. Coronéis que outrora impuseram derrotas à Coluna Prestes organizam tropas contrarrevolucionárias na Bahia.

O governo funda a Legião da Capital da República na cidade do Rio de Janeiro, enquanto as polícias do estado, a fim de prevenir mais levantes interioranos, passam a reprimir a venda de álcool. Proíbe-se também a navegação noturna pelas orlas distrital e fluminense.

Em 14 de outubro de 1930, a Coluna Etchegoyen sai vitoriosa de uma batalha de 5 horas contra tropas paulistas, entre Affonso Camargo (hoje Joaquim Távora — PR) e Carlópolis. Do outro lado da fronteira, tiroteios e requisições de casas se espalham por Itararé, onde há expectativa por um confronto muito maior, e revolucionários se entrincheiram em Igarapava (SP). O major Camilo Diogo Duarte ataca uma posição reacionária da Força Pública Catarinense na Serra da Garganta. Zé Américo nomeia o deputado federal Hermílio Melro interventor de Alagoas, substituindo o coronel da PM Pedro Teixeira.

No dia 15 de outubro de 1930, a derrota iminente dos reacionários catarinenses é anunciada pela tomada de Chapecó e pela chegada a Lages do jornalista e soldado Assis Chateaubriand, que envia à imprensa estrangeira notícias entusiasmadas sobre a revolução. Marcellino Ramos reporta que 18 mil revolucionários já chegaram a São Paulo de trem. Olegário Maciel consegue restabelecer controle sobre Minas Gerais, mas reporta a Osvaldo Aranha que o estado não tem munição para avançar contra as tropas paulistas na fronteira com o Rio de Janeiro. Aranha lhe promete redobrar a pressão contra São Paulo, a fim de prevenir incursões em Minas Gerais. Durante uma reunião entre Osvaldo Aranha e os cônsules britânico e estadunidense, uma multidão se reúne em frente ao Grande Hotel para cantar Amor Febril e ovacionar Aranha.

Do lado governista, os jornais publicam nomes e endereços de “boateiros” presos no Rio de Janeiro. Tropas paulistas seguem pressionando o Triângulo Mineiro, mas perdem São João del-Rei.

Em 16 de outubro de 1930, forças mineiras sob o coronel Aristarco Pessoa penetram Goiás e tomam a cidade de Cristalina, onde prendem todos os oficiais e 400 praças. Góis Monteiro intima o general Nestor Passos, ministro governista da Guerra, a apresentar-se ao Quartel-General de Porto Alegre, sob pena de ser dado por desertor. Exceto por uma tímida resistência em Florianópolis, Santa Catarina termina o dia sob controle tranquilo da revolução: enquanto os revolucionários vencem a Batalha da Serra da Garganta, os 200 fuzileiros navais sob o general Nepomuceno Costa se rendem em São Francisco do Sul antes de poder atacar Joinville. Um destacamento revolucionário investe precocemente e sem sucesso contra Itararé. Cai Aristeu Aguiar, presidente do Espírito Santo. Humberto Leão assume o governo do Piauí. O 18.º BC adere à revolução, provocando a renúncia imediata do presidente estadual Manuel Dantas.

O governo federal segue prendendo “boateiros”, acusando os revolucionários de comunismo e denunciando a narrativa de que a autoridade federal só sobrevivia no Rio de Janeiro, em São Paulo e na Bahia. Enquanto Londres se dispõe a mandar armas para o Rio, Dom João Becker defende a revolução perante o futuro papa Pio XII.

Em 17 de outubro de 1930, Juarez Távora indica como interventor de Sergipe o médico Erônides de Carvalho. Animados pela chegada iminente de Getúlio Vargas para uma grande incursão contra São Paulo, voluntários se alistam em massa nas fileiras revolucionárias em Curitiba (PR). Forças legalistas catarinenses residuais tentam recuperar a Serra da Garganta, iniciando 38 minutos de batalha com saldo de 8 mortos, 33 presos e 30 retirados para o mato. Temendo uma invasão goiana do Triângulo Mineiro, reservistas se apresentam massivamente em Uberlândia (MG), pedindo fuzis e munições.

Washington Luís diz para a United Press que seu governo vencerá, porque tem apoio das classes conservadoras, industriais, agrícolas, financeiras e comerciais. O governo federal autoriza o Banco do Brasil a emitir 300 mil contos de réis. O noticiário legalista Agência Americana do Rio veicula o rumor da morte de Miguel Costa. Em Nova Iorque, as ações brasileiras têm alta.

Em 18 de outubro de 1930, Minas Gerais e o limite entre São Paulo e Paraná permanecem instáveis, com ganhos e perdas de ambos os lados. O 14.º BC é recebido ardorosamente em Itajaí, onde levanta acampamento para concentração de forças, a fim de um grande ataque contra os legalistas encurralados na capital catarinense. Para subsidiar as tropas de Getúlio Vargas, o povo porto-alegrense dispõe dinheiro em praças públicas sobre as bandeiras brasileira e gaúcha.

O deputado federal Lindolfo Collor revela que o Rio de Janeiro se encontra esvaziado, aterrorizado, paralisado e censurado. Diversos deputados e oficiais se encontram asilados em embaixadas ou detidos.

Em 19 de outubro de 1930, o Espírito Santo e o Sul da Bahia são tomados por revolucionários, com apoio fulcral de tropas mineiras. Após cinco dias de combate, reacionários retomam Igarapava e iniciam mais uma incursão fadada ao fracasso contra Minas Gerais.

O cardeal Sebastião Leme chega ao Rio de Janeiro, já convencido da necessidade da renúncia de Washington Luís. Este, entretanto, se ofende com a sugestão de que “seus” próprios oficiais poderiam desistir de defendê-lo e continua insistindo para seus aliados defendam o regime até o último cartucho. Um telegrafista da Agência Americana do Rio envia ao Pará e à Bahia uma mensagem desmentindo as notícias falsas da própria agência e exultando a revolução.

Em 20 de outubro de 1930, Getúlio Vargas é recebido em Curitiba por uma multidão extasiada e por uma parada militar com 9 mil homens. Osvaldo Aranha discursa na Rádio Sociedade Gaucha, na qual anuncia que as forças gaúchas contam com 100 mil homens e relata a situação de cada unidade federativa, exceto pelo Mato Grosso: o governo federal ainda controla o Rio de Janeiro (DF) pelo terror e, o Amazonas, pelo isolamento; reações armadas minguantes prosseguem nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Bahia; e os demais estados já estão sob dominância revolucionária. General José de Calasans, primeiro presidente constitucional de Sergipe (1892 – 1894), retorna ao governo como interventor federal de Juarez Távora. Em Uberlândia, o enterro do heroico tenente Vermondes da Silva reúne uma multidão, cada vez mais motivada a entrar em Goiás.

As polícias legalistas reportam dificuldades em reprimir uma insurgência no DF liderada pelos deputados Adolfo Bergamini e Maurício Lacerda, que já se encontram detidos. Indicando o colapso da propaganda governamental, os jornais cariocas Diario de Noticias e A Noite ignoram a revolução, enquanto a Gazeta de Noticias e O Paiz sequer publicam a edição do dia. O Serviço de Informações e Controle gaúcho revela que a Missão Militar Francesa negou apoio a Washington Luís, que convoca os reservistas do Corpo de Bombeiros e prorroga o feriado nacional até 30 de novembro.

Em 21 de outubro de 1930, posições legalistas baianas colapsam perante a Coluna Juarez Távora, novos destaques paraibanos e tropas mineiras, encontrando enorme aderência civil e militar. Forças gaúchas, catarinenses e paranaenses avançam pelo interior paulista. Borges de Medeiros rompe o silêncio e parabeniza o povo gaúcho. Dom João Becker pede que o cardeal Sebastião Leme intervenha nas prisões políticas. Em Curitiba, Getúlio Vargas diz que a revolução triunfará em “realizar a obra da paz nacional que os chefes da política de reação não lograram obter”, porque a marcha do povo é contra “a fraude eleitoral, o suborno das consciências e a compressão dos direitos”. Promete reformas políticas, administrativas, econômicas, financeiras e laborativas.

Jornais sob controle legalista voltam a publicar a narrativa de que a tranquilidade reina em todo o território, exceto no Rio Grande do Sul — agora acusado de separatismo — e em Minas Gerais. Também relatam que as praias cariocas estão lotadas de populares nadando nus e jogando futebol, com banhistas seminus afrontando os pedestres. Emílio Kemp, diretor da Escola Normal, urge que deputados estaduais fluminenses rompam com o regime.

No Exército, segue a insatisfação com a recusa de Washington Luís em renunciar, expressa especialmente por João de Deus Mena Barreto, presidente do Clube Militar. Apesar de seu discurso épico de despedida para a tripulação do couraçado São Paulo, o almirante Pinto da Luz, ministro da Marinha, se encontra isolado. De um lado, a Marinha em geral se organiza em torno do almirante Isaías de Noronha e desiste de Washington Luís. Do outro, o cônsul dos EUA no Recife, instado por Zé Américo, pede que Wall Street ignore as recomendações ministeriais e dê preferência a portos revolucionários.

Em 22 de outubro de 1930, o coronel legalista Paes de Andrade retrocede em 70 quilômetros São Paulo adentro para fugir da marcha brasileira, comparando o impasse de Itararé com o Milagre de Marna da Primeira Guerra Mundial. Em Itararé, uma patrulha se rende expressando falta generalizada de suprimentos e ânimo. Enquanto se prolonga o impasse de Florianópolis, um grupo do destróier Santa Catharina desembarca em Palhoça para aderir à revolução.

Júlio Prestes, presidente de São Paulo e “presidente-eleito” do Brasil, quebra seus 19 dias de silêncio para dar apoio a Humberto Ribeiro, presidente de Goiás, cujo paradeiro é desconhecido. Intimados pelo general Sezefredo dos Passos a se apresentarem no Rio de Janeiro sob pena de fuzilamento, oficiais gaúchos lhe respondem que logo chegarão à capital. Washington Luís paga vencimentos de 4 contos e 550 mil réis a Bonifácio da Silveira, “Major da Folia” e administrador da Alfândega de Maceió, cidade já tomada por Juarez Távora havia dias.

Em 23 de outubro de 1930, o comandante Getúlio Vargas retorna ao acampamento do Estado-Maior da Revolução, em Ponta Grossa (PR), a fim de deliberar sobre um golpe final contra Itararé. Rende-se o último foco legalista mineiro, em Juiz de Fora. As colunas liberalistas seguem desenfreadas por todo o Brasil, aproximando-se do Distrito Federal.

Mena Barreto envia o filho a uma visita matutina a Tasso Fragoso, ex-chefe do Estado-Maior do Exército, convencendo-o a participar da transição pacífica do poder. Os espiões de Washington Luís — cada vez mais paranoico — aterrorizam toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, promovendo prisões em massa, especialmente contra mineiros, gaúchos e “boateiros”. Entretanto, o Ministério da Justiça publica a nota padrão: “A ordem não soffreu alteração na capital da Republica, onde a situação de calma è absoluta.”

No dia 24 de outubro de 1930, às 10h30, insurgem-se no Rio de Janeiro diversas guarnições do Exército, as esquadras da Guanabara, a Aviação Militar, a Artilharia Costeira, a Escola de Aviação, a Escola Politécnica e as fortalezas. A Delegacia de Polícia do Catete resiste por menos de duas horas até se tornar a primeira sede da detenção enfrentada por Washington Luís antes do exílio.

Na Escola Militar de Realengo, instala-se uma junta governativa chefiada pelo general Tasso Fragoso, com o general Mena Barreto e o almirante Isaías Noronha. Recebendo a notícia, Osvaldo Aranha jura esforços cada vez maiores por uma república maior e melhor. Entretanto, os telegramas enviados a Getúlio Vargas ainda são ambíguos, pedindo a cessação das hostilidades sem prometer a transferência de poder.

Multidões entoando gritos de “Ao palácio!” enchem a rua General Paranhos, em cujas janelas os moradores balançam lenços vermelhos. Em meio à agitação, o povo carioca incendeia e saqueia as sedes de seis publicações governistas na avenida Rio Branco, destacando-se a torre d’O Paiz. Ataques semelhantes ocorrem em São Paulo e Santos (SP), paralelamente ao levante das tropas federais contra Júlio Prestes, que abdica de seu pleito à presidência do Brasil, cede o governo estadual ao general Hastínfilo Moura e se asila no Consulado Britânico. Triunviratos militares também derrubam Pires Porto no Amazonas e Freitas Vale no Pará. Tropas mineiras iniciam uma investida final contra forças reacionárias paulistas e goianas.

A data marca convencionalmente o fim da Revolução de 1930, mas era apenas o começo…

Fonte: Associação Nova Roma

Nova Resistência
Nova Resistência

Organização nacional-revolucionária que, com base na Quarta Teoria Política, busca restaurar a dignidade imperial do povo brasileiro.

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