A mitologia fundadora do bandeirantismo tem de ser encarada a partir de um novo paradigma patriótico, resgatada em sua contribuição sem igual para a formação de uma Pátria soberana.
Existem dois argumentos problemáticos quando se fala desse tema. O primeiro e mais abominável de todos pertencem àqueles que pretendem criar ”vereditos morais” sobre a atuação de grupos e sociedades do passado.
É gente tão racista e alienada, que se considera de tal maneira o suprassumo da quintessência, que imagina ter ”autoridade moral” pra decidir o que presta ou o que não presta não só entre todos os povos do mundo mas também em todas as populações do passado.
Se já é complicado fazer o próprio sistema de valores e circunstâncias existenciais de régua pra julgar povos diferentes, imagina o grau de delírio de alguém que faça isso em escala histórica.
Vai chegar o dia em que dirão que não podemos considerar as Pirâmides de Gizé como um patrimônio da humanidade porque algum militante saído do esgoto do ativismo nova-iorquino acha que o Egito Antigo era misógino ou porque os Faraós não eram democratas.
Evidente que os altos juízos morais dessa gente pequena é feita em cima de grupos específicos, em duplos critérios constrangedores. Por que os bandeirantes seriam considerados bárbaros por causa da violência perpetrada contra inimigos e as tribos indígenas não, por exemplo?
É ativismo que só se explica de fato diante da obsessão maníaca ianque de se considerar os únicos representantes e modelos do que o ser humano pode ser, um ”mito excepcionalista” mil vezes pior do que o da elite da Primeira República, e que inclusive está no cerne deste último.
Voltarei a este ponto mais pra frente, mas é bom lembrar que a própria imagem dos Bandeirantes como ”brancos conquistadores e colonizadores” oprimindo e saqueando populações não brancas não se adequa ao que se conhece historicamente sobre o tema.
Os bandeirantes eram, em geral, ”brasilíndios”; isto é, mestiços de portugueses e indígenas, caboclos que sequer falavam o português e sim uma língua geral próxima do tupi.
Viviam em tendas, dormiam em redes, se alimentavam como qualquer indígena, adentravam a mata usando o conhecimento ancestral dos caminhos pela floresta, e entravam em guerras com as tribos em continuidade com o que já acontecia entre as aldeias tupis.
Nesse sentido, os Bandeirantes eram considerados ”bárbaros” pelas populações brasilíndias dos litorais justamente porque mais afastados dos parâmetros aceitos pela sociedade colonial.
Isso nos leva ao segundo ponto.
Quando se deixam engabelar pela historieta do ”bandeirante branco e colonizador”, a esquerdalha alienada engole justamente a apropriação realizada pela oligarquia que dominou São Paulo e distorceu o mito das Entradas e Bandeiras.
Essa elite entreguista, americanófila e liberalóide, não tem nenhuma ligação histórica com os verdadeiros bandeirantes, nem em estilo de vida, nem no processo histórico que levou ao seu enriquecimento, e mais das vezes nem em vínculos étnicos.
Os bandeirantes eram guerreiros sertanistas, caboclos voltados para o interior da América do Sul em busca do mito do Eldorado.
Eles também têm uma história que envolve não só vitórias sobre tribos indígenas diversas mas de resistência e derrotas frente a poderes estrangeiros, principalmente diante da pressão dos Reinóis.
Depois da derrota na Guerra dos Emboabas, continuaram a interiorização, nem tanto pela força das armas mas pela difusão voluntarista de um povo de bolsos empobrecidos mas rico de espírito, que se tornou matriz de todo o Brasil caipira.
A oligarquia que se aproveitou desse mito fundador pra difundir uma visão da própria centralidade nada tem a ver com o fenômeno real do bandeirantismo nem com sua herança.
Ela se vinculava mais ao sistema atlântico, ao sedentarismo dos cafezais, à tentativa de adotar os hábitos do Ocidente anglo-saxão e iluminista, da condenação do processo de mestiçagem que deu origem à Paulistânia e ao Brasil.
Eles são a própria negação de todas as positividades dos Bandeirantes. Porque no fundo é essa a usurpação a ser combatida.
O poderoso símbolo e a mitologia fundadora do bandeirantismo tem de ser encarada a partir de um novo paradigma patriótico, resgatada em sua contribuição sem igual para a formação de uma Pátria soberana.
A autonomia bandeirante, relativamente dissociados do sistema atlântico; matriz cultural que originou uma brasilidade sertaneja; o sentido de sua atuação, voltado pra interiorização e a marcha rumo aos Andes etc. são aspectos imprescindíveis na construção da nossa civilização.
Aqueles que atacam a estátua de Borba Gato a partir de uma retórica retirada de manuais esquerdeiros de San Francisco, cujo objetivo é manter o Brasil e a América do Sul para sempre na condição de periferia dominada e humilhada, nos deixam mais distantes de compreender de fato porque somos herdeiros dos Bandeirantes e porque devemos todos nos orgulhar disto. Eles são O INIMIGO.
O inimigo sutil que diz que o Brasil deve se ”descolonizar” mas repetem chavões de movimentos estadunidenses financiados por uma mídia apátrida em conluio com poderes imperialistas.