Na solenidade comemorativa do 119° aniversário da Independência do Brasil, pronunciou o Presidente da República o importantíssimo discurso que se segue.
Brasileiros!
Conforta o coração de quantos nasceram ou vivem nesta fazenda e hospitaleira terra apreciar, em dia como este, o entusiasmo viril do nosso povo, vê-lo integrado nas demonstrações de júbilo cívico da mocidade e dos nossos soldados, aplaudindo-os e rememorando os feitos dos nossos heróis, na firme disposição de imitá-los se as circunstancias assim o exigirem.
O renascimento da consciência nacional
Vejo com grande alegria tão vigoroso renascimento da consciência nacional. O povo brasileiro, de norte a sul, em todos os quadrantes, nas mais distantes cidades, nos povoados mais longínquos, reverencia a memória dos seus pró-homens, mobilizado, unido e pronto a tudo empreender pelo engrandecimento da Pátria.
As festividades que outrora tinham o cunho formalístico das comemorações puramente convencionais assumem, hoje, o caráter amplo e sugestivo de verdadeiras consagrações coletivas. Todos participam do regozijo nacional. Em todos os espíritos bem formados transparece o orgulho de ser brasileiro e trabalhar pelo progresso comum. Felizmente não chegou o momento de pôr a prova as nossas reservas de energia moral e ação patriótica. Ainda gozamos de tranquilidade para trabalhar e produzir e, neste centésimo décimo nono aniversario do grito do Ipiranga, a família brasileira pode reunir-se e celebrar a data magna da nacionalidade sem lutos e sem lágrimas.
O Brasil e a guerra europeia
O panorama da vida de outras nações, em outros continentes, é, entretanto, diferente e confrangedor. O povo e o Governo do Brasil têm sabido, na difícil emergência que atravessamos, conservar a equanimidade, guardar-se serenamente, evitar os perigosos choques de forças que tantas desgraças e tristezas veem causando à humanidade. Somos uma nação pacífica e o nosso maior empenho consiste em permanecer afastados das terríveis contingências da guerra. Não damos nem alimentamos motivos para vinditas ou desagravos de outros povos. Não podemos, porém, prever como se desenvolverão os acontecimentos, em que condições seremos chamados a participar dos mesmos e qual o quinhão de esforço que exigirá de nós a reforma violenta do mundo civilizado.
Não nos façamos, por consequência, ilusões otimistas, e preparemo-nos para enfrentar as piores eventualidades. É preciso manter alertados os espíritos, é preciso que o patriotismo exalte os nossos sentimentos e a disciplina das nossas atividades se torne cada vez mais estreita e mais firme. Só assim estaremos em condições de mobilizar, a qualquer momento, os nossos recursos materiais e valores morais a serviço da própria defesa ou em função dos nossos compromissos na obra de cooperação panamericana.
A união nacional — palavra de ordem
O imperativo da união nacional continua sendo a nossa palavra de ordem. Não há, na conjuntura difícil da nossa época, lugar para as salvações individuais, para os privilégios de poucos, para as vantagens de grupos ou fações. Os interesses da coletividade sobrepõem-se aos interesses pessoais. Quando existe a iminência de perigo não é possível atender reivindicações particulares, nem admitir situações excepcionais edificadas à custa do sacrifício da maioria da população.
Não devemos esquecer a lição recente dos acontecimentos: — ou se salvam todos ou perecem todos.
A Nação compreende e aplaude a atitude mantida até agora pelo Governo. A mesma serenidade deve ser observada daqui por diante, nesta verdadeira vigília de armas a que se submetem os povos que querem sobreviver livres e soberanos. Tudo empenharemos para que a tranquilidade dos lares, a ordem no trabalho, o constante esforço para progredir não sejam perturbados.
A política de união continental
Estas palavras de confiança e firmeza dirigidas aos brasileiros creio que também podem ser ouvidas pelos demais povos irmãos da América. A união nacional é uma premissa da união continental. Para que possamos guardar o nosso estilo de vida, as características profundas herdadas dos nossos maiores, a forma essencial da nossa civilização, impõe-se suprimir as possibilidades de querela, apagar os ressentimentos e desfazer os receios impróprios de vizinhos que se estimam. As nossas armas nunca deverão voltar-se contra irmãos; a preparação bélica dos povos americanos é defensiva e, propriamente, não pertence somente à Nação que a detém — pertence a todos e constitui o arsenal do Continente. Não está no espírito, como não está na linha política da América, agredir nenhum povo ou violar o direito de outrem. O que existe, entretanto, arraigado no coração de todos, das praias do Atlântico às do Pacífico, é o sentimento da inviolabilidade do patrimônio continental. Qualquer agressão, venha de onde vier, há de encontrar-nos formando o bloco mais numeroso de nacionalidades que jamais constituiu uma aliança defensiva.
★★★
Brasileiros!
A presença das brilhantes delegações de povos vizinhos e as mensagens calorosas recebidas de todas as Nações deste hemisfério demonstram uma perfeita compreensão dos nossos objetivos do progresso e da sinceridade da nossa conduta política. As representações da Argentina e do Paraguai — a primeira chefiada pelo seu ilustre ministro da Guerra e ambas trazendo o escol da sua juventude militar — mostram, ainda, a edificante confraternização das nossas armas.
Neste glorioso Sete de Setembro, cheio de vibração cívica, concito o povo brasileiro a continuar disciplinado e coeso, laborioso e confiante, porque, mesmo através de riscos e provações, saberemos manter bem alta e inviolável a dignidade da Pátria.