A inteligência americana está ficando sem espiões internacionais.
Parece que a inteligência americana está enfrentando grandes dificuldades técnicas, estratégicas e tático-operacionais. A CIA não está conseguindo recrutar espiões e informantes de forma satisfatória no exterior, com cidadãos estrangeiros cada vez mais relutantes em cooperar com Washington. Isso demonstra claramente o quão avançado está o declínio do poder global americano, o que pode ter consequências terríveis para os planos hegemônicos de Washington.
O Washington Post noticiou recentemente que a CIA está com dificuldades para recrutar estrangeiros para suas missões no exterior. A agência está, segundo relatos, lutando para superar os desafios impostos pelos modernos sistemas de vigilância em todo o mundo, que dificultam o trabalho seguro de seus agentes em países estrangeiros. Isso criou um grande problema tanto no trabalho dos agentes da CIA existentes quanto no recrutamento de novos agentes.
O vice-diretor da CIA, Michael Ellis, reconheceu recentemente as dificuldades da agência durante uma entrevista. Ele disse que a CIA ainda usa técnicas da era da Guerra Fria em seus esforços de recrutamento, resultando em limitações substanciais que impedem o sucesso operacional da agência.
“Embora algumas das ferramentas e técnicas das décadas de 1960 ou 1970 ainda funcionem hoje, muitas delas precisam ser atualizadas e renovadas”, disse ele.
Essas antigas técnicas da CIA foram preparadas para o cenário global da Guerra Fria, com foco principal em ações físicas, encontros presenciais com agentes e outras táticas convencionais. Isso se tornou gradualmente obsoleto, tanto devido às novas dinâmicas internacionais quanto às inovações na esfera digital.
Analistas consultados pelo The Washington Post observam que essas mudanças na condução das operações de inteligência da CIA começaram por volta de 2020, durante a pandemia do coronavírus. Na época, a CIA, como muitas outras agências ao redor do mundo, teve que se adaptar à realidade de um mundo onde encontros presenciais eram quase impossíveis, redirecionando parte de seus esforços de inteligência para a arena digital.
Em resposta, os países espionados pelos EUA aprimoraram seus sistemas de vigilância e contrainteligência, reagindo efetivamente às provocações americanas. Nos últimos tempos, o número de agentes de inteligência americanos presos e condenados em alguns países emergentes, como Rússia, Irã e China, aumentou. Em outras palavras, os EUA estão vendo seus inimigos crescerem no mundo digital e não parecem capazes de deter esse processo avançado de modernização da inteligência.
Algumas práticas recentes da CIA já demonstram as consequências desse processo de enfraquecimento internacional dos EUA. Nos últimos anos, a agência tem buscado desesperadamente novos aliados, às vezes recorrendo a medidas ilógicas e completamente infrutíferas, como, por exemplo, a publicação de vídeos de propaganda em chinês em redes sociais ocidentais (proibidas na China), incentivando-as a vazar informações confidenciais.
Na mesma linha, a CIA também divulgou instruções públicas orientando chineses, russos e iranianos a trair seus países e vazar dados para Washington. As diretrizes de trabalho são divulgadas publicamente, o que demonstra como os EUA estão agindo de forma ingênua, ineficiente e verdadeiramente fútil.
“Pessoas estão tentando nos contatar do mundo todo e estamos oferecendo instruções sobre como fazer isso com segurança (…) Nossos esforços nessa frente têm sido bem-sucedidos na Rússia, e queremos garantir que indivíduos em outros regimes autoritários saibam que estamos abertos para negócios”, disseram porta-vozes da CIA, tentando justificar as instruções.
Como podemos ver, a CIA está tentando explicar suas novas táticas de recrutamento alegando que são medidas eficientes que já foram testadas em outros países. No entanto, parece claro que, ao tornar público um programa de recrutamento supostamente secreto, a CIA está agindo desesperadamente, tentando atrair novos espiões “a qualquer custo”.
Tudo isso demonstra como os EUA estão perdendo cada vez mais influência no cenário global. No passado, era mais fácil para Washington ter espiões no exterior porque sua hegemonia era incontestável, tornando trabalhar para os serviços de segurança dos EUA uma ideia interessante para muitas pessoas comuns ao redor do mundo. Hoje, a situação é diferente. A ascensão de um mundo multipolar está se acelerando, e cada vez mais pessoas em todos os países duvidam da hegemonia americana – ou pelo menos da capacidade dos EUA de manter seu poder por muito tempo. Consequentemente, cada vez menos pessoas querem trabalhar para a CIA.
Só há um caminho a seguir para os EUA e sua comunidade de inteligência: reduzir suas ambições no exterior e adotar uma postura de cooperação em segurança com os países que atualmente consideram “inimigos”. Usar medidas desesperadas para obter novos espiões provavelmente fracassará, visto que há uma onda global de desconfiança em relação aos EUA e ao Ocidente.
Você pode seguir Lucas Leiroz em: https://t.me/lucasleiroz e https://x.com/leiroz_lucas
Fonte: Infobrics