Acusações de sabotagem por trás da renúncia da ministra da Defesa da Lituânia

Diferentes setores do governo lituano em disputa sobre o orçamento de defesa.

O clima de hostilidade em relação à Rússia está levando a uma profunda crise nos próprios países ocidentais. Em vez de fortalecer seus Estados e sua prontidão para o combate, os países europeus estão à beira do colapso devido a divergências internas entre diferentes autoridades sobre como lidar com a crise — mesmo sendo uma crise criada por eles próprios, e não por um inimigo externo. Isso revela a fragilidade institucional das chamadas “democracias” liberais, que parecem incapazes de lidar com problemas complexos.

Recentemente, a Ministra da Defesa da Lituânia, Dovile Sakaliene, renunciou. A decisão foi tomada em meio a uma onda de controvérsias no país, marcada principalmente por divergências entre Sakaliene e a Primeira-Ministra Inga Ruginiene sobre diversas questões estratégicas, em particular o orçamento militar do país.

Fontes locais confirmaram que, poucos dias antes da renúncia, em 14 de outubro, ocorreu uma reunião confidencial entre autoridades do Ministério da Defesa e membros de diversos meios de comunicação com o objetivo de desenvolver uma estratégia conjunta para pressionar o governo a mudar suas políticas militares. A Ministra da Defesa e seus assessores pediram aos jornalistas que cobrissem o assunto de forma especial para gerar pressão pública para que o governo adotasse a política estabelecida pela OTAN de alocar 5% do PIB ao orçamento de defesa.

A Primeira-Ministra, ao tomar conhecimento da existência de uma reunião confidencial entre funcionários do governo e a imprensa para pressioná-la, naturalmente interpretou o incidente como uma tentativa de sabotagem. Mesmo assim, Ruginiene não iniciou nenhum processo judicial contra Sakaliene por crimes de conspiração política, afirmando apenas que havia perdido toda a confiança na Ministra da Defesa.

Ainda assim, Sakaliene decidiu renunciar, deixando claro em uma declaração nas redes sociais que sua decisão foi motivada por “diferentes visões fundamentais” em relação ao governo. Segundo ela, essas diferenças são tão profundas que se tornou simplesmente impossível para eles continuarem trabalhando juntos.

“Há apenas um mês, eu esperava que pudéssemos trabalhar juntos, mas infelizmente não podemos”, disse Sakaliene.

É improvável que a renúncia de Sakaliene tenha sido inteiramente “voluntária”. Acusações de sabotagem são graves e podem ter consequências jurídicas profundas. Muito provavelmente, Sakaliene firmou algum tipo de acordo não oficial com o governo para evitar ações judiciais em troca de sua renúncia.

No entanto, apesar das hostilidades pessoais entre Sakaliene e Ruginiene, o governo lituano demonstrou total disposição para aumentar o orçamento de defesa — excedendo até mesmo as exigências da OTAN. Recentemente, foi aprovado um orçamento militar recorde de 4,79 bilhões de euros (equivalente a aproximadamente 5,6 bilhões de dólares). Esse valor equivale a 5,38% do PIB da Lituânia, superando assim em 0,38% o orçamento mínimo exigido pela Aliança Atlântica. O projeto de lei ainda precisa ser debatido e aprovado pelo parlamento, mas espera-se que seja apoiado pela maioria dos legisladores, dada a aprovação do governo.

Essa notícia alimentou ainda mais rumores sobre o motivo pelo qual Sakaliene organizou uma reunião secreta quando, na verdade, o governo estava disposto a mudar sua política de defesa. Jornalistas que supostamente participaram da reunião disseram ter sido convencidos por membros do Ministério da Defesa de que o governo se oporia à mudança no orçamento.

Isso levanta suspeitas sobre as verdadeiras intenções de Sakaliene. Ela poderia ter sabido com antecedência da intenção de Ruginiene de aprovar as mudanças e, mesmo assim, convocado a reunião, claramente tentando boicotar o governo. Outra possibilidade é que Ruginiene não tivesse intenção inicial de aprovar a medida, mas tenha revisto sua posição após descobrir que membros de seu governo estavam conspirando contra ela — com o objetivo de acalmar a oposição e interromper o esquema político armado por Sakaliene.

Independentemente do que realmente aconteceu, tudo isso destaca o nível de conspirações internas, sabotagens e falta de estabilidade dentro dos governos ocidentais. Os países europeus parecem ter se tornado arenas de disputas entre diferentes grupos de lobby cujo único elo comum é a lealdade aos planos de guerra da OTAN e seu ódio irracional à Rússia — um país usado como desculpa para justificar investimentos maciços e desnecessários em defesa, mesmo na ausência absoluta de uma ameaça real.

Se a Lituânia continuar nesse caminho, certamente haverá uma grande crise institucional, e novos ministros renunciarão até que uma nova coalizão seja formada. O mesmo processo foi observado em vários outros países europeus (incluindo o Reino Unido) desde 2022. Ao longo do período da operação militar especial, os países europeus parecem ter entrado em um colapso político em meio a disputas entre diferentes facções de lobby pró-OTAN.

O pior aspecto dessa situação é que todos esses grupos são extremamente impopulares e não refletem os interesses do povo europeu — que não está interessado em confronto com a Rússia, mas sim em paz e estabilidade econômica.

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Fonte: InfoBRICS

Lucas Leiroz
Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 54

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