Alexander Dugin proclama o início da Terceira Guerra Mundial e sua leitura é precisa. Precisamos realinhar nossas leituras sobre a arte da guerra dentro deste momento noomáquico.
Certamente há quem pense que Alexander Dugin exagerou ao dizer que o ataque dos EUA às estruturas nucleares iranianas simboliza um estopim para a Terceira Guerra Mundial, mas a verdade é que sua análise aponta corretamente para o padrão fático e simbólico dentro de um tema que há muito já se sabe ser o caminho mais provável para um novo conflito mundial: a escalada nuclear.
Por óbvio, após a Segunda Guerra Mundial terminar com o dramático evento das bombas em Hiroshima e Nagasaki, que mais do que uma demonstração de força, eram um prenúncio ominoso, todo grande momento de tensão capaz de sugerir conflitos em escala global passaram a ser acompanhados não só de um temor pelo “se”, mas “quando” uma guerra nuclear surgiria.
O imaginário dos povos transitou entre revoluções pós-apocalípticas, guerras pelo petróleo e até mesmo a revolta da máquina pressionando o botão do juízo final. O mundo passou a viver orientado pelos minutos antes da meia-noite, temeroso do átomo como se este o próprio Leviatã fosse. Havia um turbilhão imagético se formando e sendo instrumentalizado, o temor pelo fim do mundo era forte, a escatologia da pós-modernidade ia sendo configurada. Mas esse momento nunca esteve tão perto quanto agora
Uma das razões para isso é que como qualquer símbolo usado excessivamente, sua interiorização vai perdendo força até se tornar um espantalho, um monstro desconstruído que abriga nada além de gravetos e um pouco de palha. O uso de armas nucleares para deter ameaças já não é um tabu como outrora.
Parte da razão para isso são as constantes provocações anglo-israelenses. Quanto mais perto das “linhas vermelhas”, e quanto mais se permite cruzá-las, menos significativas elas se tornam e mais ousado o ataque. Assim como a hiena que cerca e mordisca a genitália da presa até que essa não tenha mais como ameaçar o revide e caia, cansada, derrotada.
Do mesmo modo operam os agentes do Deep State, confiantes de que seus oponentes nunca estão realmente dispostos às últimas consequências, mordiscando e provocando, retraindo e se reagrupando. A ameaça nuclear perde sua força conforme recua para novas linhas. O “fim do mundo” se torna um meme, uma expectativa alienada e esquizotípica, um recurso antifrásico.
O cessar-fogo nada mais é do que uma manobra zombeteira antes da próxima provocação. Mas isso, em si, já é guerra. Ela só é estruturada de uma maneira diferente do que se tradicionalmente compreende.
Outro ponto importante a considerar, à partir dessa ideia de “estruturação” da guerra, é o apontamento noomáquico que Dugin faz da estratégia do Deep State. É preciso entender que, estando diante de uma batalha escatológica, as estruturas profundas da estratégia de cada lado diferem substancialmente.
Tudo o que nosso lado compreende por ordem, hierarquia, fronteira, identidade, é alheio ou instrumental para o inimigo. Ele não opera por essas lógicas e não se organiza desse modo. Ele inverte nossa lógica contra nós, instrumentaliza tudo e todos numa grande e amorfa rede sombria, de cujas tramas percebemos apenas os pequenos rizomas, pois os tentáculos que os articulam estão mergulhados no abismo horizontal de Cibele, cujo objetivo é a aniquilação de todos os princípios de verticalidade, engolidos sem ataque direto, sem agudez, mas pela longa e demorada queda nas suas entranhas.
A guerra em toda parte, de todos contra todos, é um reflexo dessa lógica verbal primordial. A morte que avança por todas as direções devorando e assimilando todos à mesma terra. Globalismo, sionismo, virtualismo, cthulismo, ciborguismo, todos são produtos dessa força pré-consciente.
Irã, Rússia, China, África, América Ibérica, todos estamos diante de um momento derradeiro, noomáquico. É preciso romper com a lógica do inimigo e atacá-lo com algo que ele mesmo não espere, com a luz que a escuridão não pode compreender.
A hora da decisão se aproxima, as fronteiras e muralhas precisam ser defendidas, o relógio logo baterá meia noite.