Hoje comemoramos o 93.º aniversário de um dos eventos mais gloriosos da história do Novo Mundo, se não o mais glorioso: a Revolução de 1930. Enquanto a memória dos revolucionários é cada vez mais aviltada, cabe-nos o simples dever de falar a verdade.
Em 1930, o Brasil ainda era governado pela máquina instituída com o esgotamento das forças monarquistas e militares em 1898. Era a Política dos Governadores, que envolvia acordos entre governadores estaduais e o governo central liderados pela oligarquia cafeeira e rancheira. Os governadores, que detinham poder político considerável em seus estados, apoiavam o governo federal em troca de favores políticos e recursos financeiros. O poder se perpetuava nas mãos de elites corruptas que promoviam eleições necessariamente fraudulentas. Tudo visava uma caricatura dos “Estados Unidos do Brasil”, conformada com a divisão internacional do trabalho e uma reflexa hierarquia social excludente.
Com a exceção de Nilo Peçanha, o atraso brasileiro só era seriamente oposto por algumas fileiras do Exército e das polícias, cujas pressões pela democratização e pela reforma agrária resultaram em diversas revoltas militares. Nas Forças Armadas, homens como Hermes da Fonseca, Miguel Costa, Luís Carlos Prestes, Siqueira Campos, Dias Lopes, Ribeiro Junior, Eduardo Gomes e Juarez Távora trouxeram ventos de inspiração ao longo da década de 1920. Independentemente dos caminhos ideológicos que alguns destes tomariam, foram todos importantes para nossa história.
Com a Crise de 29, alguns setores da aristocracia brasileira viram a necessidade de industrializar o Brasil, montaram uma oposição organizada à elite mais atrasada e se aproximaram ideologicamente do tenentismo: os tenentes civis, uma vanguarda com o apoio dos governadores do Rio Grande do Sul (Getúlio Vargas), Paraíba (João Pessoa) e Minas Gerais (Antônio Carlos).
Perderam, claro. As eleições eram fraudadas. Não bastasse, quase todos os deputados eleitos paraibanos tiveram posse negada, mas Pessoa continuou tentando modernizar a Paraíba. Conquistou a inimizade de seu antigo aliado, o caudilho e empresário Zé Pereira, que iniciou um levante cangaceiro na região de Princesa. Um de seus maiores aliados era o advogado João Dantas, que foi aos jornais e começou uma troca pública de insultos com Pessoa. Numa escalada, Pessoa publicou cartas eróticas de Dantas, que reagiu matando Pessoa.
O resto é história. João Pessoa foi velado no Rio de Janeiro em uma cerimônia com cem mil pessoas, seguindo-se uma série de manifestações brutalmente reprimidas em todo o Brasil, escalando pra trocas de tiros e pro vandalismo em massa de jornais governistas. Vargas e os tenentes marcharam até o Rio de Janeiro, onde amarraram seus cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco e tomaram o Palácio do Catete sem resistência relevante.
Nas palavras do próprio Getúlio Vargas, no nono aniversário da Revolução:
Nem todos, entre os que auxiliaram a Revolução, entre os que a combateram e entre os que ficaram indiferentes, compreenderam o seu sentido. A Revolução não era um choque de partidos, uma luta de superfície ou uma mudança de quadros; não era, simplesmente, o desejo de reivindicações, a fim de abater adversários políticos: era mais ampla e mais completa, e só o desenrolar dos acontecimentos pôde revelar o seu verdadeiro sentido. A Revolução era o movimento profundo, a manifestação generalizada do descontentamento popular e o desejo de que se estabelecessem novos rumos. Tinha por finalidade a restauração econômica e a renovação espiritual do Brasil, a organização nacional em bases sólidas e definitivas.
Precisamos repetir o 3 de outubro de 1930, a marcha ao Rio de Janeiro, o primeiro ato da Revolução Nacional que consolidou o Brasil enquanto Brasil e dotou o brasileiro de uma consciência de si e para si. 2030 está chegando.