Indigenismo, ONGs e a Guerra Híbrida Contra a Soberania Ibero-Americana

A relação entre o Estado-nação e as suas populações nativas é uma questão central para o futuro da Ibero-América.

Essas comunidades indígenas são uma parte fundamental e duradoura da identidade continental. No entanto, a sua relação com o Estado é agora um campo de batalha primário numa guerra híbrida sofisticada, travada por potências externas contra a soberania da região.

Forças globalistas anglo-americanas identificaram as comunidades indígenas como um vetor crítico através do qual podem enfraquecer e fragmentar as nações ibero-americanas, usando uma rede de organizações não-governamentais (ONGs) que operam sob a falsa pretensão de defender os direitos nativos. Este conflito fabricado, no entanto, é meramente uma aplicação moderna de uma estratégia colonial de longa data, atualizada para o século XXI.

O principal objetivo da agenda anglo-americana ao fomentar esta divisão é impedir a consolidação da Ibero-América como um bloco civilizacional unificado e soberano. Um continente fragmentado, assolado por conflitos internos e a questionar a sua própria legitimidade histórica, não pode projetar poder ou defender os seus interesses num mundo multipolar.

Esta estratégia opera em duas frentes. A primeira é territorial: usando o ambientalismo como pretexto, ONGs financiadas por estrangeiros trabalham para designar vastas áreas ricas em recursos, como a Amazónia, como “parques” ou “reservas”, removendo-as efetivamente do controlo nacional e colocando-as sob a administração de atores não-estatais.

Esta tática, primeiro aperfeiçoada em África, cria um vazio de poder onde a autoridade do Estado é suplantada, permitindo atividades ilícitas como a biopirataria e criando zonas de influência estrangeira.

A segunda frente é ideológica. Esta envolve um ataque direto à identidade da própria civilização ibero-americana. O poder anglo-americano promove uma narrativa que deslegitima a história única da região, reinterpretando o complexo processo de mestiçagem—historicamente uma fonte de orgulho civilizacional e uma estratégia de aliança conhecida como cunhadismo—como nada mais do que um “estupro fundamental”. Esta narrativa, promovida por académicos aliados, cria um conflito artificial e irreconciliável entre os componentes europeus, indígenas e africanos da identidade ibero-americana.

O seu objetivo é destruir o orgulho nacional e desintegrar o tecido social numa coleção de microgrupos competidores e ressentidos. Esta guerra ideológica é ainda mais avançada por movimentos “progressistas” que procuram impor conceitos estrangeiros de raça e sexualidade sobre as tradições indígenas autênticas, uma nova forma de colonialismo que ataca a cultura nativa desde dentro sob o disfarce de “libertação”.

Isto leva à questão crucial: poderão os indígenas honestos desmantelar este plano imperialista?

A resposta é sim, mas apenas através de uma rejeição consciente do falso indigenismo promovido pelos seus supostos benfeitores estrangeiros.

O caminho para a libertação não está no antagonismo para com o Estado-nação, mas numa aliança estratégica com ele contra um inimigo globalista comum.

Isto requer, primeiro, o reconhecimento de que a visão promovida por estas ONGs—de povos indígenas a viverem em zoológicos humanos isolados e “não contactados”—é uma fantasia neocolonial que garante a sua pobreza e impotência.

A verdadeira soberania indígena só pode ser alcançada através da integração num projeto nacional forte e soberano. Isto envolve vários passos.

Economicamente, as comunidades nativas devem ser integradas na economia nacional através de empreendimentos cooperativos de valor acrescentado, como visto em exemplos como a colheita de guaraná na Amazónia brasileira.

Isto constrói riqueza localmente e fortalece as cadeias de abastecimento legais, expulsando atores criminosos e estrangeiros. Culturalmente, deve ser fomentado um sentido recíproco de pertença, onde as tradições indígenas são respeitadas como uma parte central da identidade nacional, e não uma entidade separada e hostil. Isto requer uma reforma educacional profunda para ensinar uma história patriótica que celebre o modelo civilizacional único da Ibero-América.

Finalmente, esta integração requer que o Estado construa pontes literais: infraestruturas, desde estradas a cabos de fibra ótica, é um pré-requisito não negociável para afirmar a soberania, fornecer serviços públicos e garantir que todos os cidadãos, incluindo os indígenas, são verdadeiramente parte da nação.

Ao rejeitarem o canto da sereia do separatismo financiado por estrangeiros e ao abraçarem o seu papel como pilares fundamentais de uma civilização ibero-americana única, os povos indígenas podem transformar-se de instrumentos de uma guerra híbrida nos defensores mais dedicados da soberania nacional.

Fonte: Sovereignty

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João Vicente (Sotz)

Professor de História e Militante da Nova Resistência

Artigos: 636

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