É isso a aventura brasileira e que eu resumo dizendo que o que nós somos, mesmo, é uma nova Roma.
E argumento: há dois mil anos atrás os soldados romanos saíram lá da Itália, da Etrúria, conquistaram, não se sabe muito bem como, a Península Ibérica, ficaram lá. Conseguiram latinizar a Península Ibérica e resistiram às invasões escandinavas, depois de 700 anos de dominação árabe, mantendo a língua e mantendo a romanidade.
Mil e quinhentos anos depois saltaram ao mar e vieram aqui e aqui é que deu certo. Você veja, a França não se expandiu. A Itália não se expandiu, ficaram lá comendo a sua comidinha, a Romênia muito menos.
O que se expandiu foi a Ibéria. E a Ibéria veio e construiu esta coisa, equivalente ao mundo neobritânico: o mundo neolatino, do qual nós somos a unidade principal. É a nossa nação neolatina que é a mais rica, a mais futurosa. Então nós somos a nova Roma. A nova Roma é o Brasil.
Uma Roma lavada em sangue índio, lavada em sangue negro, melhor, tropical, e que está chamada a representar um importante papel no mundo. E esse livro mostra lentamente, cuidadosamente isso. E eu creio que ele tem uma grande beleza também, porque é uma beleza a aventura do nosso povo se fazendo a si mesmo.
Tal como uma figura terrível: a brutalidade, a incapacidade, a mediocridade da nossa classe dominante, que aqui o que faz é enricar, é ter vantagem para ela, é juntar, é gastar. O Brasil sempre foi um moinho direto da gente, moeu, liquidou 6 milhões de índios que tinha aqui. Liquidou. Mais 12 milhões de negros africanos. Pra quê? Pra adoçar a boca de europeu com açúcar. Pra enriquecer com o ouro de Minas Gerais.
Então, a classe dominante sempre se deu bem e continua se dando bem. Mas o povão está aí, com uma fome que é espantosa. Por que fome neste país? Por que criança sem escola neste país? Por que que nós só somos melhores, só somos melhores, excluindo São Paulo, do que Bangladexe, em educação?
É pra morrer de vergonha. Então, tanto é bonito este povo se reinventando, se fazendo, se construindo, como esta classe dominante medíocre, que a gente tem que dar um jeito nela, pra obrigá-la aceitar que o Brasil realize suas potencialidades, de uma nova civilização, de uma nova Roma.