Improviso de Getúlio Vargas, quando na manifestação recebida em Porto Novo do Cunha em 24 de outubro de 1939
Por Presidente Getúlio Vargas
Povo de trabalhadores, de industriais, de comerciantes, de lavradores e de proprietários de terra: Um dos vossos oradores recordou que, por coincidência feliz das circunstâncias, eu passo entre vós a data de 24 de outubro, quando se comemora o 9.° Aniversário da Revolução. E foi desta zona de Porto Novo do Cunha que vieram os patriotas partidários, em colaboração com o grande movimento, guiados, então, pelo que é, hoje, o General Cristóvão Barcellos. Nem todos, entre os que auxiliaram a Revolução, entre os que a combateram e entre os que ficaram indiferentes, compreenderam o seu sentido. A Revolução não era um choque de partidos, uma luta de superfície ou uma mudança de quadros; não era, simplesmente, o desejo de reivindicações, a fim de abater adversários políticos: era mais ampla e mais completa, e só o desenrolar dos acontecimentos pôde revelar o seu verdadeiro sentido. A Revolução era o movimento profundo, a manifestação generalizada do descontentamento popular e o desejo de que se estabelecessem novos rumos. Tinha por finalidade a restauração econômica e a renovação espiritual do Brasil [Aplausos], a organização nacional em bases sólidas e definitivas.
Agora, quando compareço perante vós e vindes a mim dizer que cumpri o meu dever, eu venho a vós para declarar que a Revolução não terminou. A Revolução não é a desordem, não é a anarquia, não é a perturbação das condições normais do país. A Revolução que venceu em 24 de outubro de 1930 não se constituiu, apenas, das operações militares que a levaram ao triunfo; o movimento continua nas almas e prossegue no espírito daqueles que estavam desejosos de ver melhorada a situação do país. E para que se desvendassem os novos rumos do Brasil foi que permaneci entre vós, executando o programa da Revolução: programa de ordem, de reconstrução, de renovação de forças vivas do país, de valorização e de engrandecimento do Brasil para os brasileiros, desde a classe operária, à qual o Governo assegurou o direito dos brasileiros com a lei dos 2/3, até às mais altas manifestações da riqueza industrial, em que o capital estrangeiro foi garantido, quando viesse contribuir para o soerguimento do país e não com o fim de nos tornar uma simples exploração colonial. [Aplausos].
Este é o sentido novo da Revolução. E para realizá-lo é que estou executando o vosso mandato. Encontramos na Constituição de 10 de Novembro o sentido construtor da nacionalidade, o sentido renovador da Revolução, na qual todos devemos colaborar, porque aí não há vencedores nem vencidos. Essa obra, com o vosso expresso consentimento, é a garantia das forças organizadas do país, será o amparo dos vossos esforços e o incitamento ao trabalho do homem do interior, em escolas, estradas e crédito agrícola. E aqui, neste recanto da vida mineira, neste recanto glorioso da sua atividade e do seu trabalho, renovo os meus cumprimentos e vos concito a prosseguirdes na marcha pela prosperidade e pela grandeza do Brasil.