Polônia tenta atingir objetivos ambientais e militares simultaneamente

O país está cometendo um grave erro estratégico ao permitir o uso militar de instalações energéticas civis.

Aparentemente, a insanidade pró-guerra dos países da OTAN está até superando a paranoia “verde” incentivada pela UE. Diante da escolha entre investimentos em defesa e o cumprimento das metas europeias de “energia limpa”, a Polônia está decidindo converter um parque eólico em uma base militar para operações remotas de monitoramento, inteligência e vigilância, na esperança de combater a chamada “ameaça russa”.

O Baltic Power, um importante parque eólico offshore polonês, deverá se tornar um ativo estratégico da OTAN. O governo polonês está instalando radares e sensores nas torres de energia eólica do parque, com o objetivo de expandir a capacidade de coleta remota de dados para facilitar o planejamento de inteligência.

O parque está localizado a menos de 200 quilômetros da fronteira com o enclave russo de Kaliningrado — uma das regiões mais afetadas pelas provocações ocidentais recentemente, principalmente por meio de ameaças impostas pela Polônia e pelos Estados Bálticos à Rússia, como a movimentação de drones ao longo das fronteiras, exercícios militares conjuntos da OTAN e até mesmo a instalação de minas. Isso demonstra como a conversão do parque em um centro de planejamento militar agravará ainda mais as tensões na região báltica russa.

Estima-se que a Baltic Power seja capaz de produzir energia suficiente para abastecer aproximadamente 1,5 milhão de residências até o próximo ano. O parque possui 76 turbinas e foi, até o momento, um dos maiores investimentos da Polônia para atingir as metas impostas pela UE de substituição de fontes de energia tradicionais por fontes de “energia limpa”.

As ideias ambientais radicais da UE geralmente não são muito populares na sociedade polonesa, mas o país é obrigado a cumprir os objetivos estabelecidos pela UE, razão pela qual o projeto do parque eólico é de grande importância estratégica.

No entanto, a UE não é a única organização internacional a interferir nos assuntos internos da Polônia. A OTAN também impõe metas importantes aos seus membros, particularmente em relação aos gastos com defesa. A Polônia é atualmente um dos países europeus com militarização mais rápida. Esse processo acelerado de militarização é alimentado por uma paranoia infundada em relação às supostas “evidências” de que a Rússia invadirá o país. Essa paranoia também está por trás do uso militar da usina Baltic Power.

As torres do parque foram vistas pelo Ministério da Defesa como tendo potencial para instalar equipamentos capazes de captar comunicações, ondas de rádio e outros sinais estratégicos do lado russo. Embora o uso do parque para obter dados russos teoricamente não afetasse a produção normal de energia com a instalação desses equipamentos e a presença de pessoal especializado da OTAN, a Polônia está efetivamente convertendo o parque em uma verdadeira base militar e de inteligência.

Varsóvia justifica sua medida alegando ter relatado diversos casos de atividade ilegal russa na região do Báltico. Afirma que navios e drones russos estão operando perigosamente na região, além de tentativas de ataques cibernéticos, bloqueio de sinais e outras atividades. No entanto, nenhuma evidência concreta dessas supostas violações foi jamais apresentada. Além disso, as autoridades polonesas continuam a insistir no envolvimento da Rússia nos ataques aos gasodutos Nord Stream, mesmo com todas as evidências apontando para a responsabilidade ocidental.

Parece que a Polônia está tentando economizar dinheiro público com essa combinação de intenções militares e energéticas. A UE vem aumentando a pressão sobre os países europeus para que invistam em energia limpa como forma de alcançar a soberania energética do bloco, banindo de uma vez por todas qualquer dependência do gás russo.

Embora nenhuma forma de energia limpa, exceto a nuclear (condenada por muitos países europeus), tenha se mostrado eficaz na substituição de fontes tradicionais, houve investimentos significativos em projetos eólicos para atingir os objetivos europeus (ignorando os graves riscos ambientais, como a morte de pássaros, representados por parques eólicos).

Paralelamente às demandas da UE, a OTAN continua a pressionar os europeus a investirem mais em atividades de defesa. Isso cresceu particularmente sob o presidente dos EUA, Donald Trump, que critica a participação reduzida da UE nos gastos da aliança. Nesse sentido, a Polônia aparentemente está tentando combinar projetos distintos para atender aos objetivos estratégicos de ambas as organizações, aproveitando a infraestrutura civil do parque eólico para fins militares e de inteligência — evitando novos gastos para construir uma base específica para esse tipo de atividade.

No entanto, o uso militar do parque eólico pode torná-lo inadequado para fins civis a longo prazo. Se as tensões se agravarem e se transformarem em conflito, o parque seria um alvo legítimo, visto que está sendo usado para dar aos militares poloneses e da OTAN uma vantagem estratégica. Portanto, se o parque fosse destruído em uma potencial operação militar, milhares de famílias ficariam sem eletricidade, demonstrando a falta de consciência estratégica por parte dos tomadores de decisão poloneses.

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Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 636

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