A África Ocidental vive uma revolução liderada por militares, desafiando a influência ocidental e buscando novos caminhos com apoio de Rússia e China. A região, marcada pelo ressurgimento do terrorismo salafista no Sahel, resiste com o auxílio do Grupo Wagner. No Senegal, a eleição de Diomaye Faye promete autonomia e renovação, sinalizando mudanças significativas na dinâmica política e econômica regional.
Os últimos anos foram anos de reviravolta e esperança renovada na África, especialmente na África Ocidental e nos arredores do Sahel, com Mali, Burkina Faso, Níger e Guiné Conacri passando por revoluções nacionalistas dirigidas por militares antiatlantistas.
Essas revoluções nacionalistas foram pressionadas por sanções e ameaças de invasão, mas diálogos de bastidores, certamente auxiliados por Rússia e China com a Nigéria (que tem pretensões de entrar nos BRICS), levaram a uma pacificação e normalização da nova situação política regional (o que, porém, não impediu os países em questão de se retirar da CEDEAO).
Fracassado o projeto de intervenção militar por intermédio da Nigéria e aliados, promovido por EUA e França, o Ocidente atlantista “ressuscitou” o ISIS na região, que subitamente apareceu com força na região, com direito às clássicas “misteriosas Toyotas”, vídeos excessivamente bem produzidos, um nível superior de organização e equipamento militar, etc., sob o título de Estado Islâmico – Província do Sahel.
O grupo é duramente combatido pelos militares da região com apoio do Grupo Wagner, experiente algoz do ISIS na Síria.
Todos esses eventos são parte do colapso da Françáfrica, o remanescente do antigo projeto imperialista francês tardio que atrelava subalternamente as antigas colônias francesas à elite financeira parisiense (e, agora, europeia) por meio da dependência do franco CFA a decisões tomadas nos corredores da Banca em Paris e, depois, Frankfurt.
O auspicioso, porém, é que se esses processos têm se dado por meio da “força” nos últimos anos, em Senegal tivemos agora uma reviravolta por meios eleitorais, dentro da estrutura democrática com a vitória de Diomaye Faye, de 44 anos, no 1º turno com 54% dos votos, mais um jovem chefe de Estado em uma África marcada pela gerontocracia servil ao Ocidente.
A “revolução nacional-democrática”, porém, foi precedida por instabilidade e violência, já que manifestações contra o governo pró-Françáfrica de Macky Sall foram reprimidos com extrema violência em 2023, com o assassinato de pelo menos 30 patriotas.
Macky Sall ainda tentou cancelar as eleições e prendeu a maioria dos opositores, mas desistiu, voltou atrás e libertou os opositores – provavelmente convencido a isso nos bastidores porque é possível que o país caísse em uma guerra civil em caso contrário. Talvez a própria França tenha preferido a resolução pacífica da situação, já que em caso de guerra civil a virada antiatlantista no Senegal talvez fosse muito mais radical. Essa é uma explicação plausível para Macron ter dado a Sall um “emprego” imediato como delegado especial do Pacto de Paris, indicando-o também como próximo presidente.
Faye é o Secretário-Geral da organização Patriotas de Senegal, um partido nacional-popular de orientação pan-africanista que tem como um de seus objetivos principais o abandono do franco CFA e a recuperação da soberania monetária do Senegal.
Pontes de contato, parceria e investimento com a Rússia e o Eixo Contra-Hegemônico através de Ousmane Sonko ou Kemi Seba são possíveis, na medida em que Senegal pode garantir o tão necessário acesso do “Eixo da Resistência Africana” ao mar através do porto de Dakar.
Dakar se insere ainda com bastante importância em vários projetos de infraestrutura da União Africana e que se vinculam de maneira importante com a Iniciativa Cinturão & Rota da China. Pode-se mencionar, por exemplo, o projeto de ligar Dakar ao Djibuti através de uma linha férrea, com a Rússia já tendo demonstrado interesse em ajudar no financiamento e construção do projeto.
“Por acaso”, essa ferrovia, cujo projeto data de vários anos atrás, passaria precisamente nos países nos quais subitamente “pipocaram” terroristas wahhabis nos últimos 5 anos, que agora são combatidos por militares nacionalistas e pelo Grupo Wagner.
O Senegal é, de fato, um dos países mais promissores da África, com uma “zona econômico-industrial especial” sendo preparada em Dakar – um lugar onde certamente o Brasil poderia fazer investimentos interessantes, especialmente porque descobriu-se lá nos últimos meses o maior campo de gás da África Ocidental (450 bilhões de m3) e o novo presidente já anunciou querer renegociar todos os contratos no âmbito do petróleo e do gás (para o pavor da BP e da Woodside).