Terras Raras e Terras Contestadas

O conflito por terras raras no plano comercial é um dos fatores determinantes da geopolítica contemporânea.

A China anunciou que imporá restrições significativas à exportação de terras raras. Um setor estratégico no qual Pequim é, praticamente, hegemônica. O país controlava cerca de 99% da produção até 2023. A situação não mudou muito, pois as tentativas de desenvolver a extração de terras raras na Austrália, no Vietnã e em outros países continuam totalmente, ou quase, dependentes da indústria de refino chinesa. Levará anos até que consigam se dissociar dela, mesmo que parcialmente.

O alcance estratégico dessa decisão chinesa é evidente. Ela representa uma reação clara, talvez a primeira, às políticas protecionistas de Washington, que Pequim considera anti-chinesas. E, para ser objetivo, não sem boas razões.

Trump mudou o relacionamento com Pequim de um plano militar – que a administração Biden continuava – para um plano mais comercial. E isso é bem ao estilo do homem, que concebe as guerras como confrontos de interesses, como um jogo de exportações e importações, como uma competição nos negócios… e apenas como um confronto armado em última e extrema instância.

Isso não muda o fato de que o confronto com a China é, à sua maneira, uma “guerra”. Um embate comercial, poderíamos defini-lo, que pode não derramar diretamente o sangue de soldados, mas que poderia causar turbulências globais consideráveis, talvez até imensuráveis.

Supondo, mas não concedendo, que Trump e seu vice-presidente Vance tenham tempo para implementar sua estratégia.

Que é, por sua vez, a estratégia determinada pelo sistema industrial americano, há muito em dificuldade devido à concorrência estrangeira. Especialmente por causa da concorrência chinesa.

Pequim conhece bem o jogo. E reage atingindo Washington no ponto das terras raras, das quais mantém um controle quase hegemônico.

No entanto, não se trata apenas de… “negócios”. As terras raras são elementos fundamentais para a indústria militar. E o sistema militar americano depende fortemente das importações de terras raras da China.

A decisão de Pequim tem, portanto, um duplo valor.

É uma retaliação contra o protecionismo de Washington, que prejudica gravemente as exportações chinesas.

Ao mesmo tempo, coloca em crise a indústria militar americana, ao mesmo tempo que favorece seu próprio crescimento nesse setor.

E assim, posiciona-se em uma situação de força em caso de um próximo confronto armado.

Fonte: Electo Magazine

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