A recém lançada nova adaptação de Duna mostra toda a grandiosidade do universo criado por Frank Herbert, não deixando a desejar em nenhum aspecto. André Luiz comenta sobre os principais aspectos do filme e da coragem de seu diretor.
A versão de Duna de Lynch, lançada em 1984, tem muitos méritos cinematográficos, embora o diretor a deteste por ter sido mutilada por decisão do estúdio. Mas tem também um defeito fundamental: é uma visão demasiadamente particular e que se afasta do espírito da obra do Frank Herbert.
Não é assim com Denis Villeneuve.
Evidente que a assinatura do diretor está lá. Mas ela aparece, principalmente, na grandiosidade épica, nos enquadramentos monumentais, nos planos irretocáveis que fazem do filme desse ano uma experiência pra ser vivida na telona. [E fica aqui também os aplausos de pé para a trilha sonora do Hans Zimmer, tribal, militar, rítmica, e ao mesmo tempo algo trágica.]
A narrativa visa ser fiel ao livro, sem interpretações, atualizações, metáforas com a sociedade atual ou lacrações. O fã de ficção científica e do livro vai se sentir valorizado aqui.
O respeito é tão grande, que a narrativa nem é o mais importante, mas a criação do ambiente, o desdobramento daquele universo para o espectador, a clareza dos conceitos trabalhados, o mergulho nas tramas políticas e no misticismo de Duna.
Claro que é impossível adotar essa abordagem e ao mesmo tempo transpor o primeiro livro para o cinema em um só filme. Então, esteja avisado, Villeneuve parou a história no meio, quase num interlúdio, o que já está despertando algumas críticas ao filme. Dizem que acaba quase num anticlímax, sem grande impacto emocional.
É verdade, mas só preocupante do ponto de vista da indústria, que quer fazer rios de dinheiro. A decisão por dividir o filme e interrompê-lo sem grande fuzuê é corajosa e dialoga com os fãs. O público é convidado a se engajar naquele universo, para só então saber onde ele vai levar, em vez de falsificar o mais importante da estrutura do filme com truques de roteiristas da Nova Hollywood. Duna não pode fazer como Senhor dos Anéis porque Tolkien teve de dividir sua história em três livros para publicá-la.
[A coragem é genuína porque a continuação não está garantida pelo estúdio, vai depender da bilheteria.]
Em um tempo de cinemas de heróis da Marvel, o filme transborda austeridade, é tão contemplativo quanto possível em filmes pras massas, não tem pressa — o que é diferente de ter “ritmo lento”, como alguns vem dizendo, só é lento pra quem não consegue fixar o olhar em um mesmo quadro por mais de três segundos.
O elenco tem acertos e outros nem tanto. Retrata os personagens com mais sobriedade e menos ”colorido” que Lynch. Capta suas motivações e dimensões psicológicas de modo mais preciso.
Se o filme é bom? Ele é indispensável para os fãs de Duna, e um acerto incomensurável de Villeneuve.
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