Família Gracie: Uma Dinastia Mística Brasileira

As origens da família Gracie, uma dinastia brasileira entre a realidade e os mitos indo-europeus.

Antes de começar mais um texto sobre como a história de uma família tão brasileira, se conecta a conceitos indo-europeus antiquíssimos, eu gostaria de esclarecer uma coisa sobre essas sociedades usadas de comparação no texto a seguir.

As sociedades indo-europeias eram patriarcais, bélicas e extremamente estratificadas, sendo assim, a realeza era composta por uma linhagem fundada por heróis e grandes conquistadores, e a esses heróis conquistadores, eram atribuídas capacidades mágicas. Eles eram vistos como pessoas com dons especiais, diferentes do resto do povo, não só eram grandes guerreiros, como também feiticeiros, conversavam com os animais, seu toque era capaz de curar, entre diversas outras capacidades (para referência a isso, recomendo a leitura do Rígsþula, o poema indo europeu mais completo a tratar sobre a disposição das castas e os talentos inerentes à realeza) e a demonstração dessas capacidades lhes garantiam o direito a governar o resto dos homens…

Pois bem, acho que essa introdução é o bastante para que possam entender o que torna a história dessa família, tão especial à luz da Tradição; por isso vou falar um pouco sobre a Família Gracie e a importância no cenário das artes marciais e, consequentemente, no cenário espiritual do Brasil. Portanto, eu vou traçar muitos paralelos entre os acontecimentos na família e lendas indo-europeias aqui no texto.

Quero começar citando que eles eram originalmente escoceses, que chegaram aqui através de George Gracie em 1801 no Rio de Janeiro, e desde então a família gerou diversos diplomatas e pessoas importantes pro desenvolvimento brasileiro na época. Os membros da família tiveram um esforço hercúleo para se misturarem ao máximo com a população brasileira e adotarem da melhor forma possível a identidade brasileira (na lápide de George Gracie consta “George Gracie Of Brazil”, mesmo tendo nascido e crescido na Escócia).

O filho de George Gracie, Pedro Gracie, se tornou um importante empresário do Rio de Janeiro, e era associado diretamente à realeza e à alta casta da época, sendo amigo do Barão de Mauá e de Dom Pedro II.

Pedro enviou os filhos homens para passarem uns tempos estudando na Europa, inclusive Gastão Gracie, que vem a ser o verdadeiro patriarca da dinastia. Mais tarde, Gastão voltou ao Brasil, se mudou para Belém e se casou com uma cearense lá.

Obs.: Eu gosto de afirmar que Gastão foi o verdadeiro patriarca da família, pois ele tinha o espírito do guerreiro aventureiro muito antes deles conhecerem as artes marciais. Era um aventureiro brigão, amava a natureza, produzia e armazenava dinamite em casa com a ajuda dos filhos, chegando ao ponto dos filhos se sentarem em casa em cima de dinamite. Era um amante da liberdade e do perigo.

Aqui o misticismo começa, pois existe uma importância na ligação Belém × Rio de Janeiro no âmbito de lutas sagradas. Muitas décadas depois de Gastão, a família Machida, por exemplo, família do lutador de UFC Lyoto Machida, que venceu várias vezes utilizando um método tradicional e brutal de Karate Shotokan, veio do Japão para Belém e lá se estabeleceu e permanecem até os dias de hoje. Lá foi palco de diversas lutas de vale tudo ilegais, e os primórdios do que seria considerado o UFC se deram lá e no RJ.

Pois bem, Gastão Gracie teve 8 filhos (todos os Gracie mesmo antes de serem iniciados nas artes marciais, tinham muitos filhos, pois já chegaram aqui no Brasil com a ideia de criar uma dinastia/contingente de soldados familiares), dentre esses 8 filhos, se destaca Carlos e Hélio Gracie, os criadores do Jiu Jitsu Brasileiro, a quem eu equiparo a Hengst e Horsa pros germânicos e Castor e Pólux pros gregos, o mito dos gêmeos divinos indo-europeus, manifestados na constelação de gêmeos. Apesar de haver certa diferença de idade entre Hélio e Carlos, eles encarnaram o mito de maneira excelente.

Gastão conheceu um imigrante japonês em Belém chamado Mitsuyo Maeda, esse imigrante não era apenas praticante de judô, como também foi aluno do fundador do Judô Jigoro Kano. Ele ficou impressionado com as capacidades marciais de Mitsuyo Maeda, e colocou seu filho Carlos Gracie pra ser aluno de Maeda. Carlos se aprofundou na arte e passou a ensinar pros irmãos o que na época era chamado de Kano Ju Jutsu. Carlos era um jovem inquieto e (segundo a própria família dele) tinha espiritualidade muito aflorada e incompreendida, visto que tinha muitos pesadelos, era sonâmbulo (chegando a acordar em cima de árvores), era muito sensitivo e tinha episódios mediúnicos (o que, como foi muito bem colocado por sua filha Reila, em algumas entrevistas, como um sinal de uma força xamânica latente).

Carlos e os irmãos se mudaram para o Rio de Janeiro, e lá ele abriu uma academia do que eles chamavam de Jiu Jitsu (quem conhece a história antiga, sabe que o certo seria Ju Jutsu, mas os Gracie, até hoje, têm a própria forma de falar várias palavras até do português, e o Jiu Jitsu Brasileiro ficou tão relevante no cenário mundial, que suprimiu o Ju Jutsu Japonês tradicional).

O irmão de Carlos, Hélio Gracie, tinha sérios problemas de saúde, e por conta disso era incapaz de lutar de igual pra igual com os irmãos, ele e Carlos eram muito próximos e Carlos o protegia demais, por conta disso ele apenas assistiu às aulas por alguns anos, e fazia lutas escondidas do Carlos com os outros irmãos, onde desenvolveu técnicas nas quais ele com pouco peso e força física, fosse capaz de utilizar alavancas e torções que o permitissem subjugar oponentes maiores e mais pesados com o mínimo de esforço possível.

Um dia, um aluno foi fazer uma aula com o Carlos, e o próprio havia se ausentado no momento e chegaria atrasado, o Hélio aproveitou a oportunidade e ensinou ao aluno de uma forma mais dinâmica e fácil de aplicar os golpes, com tudo que ele havia observado. O aluno decidiu que passaria a fazer as aulas com o Hélio e não com o Carlos.

A partir daí os papéis se invertem, pois o Hélio passa a ser não apenas o instrutor de artes marciais como também um lutador de vale tudo, ele literalmente é expurgado das fraquezas físicas dele, através da prática do combate incessante, e aqui eu faço um adendo; essa alquimia que Hélio sofre assim que se aceita como um guerreiro, independente da sua debilidade física, é uma clara manifestação de Aretê, do conceito grego de excelência e virtude, principalmente associado a heróis e guerreiros (a própria palavra tem a mesma raiz etimológica que Aristocracia), quando estavam vivenciando o máximo de suas virtudes em combate, e assim, se tornavam mais próximos de sua centelha divina.

Nesse período, ele passa a ser o general da família e inclusive passa a ser o protetor do Carlos, enquanto o Carlos assume papéis devocionais, se envolve com esoterismo e passa a ser o líder sacerdotal da família, inclusive se tornando o portador da Égide (conceito indo europeu manifestado na cultura grega através da Égide/Aegis de Atena, que amedrontava os inimigos e protegia o herói, e na cultura nórdica através do Ægishjalmr, um capacete que protegia o herói, lhe tirava as amarras do medo e instilava medo nos inimigos), visto que ele dava o poder da ausência do medo, da dor e de feridas aos seus lutadores, isso é narrado em dois episódios, um no qual Carlos reclama que Hélio não está confiando nos métodos dele, Hélio senta na janela da academia e diz “é só você me pedir pra pular que eu pulo na hora” e outro no qual estão em um navio, e um rapaz cai do navio e começa a se afogar numa região que tem muito tubarão, e Hélio decide pular para resgata-lo, porém antes ele se consulta com Carlos pedindo permissão, e Carlos garante que ele pode pular pois nada pode feri-lo, então Carlos garantia proteção divina a seu irmão e seus filhos.

Hélio teve 9 filhos e Carlos teve 21, que ele deixava para o Hélio criar e cuidar (inclusive chamavam o Hélio de pai) enquanto ele cuidava dos assuntos financeiros e espirituais da família.

Carlos teve várias mulheres, a primeira namorada dele se suicidou em delírio causado por uma infecção de tifo (esse tipo de episódio é recorrente na vida de magistas, um bom exemplo conhecido são as mulheres de Aleister Crowley), a primeira esposa de Carlos contraiu tuberculose e foi isolada em um sanatório, Carlos visitava ela regularmente sem o uso de proteção e a beijava na boca, sem nunca ter contraído tuberculose pois ele já tinha um avançado conhecimento de medicina alternativa pra época, e nos últimos dias de vida da esposa ele conseguiu uma autorização pra dormir com ela no sanatório.

Após a morte dela, ele passou muito tempo visitando o sanatório e ajudando no desenvolvimento de métodos de tratamento alternativo inspirados nas leituras que ele fazia. Carlos tinha um sócio numa empresa de comércio exterior chamado Oscar Santa Maria, esse sócio o apresentou aos círculos esotéricos no Rio e ele começou a frequentar casas de espiritismo e lojas rosacrucianas, lá Carlos descobriu que era protegido por uma entidade, o espírito de um peruano chamado Mestre Lasiovino, e passou a incorporar e ser o intermédio dessa entidade com a família dele e com Oscar Santa Maria, dizia ser capaz de se tornar invisível, conseguia mudar as estações de rádio com o poder da mente, entre outros poderes paranormais.

Aí vem a questão interessante, Carlos e Oscar Santa Maria começam uma duplicidade mágica semelhante ao dos magistas John Dee e Edward Kelley, na qual Carlos incorpora a entidade e a Oscar realiza os empreendimentos que a entidade mandava, mas Oscar começou a ficar desconfiado da entidade, pois a entidade pediu que Oscar prestasse a namorada dele pra Carlos(tal qual os anjos enoquianos fizeram com Dee e Kelley) fecundar e fazer um filho, e a namorada de Oscar gostava demais de Carlos, porque ele era mais compromissado e dado a casamento do que Oscar em si, por fim, Carlos fez três filhos nela, e Oscar decidiu tanto se separar deles espiritualmente quanto deixou de ser sócio de Carlos acusando ele de estelionato.

Carlos nesse inteirinho se tornou vegetariano, adotando uma dieta muito semelhante a dieta praticada pela casta dos brâmanes (não comia carne mas consumia doses cavalares de laticínios de boa procedência para o seu fortalecimento) com intuito de melhorar a espiritualidade, dessas experiências com dietas orientais, ele vem a desenvolver junto com o Hélio o que é chamado de Dieta Gracie, que é considerada a dieta perfeita pra lutadores pois impede o corpo de entrar em estados inflamatórios (inflamações que levam a sonolência após refeição por dificuldade de quebrar o alimento, estresse, flatulência, e posteriormente doenças mais sérias como câncer), a dieta consiste em vários pontos como não misturar mais de um cereal ou mais de uma fonte de amido no prato, não misturar determinados alimentos para não aumentar a acidez no sangue, etc.

Pois bem, essa primeira parte foi sobre os aspectos esotéricos manifestados no sacerdócio do Carlos Gracie, de agora em diante falarei dos aspectos esotéricos heroicos manifestados na arte marcial do Jiu Jitsu do Hélio.

Pra começar eu gostaria de ressaltar que a ideia de um Jiu Jitsu que faz com que uma pessoa menor subjugue uma maior através da técnica e da manifestação do espírito combativo, não começou exatamente com os Gracie mas foi amadurecido pelas necessidades especiais do Hélio, mas o próprio Jigoro Kano, criador do Judô, na juventude tinha só 1,57 de altura e pesava 40kg, era pequeno e franzino até pros padrões japoneses, e sofria assédios constantes, até que um militar amigo da família o recomendou o chamado Ju Jutsu (o tradicional japonês) pra que ele se fortalecesse, e a partir do Ju Jutsu tradicional, ele desenvolveu novas técnicas mesclando com sumô e até mesmo outras artes de grappling ocidentais, tais como wrestling, para criar o que no momento era chamado de Ju Jutsu Kano, que posteriormente vem a se tornar o Judô.

Ele se torna mestre, e consequentemente recebe um aluno de baixa estatura chamado Mitsuyo Maeda, que na época tinha 1,64 de altura, e ele envia esse aluno para ser treinado com o mestre Tomita Tsunejiro, um dos quatro reis celestiais do Kodokan, também de baixa estatura, recebeu esse posto por ter combatido outras escolas de Ju Jutsu e vencido oponentes maiores e mais pesados de outras artes, até mesmo de Sumô.

Maeda se torna um grande artista marcial, vem para o Brasil e ensina a Carlos, que ensina aos irmãos, e consequentemente ao franzino Hélio, e a partir daí Hélio faz história, ou seja, ocorreu toda uma linhagem de guerreiros franzinos com espíritos ferozes, abatendo valentões com técnica e devoção a arte marcial.

Eu gosto de ressaltar que essa característica marcante no Jiu Jitsu Brasileiro me lembra muito a história dos Aesir, pois eles eram uma tribo fechada de guerreiros e místicos devotos, vivendo numa cidade murada cerceada por gigantes que eram manifestações das próprias forças da entropia, mas através de técnicas, inteligência e uma vontade avassaladora manifestada pela lança gungnir (que nessa analogia é manifestada pela própria arte marcial) Odin colocou o mundo debaixo da sua vontade, e isso também é uma manifestação do Aretê, pois Homero sempre ressaltava na Ilíada, os momentos nos quais os heróis aqueus eram preenchidos de valor, e saltavam sozinhos contra hordas inimigas, massacrando esses inimigos com brutalidade, mesmo cercados.

O Jiu Jitsu Brasileiro se popularizou enfrentando outras artes marciais, não coloco isso em ponto negando a eficiência das outras artes marciais, mas a prática marcial em si havia perdido a identidade do combate (exceto da capoeira, que por ser brasileira, sempre teve uma veia de combate, ainda mais por seu contexto histórico de resistência dos quilombos contra as tropas coloniais), por diversos problemas culturais ocorridos no Japão quando os samurais foram subjugados pelo império.

As artes marciais num panorama geral haviam se tornado técnicas de autodefesa e aperfeiçoamento espiritual, ambas válidas, mas haviam perdido o sentido da guerra e do combate direto (ciente de que numa guerra lutamos com armas, a arte marcial ainda assim é uma preparação para o ambiente da guerra, uma preparação essencial, de controle da movimentação do adversário, paciência, intuição, resistência, autocontrole)

Portanto, os Gracie colocavam o método deles a prova invadindo academias e desafiando outros lutadores ao combate com eles, esse método tanto aumentou a popularidade do Jiu Jitsu Gracie quanto obrigou as outras artes marciais a se adaptarem ao Jiu Jitsu e retomarem sua identidade combativa.

A partir dessa questão dos desafios constantes, surgem os primeiros torneios de vale tudo para que um lutador pudesse desafiar outra arte marcial para que o público enxergasse a eficácia da arte.

Esses torneios eram proibidos e criminalizados constantemente pelo estado por conta da violência, mas como a família Gracie treinava muitos policiais do Rio, a polícia constantemente fazia vista grossa para as brigas causadas (invadiam academias, invadiam baladas, faziam lutas clandestinas, Carlos Gracie foi um dos primeiros apostadores de rinha de galo do RJ, esporte trazido por ele de Belém).

Por conta dessa associação com a polícia e as famílias tradicionais do Rio, os Gracie se elitizaram e a academia se tornou inacessível a pessoas de classe baixa, em resposta a isso surgem dois fenômenos, a academia Fadda (criada por Osvaldo Fadda, um carioca que foi treinado por Luiz França, um judoca também de Belém que foi treinado também pelo Maeda) e a Luta Livre (um método de luta agarrada inspirado no judô e no wrestling tradicional) ambos focados em tornarem as artes marciais mais acessíveis às pessoas de classe baixa do Rio de Janeiro, e demonstrarem que o wrestling não pertencia apenas aos Gracie.

Muitos Gracie saíram do país para promoverem a arte marcial no exterior, principalmente no litoral Norte Americano, visto que além de artistas marciais, os Gracie também eram surfistas (e é bom sempre lembrar que o surf era um esporte sagrado pros guerreiros havaianos, uma forma de treinamento para guerra e de devoção ao mar, o esporte de um elite bélica, e que na cultura indo-europeia, principalmente entre os nórdicos, natação e esportes aquáticos são símbolos da realeza), lá Rorion Gracie, filho de Hélio Gracie, foi trabalhar como faxineiro e posteriormente dublê e figurante na Califórnia, onde conheceu grandes figuras do cinema e conseguiu popularizar publicamente os desafios feitos contra outros professores de artes marciais, um empresário se interessou por esse tipo de lutas e formou uma sociedade com ele para transformar esses desafios em um programa de televisão, daí nasceu o UFC, os primeiros episódios do UFC contaram com a participação de Royce Gracie, filho mais magro e franzino do Hélio Gracie, que lutou com adversários maiores e mais pesados pra provar que o jiu jitsu o tornaria capaz de vencer qualquer adversário.

O mundo das artes marciais de antes do UFC é totalmente diferente do mundo depois do UFC, na época o Jiu Jitsu dos Gracie, que envolvia soco e chute para encurtar distância, um tipo de strike jiu jitsu, vencia qualquer arte marcial pois ninguém estava adaptado ao grappling deles, o que os empurrou a se aprimorarem e evoluírem as artes.

Pode-se dizer que o jiu jitsu gracie usado na época já era o próprio MMA ou a semente do que seria o MMA, pois eles usavam técnicas de projeção, soco e chute baixo do kickboxing e grappling, de forma que a técnica que era completa em todos os parâmetros marciais, enquanto as artes orientais haviam se desmembrado em diversas modalidades opostas, cada uma com um padrão de técnica.

Eu acredito dentro desse estudo que fiz que o MMA surgiu aqui no Brasil para ressuscitar o que o Karatê, Kung Fu e o Pancracio, foram na sua era dourada, pois em seus primórdios eles tinham técnicas de soco, chute, projeção, solo e imobilização (menção honrosa de que no Kung Fu, em algumas academias tradicionais aqui no Brasil, ainda é feito treinamento de armas brancas também).

Isso serviu também para desmistificar algumas artes marciais orientais que quase não tem contato nem trabalho de força, mas afirmavam que eram capazes de vencer grandes oponentes.

Mesmo que grande parte dos lutadores de MMA antigos tenha começado na carreira exatamente para tentar vencer os Gracie derrubar o cartel de vitórias da família, eles devem aos Gracie por terem os obrigado a aprimorar suas respectivas artes marciais e tudo isso em conjunto ajudou a reencarnar no nosso mundo formas de combate completo que já não eram praticadas há séculos.

Um bom exemplo dessa questão é o ex-lutador de Vale Tudo Marcos Ruas, que começou a competir exatamente por rivalidade com a família Gracie, e era um promotor da luta livre para os mais pobres em sua época, isso era um conflito de gregos e troianos manifestado nos ringues, que ajudou o mundo a conhecer vários heróis dos tempos modernos.

Mesmo que hoje muita gente já seja capaz de vencer os Gracies, tudo isso se deve ao aprimoramento que as outras artes precisaram sofrer para poderem bater os Gracie e sua suposta arrogância, sendo assim até mesmo os atos de arrogância e excesso deles serviu para um bem maior.

Olhando através de um parâmetro místico, os Gracie pagaram por sua arrogância também, a família foi assolada por Hubris diversas vezes, os irmãos não se dão e tem conflitos constantes sobre o uso do nome Gracie, as técnicas, as crenças, as ideias políticas (coisa que o autor não tem interesse nenhum de fazer juízo de valor, pois o envolvimento político dos Gracie se inicia em tempos imperiais, passa pelo Hélio ter tido um rápido envolvimento com o movimento integralista em sua tenra juventude, e termina com parte da família, em tempos modernos, apoiando um lado da luta eleitoral, e parte apoiando o outro, e isso só demonstra o caráter aristocrático da dinastia Gracie, pois comprova sua necessidade de lutar não apenas no octógono e nos ringues, como também nas campanhas sociais e políticas), por fim, muitos Gracie morreram cedo (Rolls Gracie aos 31 voando de asa delta, Rockson Gracie aos 19 de overdose e Ryan Gracie de 33 por overdose de medicamento por culpa do psiquiatra), tiveram vidas intensas, bravas, dedicadas a provações de combate e coragem, e destinos derradeiros.

Voltando as referências a casta guerreira na cultura indo-europeia; no poema das castas nórdico (o Rígsþula) é dito que a casta dos reis eram guerreiros (os Gracie são artistas marciais), eram grandes nadadores (os Gracie são grandes surfistas conhecidíssimos no Brasil e no mundo ), eram caçadores e tinham forte ligação com os animais (há histórias sobre Carlos brincar até com jacarés na fazendo de um tio quando era novo, e os Gracie nos EUA são caçadores, tem alguns vídeos do Royce falando sobre toda a filosofia de conexão e respeito por trás do esporte da caça), há um trecho que fala sobre um rei entalhar e curvar o próprio arco, e Royce Gracie trabalha como hobby com manutenção de armas, modificação etc. (lembro até de Odisseu e seu arco, e Odisseu que talhou a própria cama em Ítaca), são creditados a casta dos reis antigos poderes paranormais, por eles serem a conexão entre o homem e o divino, e nisso temos não apenas o exemplo do sacerdócio e poderes xamânicos de Carlos.

E uma das partes mais importantes dos Rígsþula que eu associo aos Gracie, é que no poema é dito que os reis tinham mãos finas (eu acredito que signifique que o combate deles era tão técnico que eles não tinham calejamento por serem naturalmente nascidos pro combate, e por também viverem cultivando seu vigor apenas para o combate e não para o trabalho braçal, assim como Tácito descreve os guerreiros germânicos em Germânia), e é comum que lutadores de Jiu Jitsu tenham orelha de couve flor e deformações nos nós dos dedos, sendo que os Gracie não tem nenhuma dessas deformações, e em algumas entrevistas, Relson Gracie até caçoa do Royce Gracie (O Gracie que levou a família ao estrelato no UFC) dizendo que ele tem dedos delicados de pianista.

A conclusão disso é que temos dinastias de guerreiros à moda antiga (à moda milenar) residindo no Brasil, dinastias completas de pessoas que trabalham com o combate, com a diplomacia, com a espiritualidade e até mesmo com a medicina, xamãs dos tempos modernos.

Os antigos heróis lendários, os mitos antigos sobre linhagens sagradas destinadas a guerra e a feitos maravilhosos, temos isso surgindo em solo nativo, estamos vendo esses mitos e histórias épicas se reconstruindo aqui no novo mundo, com uma nova identidade cultural, mas com a mesma bravura e valor.

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João Vicente (Sotz)

Professor de História e Militante da Nova Resistência

Artigos: 54

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