Abertura das Olimpíadas de Paris: A Civilização Ocidental se revela sem máscaras aos olhos do mundo

As Olimpíadas de Paris, já notórias pelo ultraje de banir a Rússia e Belarus, e de permitir a participação de Israel, agora se destaca também por ter, no lugar de uma abertura, uma sequência de ritos claramente satânicos e culturalmente subversivos, como provocação “triunfal” da classe hegemônica.

Não há nada de surpreendente na abertura das Olimpíadas de Paris, exceto pelo fato de que, talvez, a maioria das pessoas não tenha visto uma concentração tão grande de inversões e deturpações históricas, culturais, simbólicas e axiológicas quanto nesse evento.

Para ser justo começarei por um elogio. A ideia de realizar uma abertura fora de um estádio, com o objetivo de valorizar a “paisagem” e os cenários típicos da cidade-sede, tem algo de interessante. Mas é isso. Essa foi a única coisa de interessante nessa abertura (houve também umas poucas referências cinematográficas e literárias interessantes no ponto em que se passou pelo cinema francês), e essa possibilidade nem mesmo foi bem aproveitada pela França.

Em primeiro lugar, os atletas olímpicos “desfilaram” em barcos, sob chuva, em um rio extremamente contaminado por poluição (fruto da decadência urbana de Paris, que fora dos bairros icônicos não é mais que uma favela). Os barcos pareciam improvisados, como se o governo tivesse “encampado” temporariamente barcos aleatórios e os aproveitado para a abertura. Agora é torcer para que ninguém fique doente por causa da chuva (atletas de alto rendimento, às vezes apresentam fragilidades de saúde porque o esforço excessivo que é típico de suas atividades impacta em suas respostas imunológicas), e que ninguém tenha tido contato com a água do Sena.

Deixando isso de lado, porém, aproveito para elogiar principalmente as delegações africanas, asiáticas, pacíficas e árabe-islâmicas, porque foram as que mais consistentemente buscaram representar as suas identidades etnoculturais. Algumas delegações ibero-americanas idem.

Quanto aos europeus, eles ou têm vergonha daquilo que são, ou simplesmente esqueceram ou não sabem quem são, então as suas delegações são sempre genéricas, e têm mais de “ocidentais” do que de “europeias. Mas isso, claro, não têm nada a ver com a organização francesa da abertura em si.

Porque quanto à abertura o que nós vimos foi uma exibição do âmago da civilização ocidental. Eu não poderia aqui falar em “coração”, porque o âmago da civilização ocidental está, na verdade, em sua “cloaca” – que foi exatamente o que vimos.

Em geral, as aberturas olímpicas tentam contar um pouco da história do país-sede. Passa-se por séculos ou mesmo milênios de história. Os povos buscam mostrar ao mundo as suas raízes longínquas, os seus ancestrais heroicos, os grandes feitos de seu passado. Nas Olimpíadas de Paris não tivemos nada disso.

Nenhum elemento da França pré-Revolução Francesa se fez presente. E esse é um fato importante que precisa ser esmiuçado e enfatizado. De fato, o “neoiluminismo” foi o tema geral da Abertura das Olimpíadas, ou seja, a atualização do Iluminismo setecentista para a pós-modernidade woke. São os mesmos valores, mas adaptados para a era do pós-indivíduo e da sobreposição das pulsões à razão “patriarcal” e “fascista” – que não é senão a consequência lógica de elevar a razão acima de seus limites.

A impressão que se tem, de fato, é que a França nasceu em 1789. E realmente, a França de Macron nasceu em 1789. A França pré-1789 – aquela França de Vercingetorix e dos celtas, de Carlos Magno e dos paladinos, de Luís IX e dos cruzados, de Joana d’Arc e da Guerra dos 100 Anos, e mesmo a já modernizante França de Luís XIV – é outro país.

Não sou “eu” que estou dizendo. Macron e os seus caminham sobre os chãos franceses como se fossem parasitas alienígenas que vagam sobre as ruínas de uma civilização inimiga conquistada. Não foi casual que Macron reagiu com indiferença ao incêndio da Catedral de Notre-Dame. Ele não se emocionou porque há 2 Franças, a França europeia e a França ocidental. E era isso que se fez questão de evidenciar nessa abertura.

Entenderam o porquê de eu sempre insistir na existência de uma distinção fundamental entre uma “civilização europeia”, adormecida, sedimentar, oculta, e uma “civilização ocidental”, disposta sobre as ruínas e fragmentos dessa civilização anterior e cujos valores são antitéticos e descontínuos em relação aos seus valores? Não sou apenas “eu” dizendo. A própria elite francesa exibe isso aos olhos do mundo. Não precisam crer em mim. Vejam.

Que se tenha escolhido o injusto assassinato de Maria Antonieta para expor as “origens” da França é significativo. Essa é uma França que nasce de uma traição maçônico-frankista que culmina em um assassinato ritualístico do “Sol” (encarnada na figura do Rei). Aquilo que nasce desse ritual e que se espalha pelas capitais europeias e cujo centro é, posteriormente, deslocado para os EUA, é precisamente o espírito obscuro da subversão contra-iniciática e da dissolução universal. A chuva de sangue é o “sacramento” satânico da França de Macron.

Aqui precisamos apontar, ademais, que mesmo de uma perspectiva técnica essa abertura foi sofrível. Crianças de grupos amadores de dança seriam capazes de organizar algo melhor. Não havia qualquer coordenação motora ou sincronia, por exemplo, na exibição de “cancã” realizada por pessoas vestidas de rosa. Comparemos isso com a sincronia absoluta das exibições da abertura das Olimpíadas de Pequim, por exemplo. Uma dança posterior, no estilo de “dança de rua”, dava a impressão de que os dançarinos estavam fantasiados de mendigos – talvez uma homenagem ao lúmpem francês, a classe que serve de sustentação quantitativa para o macronismo.

Foi curiosa a pretensão de que as Olimpíadas de Paris estavam, em sua abertura, “celebrando a mulher” em um sentido geral, quando ela havia acabado de exibir uma mulher decapitada pelos jacobinos. Mas é necessário entender que quando o Ocidente celebra “as mulheres” é de uma maneira muito peculiar. Não são “todas as mulheres”, não são as “mulheres francesas”, mas as “mulheres ocidentais da França” – o que obviamente incluiu, na seleção de “10 ícones”, mulheres que não eram etnicamente francesas; com as que eram etnicamente francesas só podendo ser, obviamente, abortistas, anarquistas, feministas e, naturalmente, a pedófila Simone de Beauvoir.

Em outra parte da abertura, celebra-se um poliamorismo pós-gênero, com um triângulo amoroso entre um homem, uma mulher e uma pessoa andrógina de sexo não esclarecido. Além de, obviamente, celebrar a desconstrução de concepções tradicionais de “homem”, “mulher”, “amor” e “família” (em paralelo, dançarinos em roupas que não diferenciavam entre sexo deixavam bem claro que se tratava, ali, precisamente, de um impulso pós-gênero e, portanto, transumano), é necessário aí fazer referência à inversão satânica do mito do andrógino.

O mito do andrógino (presente mesmo no Cristianismo, bastando que recordemos que Adão já continha nele Eva antes de Deus retirar a sua “costela”) aponta para um certo princípio de unidade cósmica. Ela não é meramente sexual, mas é um símbolo do Um, o qual é alcançado, simultaneamente, por uma “conexão ritual” com o elemento do sexo oposto que subsiste em nosso interior (o “animus/anima” de Jung), bem como por meio do casamento enquanto rito sagrado, o qual só pode ser concretizado com uma pessoa do sexo oposto.

Pretender alcançar o “Um” materialmente por meio da indeterminação e fluidez sexual e por meio de práticas sexuais “desconstrucionistas” não é senão uma paródia, uma inversão do casamento tradicional e dos ritos tradicionais dos povos. Não é a ascensão na direção do Um, é a queda na dissolução caótica, como um nigredo sem fim.

Um terceiro elemento ritualístico aparece na paródia da Santa Ceia, protagonizada por elementos que representavam precisamente essa ponte entre “desconstrução do gênero” e “transumanismo”. Nesse cenário da paródia profana, que tinha como mote a “diversidade” e a “representatividade”, incluiu-se inclusive uma criança, para o horror de milhões de pessoas ao redor do mundo.

Depois de exibir uma “overdose” de diversidade pós-gênero, o fato de ser uma paródia da Santa Ceia é confirmada pelo fato de que a cena culmina em um “banquete”. Nesse banquete, uma estranha paródia de Baco é trazida seminua em uma bandeja – uma referência ao canibalismo ritual e, nesse sentido, à conotação da ingestão do corpo de Cristo na Eucaristia.

O fato do Baco, porém, parecer castrado, bem como o próprio cenário e contexto geral, mostra que esse Baco é aquela perversão de Dioniso engendrada pelos sacerdotes de Cibele – é o Dioniso visto a partir das “profundezas”, aquele que no lugar da transcendência imanente é apenas imanência, submersão do “zangão” no colo da “Deusa-Mãe” das monstruosidades titânicas.

Considerando que essa cena foi disposta em uma ponte sob a qual as delegações tinham que passar em seus barcos representou, intencionalmente, um gesto de humilhação para as delegações pertencentes a povo que ainda estão ligados às suas Tradições. Passar sob a ponte da paródia da Santa Ceia era como uma demonstração do triunfo desses elementos demoníacos sobre os povos do mundo.

Enquanto isso, em um dos momentos-chave da abertura, músicos tocaram a canção britânica “Imagine”. Pouco usual, considerando que, em geral, os países em eventos desse tipo tentam exaltar a cultura nacional. Mas a inclusão de “Imagine” se explica pelo fato de que a música em questão, que tem entre seus versões declarações como “Imagine que não há Céu”, constitui o hino “oficial” do Fim da História globalista.

Enfim, nos momentos finais do evento surge um cavaleiro branco em um cavalo pálido, cavalgando o Sena e, depois, à frente das “nações”, quando ajudantes carregavam as bandeiras dos países enfileirados atrás do cavaleiro branco. A iconografia aí é, naturalmente, a da Morte enquanto “cavaleiro do Apocalipse”.

O “desfile” funesto eventualmente culmina nos momentos finais, que envolvem a pira e o hasteamento da bandeira olímpica. Mas isso se deu de uma maneira bastante peculiar. A bandeira foi hasteada invertida, de cabeça para baixo, e tudo se deu sob os olhos de uma estátua dourada de um touro dourado, muito semelhante ao touro de Wall Street. O touro, em si, pertencia à própria decoração urbanística de Paris, mas o contexto ritualístico obscuro que permeou toda a abertura o ressignificou como o “ídolo” taurino de Cartago, para o qual crianças foram incineradas por séculos até Roma dar fim a essa abominação, tal como recorda o “ídolo” para o qual os hebreus se voltavam reiteradamente sempre que seus profetas se afastavam um pouco. O simbolismo da “bandeira invertida” é típico da guerra (inclusive das “guerras urbanas” de gangues) e representa a “conquista” ou o “triunfo”, o estandarte capturado de um inimigo derrotado é invertido para demonstrar dominação – nesse sentido, temos aí uma declaração de triunfo satânico-cibelino sobre os Jogos Olímpicos (e seu simbolismo outrora apolíneo), sobre a Europa e sobre a Cristandade.

Todo esse teatro ritualístico teve como diretor o “artista” Thomas Jolly, um cidadão que faz questão de se apresentar e anunciar publicamente como um “judeu, homossexual, esquerdista e capitalista”, de onde podemos vislumbrar não só uma personalidade narcisista como acometida por uma forte dissonância cognitiva. Naturalmente, uma investigação poderia revelar possíveis outros elementos e conexões que explicam os motivos pelos quais esses simbolismos específicos foram selecionados para a abertura das Olimpíadas.

Nada mais precisa ser dito sobre essa abertura das Olimpíadas de Paris. Foi, claramente, a pior abertura olímpica da história, tanto de uma perspectiva técnica e estética quanto de uma perspectiva simbólica e espiritual.

A comparação com as aberturas mais recentes, como a de Pequim, Rio ou Atenas é suficientemente chocante e deixa absolutamente claro quão profundo é o buraco no qual a civilização ocidental está afundando e pretende afundar o resto da humanidade.

Mas se isso ficou evidente dessa maneira, então devemos saudar essa abertura. Sempre que o inimigo se exibe de forma tão evidente e inequívoca o nosso trabalho de convencimento é facilitado.

As distinções entre “nós” e “eles” tornam-se naturais e automáticas, e resta apenas que cada um se alinhe com o próprio bando para travar a necessária guerra cultural.

Ao meu ver, a reação a essa abertura é tão determinante politicamente quanto a posição em relação a Ucrânia e em relação à Palestina.

Aqueles que sentiram nojo dessa abertura são nossos amigos, aqueles que ficaram encantados com ela são nossos inimigos.

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Raphael Machado

Advogado, ativista, tradutor, membro fundador e presidente da Nova Resistência. Um dos principais divulgadores do pensamento e obra de Alexander Dugin e de temas relacionados a Quarta Teoria Política no Brasil.

Artigos: 41

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