O escândalo moral dos liberais em relação à geopolítica contemporânea é um atestado de infantilismo mental.


(Em defesa das guerras e das invasões)
A chegada de Trump ao poder e a sua virada em relação à Ucrânia tornou o tema da operação militar especial russa um dos mais comentados no Brasil hoje. De um modo geral, NPCs e bots de direita e de esquerda estão extremamente confusos com os acontecimentos internacionais, mas a confusão direitista merece comentários a mais.
A direita agora se divide entre uma direita iliberal, simpática a Trump, receptiva a Putin e hostil ao globalismo, e uma direita liberal, popperiana, fukuyamiana, crente na necessidade de uma cruzada liberal mundial em prol de uma Nova Ordem Mundial.
Mas se observarmos com bastante atenção existem diferenças qualitativas fundamentais entre os discursos direitistas iliberais e liberais. Nem todo iliberal é um “gênio”, mas eles usualmente oferecem algum tipo de argumentação pragmática, histórica ou consequencialista.
Os liberais pró-ucranianos, por sua vez, se reduzem à repetição de umas quantas palavras de ordem e slogans. Você sempre os verá repetir palavras como “invasor/invadido” e “invasão”, “ditadura” e “ditador”, “liberdade”, acreditando que esses termos podem esgotar e encerrar o debate sobre a questão ucraniana.
Eles acreditam em falsos truísmos como: “O país invadido sempre tem razão, porque é a vítima” ou “Ditaduras são más, é necessário apoiar as democracias”.
A primeira noção é particularmente abjeta para qualquer nietzscheano, porque ela é uma apologia da agressividade passiva. Todos sabemos que em um contexto mais socializado e refinado existe uma sublimação da violência. As mulheres, aliás, são as mestras na violência sublimada; precisamente por seu diferencial de força bruta em relação aos homens. A lição nietzscheana aponta que o fraco, incapaz de enfrentar o forte de forma direta e aberta, recorrerá a meios subreptícios para destruí-lo. Fingirá aquiescência, mas se ressentirá e conspirará pelas costas, tentará reunir números maiores, utilizará meios de assassinato de reputação, lançará mão da traição, praticará sabotagens diversas. Tudo isso é agressividade passiva.
Tal como no âmbito social, também no âmbito internacional isso é possível e verificável. Um Estado pode atacar um outro Estado ou ameaçá-lo de diversas maneiras sem, na prática, invadi-lo. Mais: um Estado pode lançar mão de diversos meios de agressão e de diversas formas de ameaça visando precisamente forçar a mão do inimigo, para que ele use a força primeiro e, com isso, se consiga afagar as sensibilidades da moral plebeia (sempre simpática à suposta vítima).
Não foi outro o caso ucraniano. O país se recusou a cumprir os acordos de paz de Minsk, prometeu se unir à OTAN, acumulou dezenas de milhares de homens no leste para uma operação contra o Donbass e solicitou a alocação em seu território de mísseis da OTAN com capacidade de anulação da resposta nuclear russa.
Os liberais dirão que “as nações soberanas podem fazer o que quiserem”, uma declaração absurda e delirante, completamente incompreensível e irracional. É óbvio que elas não podem. Ou melhor, elas “podem”. Mas depois que fizerem “o que der na telha” devem aguentar as consequências. O sistema internacional não é composto de átomos nacionais isolados. As decisões de um Estado sempre repercutem nos outros, especialmente nos países vizinhos. Especialmente se estivermos falando sobre decisões securitárias e militares.
Eu realmente espero que esses liberais pró-ucranianos nunca cheguem ao poder no Brasil (e lançarei mão de todos os meios para impedi-los disso), porque é óbvio que se qualquer país vizinho do Brasil fizesse o mesmo que a Ucrânia fez em relação à Rússia, eu (caso Presidente do Brasil) ordenaria uma invasão imediata do território em questão. Aliás, eu seria muito menos paciente que Putin. Pensemos uma Guiana Francesa ou um Uruguai decidindo abrigar mísseis apontados para o nosso país e acumulando tropas para chacinar brasileiros nas fronteiras. Uma invasão relâmpago seria a única resposta racional e qualquer decisão diferente dessa seria traição nacional. Foda-se se esses territórios são “soberanos” e podem “decidir o que quiserem”.
Especialmente os Estados pequenos devem entender e aceitar que por vontade dos Céus eles não são potências e possuem destinos que estão atrelados aos destinos das potências continentais de seu entorno geopolítico. Elas podem tomar a decisão inteligente de negociar um alinhamento vantajoso e uma integração soberana ou serem instrumentalizadas como proxies por potências longínquas…e aguentar as terríveis consequências.
A essência do fenômeno político jaz na distinção amigo/inimigo, e cada politeia ao tomar uma decisão sobre sua posição nessa dicotomia perante cada outra politeia está (saiba ou não) tomando uma decisão fatídica que pode significar a sua própria aniquilação. A Rússia havia designado a Ucrânia como amiga, mas a Ucrânia insistiu em apontar a Rússia como inimiga. A Rússia tentou reverter a situação (agindo de maneira quase suicida), até que, finalmente, aceitou a inimizade ucraniana e agiu de acordo: invadiu o território ucraniano tratando seu Estado como inimigo.
Essa foi uma resposta absolutamente normal de um Estado soberano desinteressado pelas belas palavras pacifistas dos documentos da ONU, que tentam sublimar a guerra com “missões de paz”.
A guerra é uma resposta válida quando um Estado vizinho conspira pela destruição do seu Estado. Invadir o país vizinho, tomar a iniciativa de levar a guerra a ele é uma resposta racional e legítima quando o Estado vizinho lança mão de formas indiretas de agressão ou se permite instrumentalizar por países terceiros em estratégias de cerco cujo fim último é a destruição de seu país.
Tal como bater primeiro é perfeitamente válido em qualquer situação social na qual haja uma ameaça real e iminente, violar as fronteiras do inimigo e invadi-lo é perfeitamente válido quando o mesmo conspira contra a segurança e bem-estar de seu povo.
Ser uma democracia, aliás, não aumenta a legitimidade de um Estado e tampouco lhe concede carta branca para ameaçar a segurança de países vizinhos por meios indiretos, inclusive quando esses vizinhos são “autocracias”, “ditaduras”, “tiranias” e “teocracias”. Novamente, os Estados podem, de fato, pretender agredir indiretamente seus vizinhos e depois devem aceitar as consequências. É perfeitamente válido responder com mísseis quando, por exemplo, um país vizinho é exposto como financiador de protestos de rua de larga escala.
É necessário que retornemos urgentemente a um entendimento dessas realidades óbvias sobre a guerra e a política. É ainda mais necessário liquidar o liberalismo e os liberais, antes que eles causem um dano irreversível ao Brasil por sua permanente leitura antipolítica de todos os fatos políticos.