E-mails vazados analisados pelo The Grayzone revelam uma possível trama criminosa das elites pró-saída para sabotar o acordo do Brexit de Theresa May, infiltrar-se no governo, espionar grupos de campanha e substituir May por Boris Johnson.
Por Kit Klarenberg
- O conluio da inteligência se infiltrou no serviço público do Reino Unido graças à “toupeira centralizada”
- O ex-chefe do M16, Richard Dearlove, lançou operações de espionagem visando o serviço público e grupos de campanha
- Falsas frentes do Partido Democrata dirigidas por veteranos da CIA foram propostas para se infiltrar em grupos pró-permanência
- O conluio procurou espionar e atrapalhar o principal negociador do Brexit do primeiro-ministro
- Bilionários nas sombras financiaram o esforço em total segredo
- Dearlove reivindicou crédito por influenciar a política do governo sobre Huawei
- O conluio agora quer remover Boris Johnson
- Esses esforços podem resultar em acusações de TRAIÇÃO
E-mails e documentos vazados revisados pelo The Grayzone expuseram as dimensões de uma ampla conspiração gerenciada por um conluio secreto pró-saída radical, para sabotar o acordo do Brexit da ex-primeira ministra Theresa May, removê-la do cargo, substituí-la por Boris Johnson e garantir uma retirada “dura” da União Europeia.
Os e-mails demonstram que um grupo de agentes ligados aos serviços de inteligência, e ricos reclusos pró-Brexit, espionou grupos de campanha, se infiltrou no serviço público e alvejou altos perfis pró-permanência com destruição de reputação. Enquanto a maioria dos eleitores britânicos optou por afirmar sua independência da UE, esse grupo de agentes de influência, em sua maioria composto de desconhecidos, procurou subverter o processo e gerenciá-lo de acordo com seus próprios interesses elitistas.
Entre seus principais objetivos estava fortalecer a relação de segurança entre Londres e Washington, suplantando assim a autoridade da UE com uma supervisão mais substancial dos EUA.
O conluio, que continua a exercer influência insidiosa e indevida na política e nos políticos britânicos até hoje, é composta por financistas ricos, representantes do setor militar e de defesa, e oficiais da inteligência.
A origem da parcela de e-mails que foi compartilhada com o Grayzone anonimamente, é desconhecida. No entanto, este repórter verificou a autenticidade dos e-mails e documentos neles contidos por meio dos seus metadados, entre outras fontes comprobatórias. Grande parte do conteúdo seria impossível de falsificar ou adulterar.
O interesse público nessas comunicações privadas é bastante claro, pois as ações expostas nos trechos são tão flagrantemente anti-democráticas que podem levar a investigações criminais de, pelo menos, alguns dos atores envolvidos.
O conluio parece ser liderado por Gwythian Prins, membro do Painel Consultivo de Estratégia do Chefe do Estado-Maior de Defesa, ex-conselheiro da OTAN e do Ministro de Defesa, e membro do conselho do grupo pró-Brexit Veterans for Britain (Veteranos pela Grã-Bretanha).
A biografia de Prins o anuncia como um “pensador líder em estratégia” que “trabalhou com os principais tomadores de decisão em todo o mundo, desde líderes empresariais até chefes de estado, ajudando-os a melhorar suas tomadas de decisões educando sobre os complexos processos psicológicos que sustentam essas decisões”.
Ele é acompanhado pelo ex-chefe do M16 Richard Dearlove, que é frequentemente apelidado de “C” nos e-mails vazados, uma referência à inicial operacional concedida a todos os chefes do serviço de inteligência estrangeira da Grã-Bretanha. A certa altura, Dearlove e Prins procuraram recrutar seu aparente amigo, Henry Kissinger, e sua empresa de consultoria como lobistas transatlânticos para sua versão do Brexit.
O mandato de Dearlove no M16 de 1999 a 2004 foi marcado por controvérsias, em grande parte graças aos enganos que ele apresentou para justificar a guerra no Iraque. O velho espião de longa data desempenhou um papel proeminente na venda dessa guerra ilegal para a mídia e os políticos. Dearlove acabou sendo criticado em um inquérito oficial sobre o conflito, que descobriu que ele havia repassado informações falsas de testemunho das armas de destruição em massa, inexistentes em Bagdá, diretamente ao então primeiro-ministro Tony Blair.
O conluio também inclui o historiador Robert Tombs, especialista e professor emérito da Universidade de Cambridge.
Um arquivo vazado, criado em agosto de 2018 por Prins, explica os objetivos ousados e maliciosos do conluio em detalhes vívidos. Motivados pelo desejo de “levar a luta aos nossos adversários, que são impiedosos, por todos os meios necessários”, seus membros buscaram:
“Bloquear qualquer acordo decorrente do desastroso e covarde Plano Chequers; garantir que partamos em termos limpos da OMC [Organização Mundial do Comércio]; se necessário, remover esta Primeira-Ministra [grifo nosso] e substituí-la por um adequado ao propósito; limpar o serviço público poluído, de cima para baixo.”
Meses depois, em um e-mail divulgando instruções altamente confidenciais para a Primeira-Ministra May sobre a retirada da UE, Prins instruiu Dearlove: “Agora mate ela e isso.”
Publicado em julho de 2018, o “Livro Branco dos Chequers” estabeleceu um plano potencial para a “divergência gerenciada” de Londres em relação à Bruxelas. Criticado por Leavers como uma receita para a continuação da adesão à UE por outros meios, o plano levou o então secretário do Brexit David Davis e o secretário de Relações Exteriores Boris Johnson a renunciar em protesto.
Durante meses, os defensores do Brexit vinham lançando ataques agressivos contra o serviço públicol, a burocracia permanente da Grã-Bretanaha, acusando que as supostas simpatias pelos pró-permanência do órgão levaram seus membros a bloquear a retirada de Londres.
O conluio, por sua vez, se opunha ferozmente a qualquer arranjo que mantivesse a Grã-Bretanha amarrada às estruturas e obrigações de defesa de Bruxelas, alegando que isso prejudicaria a rede de espionagem global “Five Eyes”, liderada pelos EUA e pelo Reino Unido. Prins estava tão convencido disso, que ele descartou rumores infundados de apoio russo ao Brexit como “maskirovka” (disfarce), baseado no “interesse estratégico” de Moscou, que era manter Londres “enfraquecida e mancando” em uma “UE em colapso”.
Para alcançar os objetivos do conluio, Prins propôs uma “campanha de influência” para “derrotar” grupos proeminentes de pró-permanência, incluindo o Best for Britain (O Melhor para Grã-Bretanha). Ele também procurou estabelecer um “comitê de coordenação” de todas as principais operações do Brexit ligadas ao Vote Leave, a campanha oficial para deixar a União Europeia. E ele planejou uma “operação de inteligência” não especificada, presumivelmente para minar os oponentes de um Brexit rígido.
Inspirado por uma citação de Mestre dos Mares, um blockbuster de Hollywood de 2003 que dramatiza a ousadia da Marinha Real no século XIX, o esforço subversivo foi apelidado de “Operação Surpresa”.
O financiamento para o que equivale a uma conspiração política secreta, parece ter sido fornecido por patrocinadores ricos, incluindo Tim e Mary Clode, marido e mulher aristocratas, com sede em Jersey , um notório paraíso fiscal britânico.
Poucas informações podem ser encontradas online sobre os Clodes. Em um e-mail vazado enviado a Prins, a dupla observou que “evitou cuidadosamente toda interação com as mídias sociais”, acrescentando que eram “muito bons em conversas conscientemente discretas, se necessário”.
Apesar de sua reclusão, os Clodes estão claramente bem conectados. Nos agradecimentos de seu livro de 2014, Exocet Falklands , o autor Ewen Southby-Tailyour agradeceu ao casal por fornecer “conselhos sábios, mais contatos… E trechos inestimáveis à tona, em terra, no ar e ao longo dos corredores do poder militar e civil.”
Alegadamente, Julian ‘Toby’ Blackwell, proprietário do império editorial Blackwell, também arrecadou fundos para a operação. Um arqui-brexitista e multimilionário que financiou várias entidades pró-saída, sua entrada no Who’s Who lista seus hobbies como “lutar contra eurocratas e cortar lenha.”
“Um ‘Golpe de Estado Autenticamente Britânico’… Poderia ser cuidadosamente orquestrado para alcançar o máximo impacto.
O financiamento para a orquestração da “Operação Surpresa” do conluio começou a fluir quase assim que foi concebida.
Em Setembro de 2018, Gwythian Prins disparou um e-mail para Julian Blackwell, dirigindo-se a seu amigo como “Trooper”, uma referência ao histórico de forças especiais da SAS do editor, e agradecendo-lhe por sua “enorme e generosa vontade de cobrir minha renda anterior para efetivamente a primeira metade deste ano fiscal.”
Ele acrescentou que os Clodes estavam “maravilhosamente dispostos a cobrir meu tempo para a próxima fase do ano”, para que ele pudesse “relaxar na frente do dinheiro”. Estranhamente, Prins instruiu Blackwell a enviar os fundos para a conta bancária de sua esposa – possivelmente um meio de ocultar transferências para ele.
Os Clodes também ofereceram milhares de libras para a “operação de inteligência,” seguindo uma chamada que Dearlove fez para eles a pedido de Prins.
Em um email de agosto de 2018 para Prins, Tim Clode reporto como ex-chefe da MI6 delineou um “modus operandi proposto” para executar uma operação de espionagem na Best for Britain para assegurar “inteligência máxima” sobre os grupos pró-permanência e seus “co-conspiradores”. ele considerou o alvo “muito valioso” porque ele estava “abrindo uma segunda frente pelo movimento People’s Vote (Voto do Povo)”, com um grande esforço para fazer o Partido Trabalhista mudar a política oficial em um segundo referendo.”
Tim disse a Dearlove que ele também considerou Oliver Robbins, o conselheiro da Europa de May e negociador-chefe do Brexit, e sua unidade de serviço público mais ampla “para ser um alvo igualmente importante,” em ordem para “forçar abrir toda a lata de vermes de clara deslealdade” dentre o serviço públicol.
“Se pudermos descobrir qualquer ligação direta entre qualquer desses grupos de serviço público desleais e Best for Britain e seus apoiadores, isso poderia ser explosivo,” escreveu Tim Clode. “De acordo com seu ‘Golpe de Estado Autenticamente Britânico,’ isso poderia ser orquestrado cuidadosamente para alcançar impacto máximo, seja de acordo com as fitas exclusivas de Kit Kat do The Sun, ou como instruções seletas de política privada para pessoas-chave.”Dearlove expressou um “alto grau de confiança no objetivo do serviço público,” e propôs um orçamento de “aproximadamente £4 – £5 mil por mês” para encontrar sujeira na Best for Britain e em Robbins, “estritamente dependente dos resultados do produto.”
Um email subsequente de Prins revelou que os esforços secretos para “penetrar os conselhos internos do inimigo”
poderia ser liderada por ex-agentes da SIS (Serviço de Inteligência Secreta MI6), conectado à notória empresa de lobby Crosby-Textor.
Em abril de 2019, a Crosby-Textor foi exposta como a mão por trás de uma série de contas de redes sociais falsas mirando milhões de eleitores britânicos com propagandas exaltando as virtudes do ‘Hard Brexit’ e incitando visualizações para “atacar Chequers”.
Prins retransmitiu o conselho de Dearlove, referido pelo seu codinome, “C,” em como alcançar a infiltração. O ex-chefe da MI6 iria “julgar quando teria uma brecha prática para explorar,” aparentemente certo que a “coordenação de fundo” estava em andamento. O ex-espião descreveu mais detalhadamente Crosby-Textor como “a aranha no meio da teia,” com seu pessoal destacado para a proposta de liderança de Boris Johnson. “que agora está a todo vapor.”
Se o ex-MI6 contato de de Dearlove estava inapto de prover “ouro” tal como “os planos de alto nível do Best for Britains,” em vez disso, ele poderia empregar “alguns colegas es-CIA para montar uma falsa operação de Partido Democrata alcançar os pró-permanência através dos mares – e em Nova Iorque – para penetrá-los.”
Esses indivíduos foram, supostamente, “grandes especialistas nesse tipo de espionagem,” disse Prin, prometendo que eles conduziriam o trabalho de infiltração modelado após uma operação feita por veteranos britânicos, exceto “em uma larga escala.”
Prins concluiu sua missiva incendiária declarando que ele iria em breve viajar para Washington DC para encontrar com “contatos especiais” fornecidos por Dearlove, para “abrir uma linha de ataque em nosso apoio nos EUA.”
“May deve ir. Os detalhes de como que isso será feio ‘C’ [Dearlove] irá ouvir em 18 de setembro,” ele explicou.
Um email de agosto de 2019 revisado pelo The Grayzone demonstra como Veterans for Britain executou sua operação de espionagem. Na mensagem, Prins transmite para Dearlove como o chefe de comunicações do grupo, um ex-oficial de Inteligência naval chamado David Banks, ‘ferroou’ com sucesso Alastair Brockbank, um conselheiro sênior de defesa do serviço público que Dearlove acusou publicamente em outubro de 2018 de “estar trabalhando para manter a defesa e segurança da GB sob o controle da EU após Brexit.”
para verificar se Brockbank deixou seu posto aconselhando Oliver Robbins, o negociador do Brexit – informação que o conluio “não pôde encontrar inquérito normal” – Banks mandou mensagem para Brockbank fazendo-se como um associado da pesquisadora do Centre for European Reform(Centro para a Reforma Europeia), Sophia Besch – a quem Prins classificou particularmente como uma “alemã pró-permanência irritante.”
Brockbank foi posteriormente enganado para confirmar que ele permaneceu em Downing Street. A ferroada bem-sucedida levou Prins, aparentemente satisfeito, a perguntar a Dearlove se Banks era “um dos seus” – em outras palavras, um agente ligado ao MI6.
“A toupeira centralizada no serviço público” do conluio vaza o “plano de guerra” secreto nº 10, expõe segredos oficiais por trás de pseudônimo
Em 21 de setembro de 2018, um dia depois de uma cúpula imensamente embaraçosa na Áustria, na qual os membros líderes de Estado se alinharam em condenar o plano Chequers de Theresa May, Prins enviou email para Blackwell e os Clodes para informá-los que ele e Dearlove apoiaram uma estratégia para “pôr uma pressão insuportável em May,” que iria servir para “mantê-la no cargo, mas não em poder.”
O assunto do email de Prins diz: “NOSSA ESTRATÉGIA DE MEDIDAS ATIVAS; ALTAMENTE CONFIDENCIAL.”
“Se, de toda forma, ela recusar, então o Plano B será necessário, o que muda pessoalmente [ênfase adicionada]”. mas isso é arriscado,” escreveu Prins, acrescentando que uma “operação de julgamento” poderia ser lançada em breve contra o negociador do Brexit de May – “para penetrar o mundo de Oliver Robbins e sua unidade nº 10.” O conluio então procurou se infiltrar no que Prins chamou de “o próprio coração da besta.”
É incerto o que isso implica, e se isso foi bem-sucedido. Em dezembro de 2018, porém, Prins se encontrou em segredo com Evelyn Farr, uma funcionária pública que foi anteriormente identificada na mídia do RU como uma ativista pró-Brexit, e também como uma historiadora.
Um CV de autoria própria de Farr indica que desde novembro de 2016 ela tem supervisionado a legislação de saída da UE em Her Majesty’s Revenue and Customs, como parte de um time diretamente envolvido em negociações de saída.
Em um email posterior para os Clodes, Prins se gaba de que o papel interno de Farr a colocou “em uma posição que a coloca de olho em TODOS [ênfase no original] os documentos principais,” e que poderia revelar “coisas extraordinárias” por dentro do Department for Exiting the European Union (Departamento para Deixar a União Europeia).
Escrevendo sob o pseudônimo Caroline Bell, Farr divulgou informação privilegiada de negociações do Brexit para veículos como a Conservative Woman (Mulher Conservadora), assim como grupos pró-saída como Briefings for Brexit e Brexit Central. Ela também passou detalhes altamente confidenciais nos bastidores para o conluio. Essas revelações devem ter sido uma violação das Leis de Segredos Oficiais, para qual as penalidades são severas.
O conluio, naturalmente, considerou Farr como uma peça importante, e estava determinado em proteger sua identidade a qualquer custo. Depois que um erro de divulgação criou um pequeno risco para o segredo de Farr ser descoberto, Prins colocou todos os artigos de Farr offline, e começou a deletar emails mandados para ela e vindos dela.
Farr ainda não estava comprometida a esse ponto, nem dissuadida de ajudar e ser cúmplice do conluio. Comunicando-se como Prins pelo pseudônimo Ian Moone – um anagrama declarado de “eu sou ninguém” – ela continuou a fornecer uma vastidão de informações privilegiadas sobre o plano de Brexit de May. Ela, repetidamente, solicitou que os metadados que a revelavam como autora dos documentos fossem apagados antes de circulação.
Declarando-se “imensamente impressionado” pela recém-descoberta “toupeira centralizada no serviço público” do conluio, Prins informou Robert Tombs em 20 de dezembro que seu grupo secreto havia contratado uma empresa de gestão de reputação chamada New Century para gerenciar suas comunicações de campanha. Ele pediu que Farr fornecesse à empresa “um documento que foi visto por pelo menos 40-50 pessoas” demonstrando que o serviço público estava de fato preparado para não fazer acordo com o Brexit, “que eles então vazariam”.
Ainda não se sabe se Farr se envolveu em sabotagem direta das negociações do Brexit enquanto trabalhava. Porém, ela evidentemente pensava muito nos esforços destrutivos do conluio. Em 15 de janeiro de 2019 mandou email para Prins – assunto: “Bom trabalho para nós!” – Farr comemorou a “derrota avassaladora” do Acordo de Retirada de May mais cedo naquele dia na Câmara dos Comuns.
“Agora é a hora de impedir todos os esquemas loucos antidemocráticos dos pró-permanência frustrados,” ela adicionou sem nenhuma ironia aparente.
Em pelo menos uma instância, Farr passou documentos “confidenciais” de Whitehall diretamente para o conluio. Em 20 de março de 2019, ela encaminhou fotografias de um conselho interno para Prins sobre “linhas a se seguirem” antes do primeiro-ministro solicitar formalmente uma extensão de retirada da UE. Prins então circulou esses arquivos para vários indivíduos, incluindo Dearlove e o especialista neoconservador Douglas Murray, e o deputado conservador e confidente de Johnson, Steve Baker.
Em uma mensagem para Dearlove, Prins declarou, “Esse é o plano de guerra dela. Agora mate ela e isso.”
Prins posteriormente buscou conectar Farr com legisladores pessoalmente, organizando uma reunião entre ela e David Davis. Não está claro o que eles discutiram, mas era evidentemente muito confidencial. O parlamentar sugeriu um encontro em outro lugar que não fosse o bar mais próximo, White Swan, já que a equidistância entre as sedes do MI5 e MI6 significava que “ocasionalmente espiões nele”
Com Johnson no Whitehall, o conluio quer guiá-lo, destruir tudo em seu caminho
Avançando para o começo de junho de 2019. May foi finalmente derrotada e uma eleição para a liderança conservadora estava em andamento. Naquele mês, Prins enviou uma série de propostas para Jacob Rees-Mogg, um apoiador proeminente do Brexit, que forneceu um plano claro dos primeiros movimentos de Johnson em cargo.
Prins defendeu a suspensão da Câmara dos Comuns “para evitar que Bercow e o parlamento confuso bloqueiem a saída limpa em 31 de outubro,” identificando quais deputados se opuseram ao Hard Brexit, para desmarcá-los e lançar de paraquedas candidatos de apoio aos seus círculos eleitorais. Ele ainda aconselhou a defenestrar “a célula de May, especialmente [Mark] Sedwill/Robbins, etc e TODOS [ênfase no original] funcionários públicos que conduziram as negociações de May.”
Uma guerra do serviço público em Downing Street começou quase que imediatamente com a eleição de Johnson como primeiro-ministro em julho de 2019.E um ano depois, Sedwill foi finalmente demitido após uma série de mensagens negativas para a imprensa.
Por baixo dos panos, o conluio começou a se organizar para minar, desacreditar e intimidar qualquer um que se colocasse no caminho da agenda de Johnson. Prins sugeriu para Dearlove que adquirisse “informações do MI5 sobre os propagandistas pró-permanência”, tal como Jolyon Maugham, um advogado que enfrentou vários desafios legais bem-sucedidos relacionados ao Brexitt, incluindo “suas finanças e afins para pressioná-los.”
Em 28 de agosto, o parlamento foi devidamente prorrogado, um ato posteriormente considerado ilegal pela Suprema Corte. Em 3 de setembro, foi retirado o representante de 21 parlamentares conservadores que votaram a favor de uma moção para adiar a retirada da União Europeia até 31 de janeiro do próximo ano, e eles foram proibidos de se candidatar à reeleição, todos substituídos por apoiadores extremos do Brexit.
O conluio buscou influenciar o pensamento de Johnson por outras maneiras também. Durante sua campanha, por exemplo, Dearlove se descreveu como “preocupado” com “dar sugestões sobre segurança nacional para Boris.” Elogiando seu aluno como “rápido e capaz” e “um excelente estudioso clássico”, ele disse que se sentia “razoavelmente confiante” de que ele conseguiria convencer a equipe de Johnson a bloquear a participação da Huawei na rede 5G britânica. O ex-chefe da MI6 há muito tem divulgado teorias da conspiração de que a gigante da tecnologia chinesa funciona como uma rede global de espionagem para o Partido Comunista da China.
“Com o time apropriado em sua volta, ele se sairá bem… nós precisamos de um líder que tenha carisma e capacidade para pôr pra fora [Jeremy] Corbyn e acomodar a ameaça de [Nigel] Farage. Não há alternativa [ênfase adicionada] quando se vê esse problema desse ângulo,” disse Dearlove para Johnson.
O espião de confiança foi bem fundamentado. Não muito depois de assumir o cargo, o governo de Johnson postergou tomar qualquer decisão sobre o envolvimento da Huawei, e em julho de 2020 votou para removê-la completamente da rede 5G do país para 2027.
Uma vez que Michael Gove, um importante influenciador de Tory agora servindo como ministro da educação, e Oliver Lewis, um consultor importante para Johnson no Brexit, também estavam concentrados em Downing Street, Prins começou a fornecê-los sugestões e orientações. Farr foi co-autora de uma dessas em como Johnson poderia garantir que a retirada não fosse anulada por legisladores eleitos ou pelo serviço público. Em um envio ao final de setembro, ele elogiou os “nervos nelsonianos e sangue-frio” do primeiro-ministro.
O conluio se volta contra Johnson, procura infiltrar sua toupeira Farr, no Ministério do Interior
Emails mais recentes mostram que o entusiasmo de Prins pelo primeiro-ministro diminuiu consideravelmente. Em janeiro deste ano, ele escreveu para Dearlove prevendo a partida iminente e bem-vinda de Johnson, e lamentou a falta de “vigor” do primeiro-ministro para realmente “fazer o Brexit.”
“Sunak não vai fazer, vai? Ele é outro globalista [sic] Blairite de coração, não é? Como o Boris?” Prins lamentou, notando que os principais doadores de Johnson mudaram seu apoio para a secretária de relações exteriores Liz Truss. Evidentemente, ao falhar em entregar precisamente o que o conluio queria, o primeiro-ministro se tornou descartável e deve ele mesmo se substituir por alguém que pode.
Isso pode significar que Prins está aparentemente procurando infiltrar a toupeira do conluio, Farr, no Ministério do Interior. Em 24 de fevereiro, ele mandou email para o fundador do Bruges Group, Patrick Robertson, o currículo de sua toupeira “centralizada”, o que incluiu a lista de artigos que ela redigiu como sendo Caroline Bell, a fim de uma reunião com o secretário do interior, Priti Patel.
Dearlove, que foi copiado no comunicado, classificou a lista de artigos como “mortal”, e apenas aos olhos de Patel, dado que “ela diz a um subsecretário pró-permanência quem é a nossa fonte estava no meio deles e porque o acordo de retirada faliu [ênfase adicionada].”
Prins ainda alertou Robertson que ele e patel deveriam proteger “com firmeza” esses documentos, “que nas mãos erradas estragam o disfarce [de Farr] porque eles mostram o quão central ela foi como uma peça para todos nós durante os terríveis dias com May e o quão vital ela foi para nosso eventual sucesso [ênfase adicionada].”
“Por repetidas vezes ela nos colocou no ciclo de OODA sem o menor risco para ela mesma, porque sentiu que isso era seu dever patriótico,” ele adicionou. (Um ciclo de OODA se refere à abordagem militar de tomada de decisões em quatro etapas de observação, orientação, decisão e ação. Entrar no loop é considerado primordial para garantir a vitória na guerra).
“Veja Eve [Farr] como a equivalente moderna de uma agente da EOE – o que eu acredito que a falecida mãe dela foi,” expressou Prins, referindo-se à Executiva de Operações Especiais. Também conhecida como Exército Secreto de Churchill ou o The Ministry of Ungentlemanly Warfare (O Ministério de Guerra Indelicada), a unidade da EOE foi composta durante a Segunda Guerra Mundial de pessoas que fizeram operações secretas de sabotagem por trás das linhas inimigas.
O currículo indicou que Farr publicou artigos para publicações como o telégrafo sob seu pseudônimo, “Caroline Bell”; que ela vazou informativos secretos da UE para o governo da GB, “levando à uma verdadeiras mudanças políticas”; e até participou de um chamado “Tiger Team” montada por Prins que “produziu as informações iniciais sobre a ameaça chinesa via Covid-19.”
Ousa chamar isso de traição?
Os emails e documentos reunidos neste artigo representam apenas uma fração insignificante para uma parcela gigantesca de arquivos vazados. Mas até essa pequena quantidade dá um grande vislumbre de como o poder realmente opera na Grã-Bretanha, e a quais interesses são exercidos ultimamente.
Enquanto multidões da classe trabalhadora britânica votou para deixar a UE, descarregando sua raiva em um estabelecimento que tinha, na opinião deles, vendido seu interesse para banqueiros e burocratas, um círculo de defensores influentes e agressivos do Brexit, representando uma minoria de elites, orientou o processo nos bastidores e continua a determinar o resultado. Estes incluíam agentes que são totalmente desconhecidos para o público, não devem e nunca vão dever seu poder ao voto popular e prestam contas a praticamente ninguém.
O desprezo profundo e coerente da elite britânica pelos processos e estruturas políticas democráticas é perfeitamente encapsulado pela discussão de Tim Clode com Richard Dearlove em setembro de 2018. O financista aristocrático não se importou em alvejar os mais altos escalões do serviço público para vigilância e infiltração, e o último estava disposto e ansioso para cumprir sua ambição indescritivelmente pérfida. Ninguém precisa ser um pró-permanência ávido para sugerir que a proposta deles, junto das ações de Evelyn Farr como espiã da sociedade civil, foi um ato tremendamente criminoso.
A lista completa de pessoas, grupos e instituições estatais ou não na Grã-Bretanha que foram ou estão sendo atingidas maliciosamente dessa maneira, e por quem ou o quê, pode nunca ser conhecida. Ainda assim, a parcela vazada pelo The Grayzone fornece ao público algumas informações importantes.
Está claro, baseado unicamente neste relatório, que forças anti-democráticas clandestinas têm penetrado astutamente o coração de Downing Street, e têm implantado métodos invasivos para moldar o governo e seus acordos políticos para seus próprios objetivos.
Todos exceto um dos membros e fundadores do conluio exposto nesse relatório ignoraram vários pedidos para comentar por email ou telefone. Essa única exceção foi Evelyn Farr, a toupeira do conluio no serviço público. Alcançada pelo The Grayzone por um número de telefone listado em seu currículo, Farr reagiu alarmada.
“Eu não sei do que você está falando, eu não sei quem você é, ou porque você obteve esse número, e eu não tenho ideia do que você está falando,” disse Farr audivelmente assustada.
Ao ser questionada se ela trabalhou em sabotar o processo do Brexit por baixo dos panos, ela desligou.
Desde que iniciamos essas consultas, essa conta de email jornalística tem experienciado diversas tentativas de derrubada.
Fonte: The Gray Zone