Joe Biden: Refém de suas Minorias Étnicas

Escrito por Nicolas Gauthier
Enquanto a base eleitoral de Donald Trump era mais ou menos homogênea (apesar de votos recordistas entre negros e hispânicos), a base eleitoral de Biden foi composta por uma miríade interminável de “minorias” e “grupos oprimidos”. Só que uma onda sem precedentes de violência negra contra asiáticos começou a expor de maneira ainda mais evidente as rachaduras na sociedade estadunidense, conforme as minorias avançam nos pescoços umas das outras, disputando espaço, “representatividade” e privilégios.

Desde a época de Donald Trump, as coisas eram finalmente mais simples, com a América Profunda contra a América Costeira. Com Joseph Biden não é muito mais complicado: os EUA se voltam para o longínquo para tomar sua revanche contra o enraizamento encarnado por seu predecessor. O único problema é que enquanto o bloco eleitoral que apoiou Donald Trump permanece mais ou menos homogêneo, não do ponto de vista étnico – muitos afro-americanos e hispânicos lhe deram seus votos – a coalizão que permitiu a vitória de Biden é muito mais fluida, já que é a soma de minorias que nem sempre são amigáveis umas com as outras.

Pois depois da fachada de união contra o Grande Satã trumpista, não é surpresa que uma minoria oprimida sempre encontrará outra mais oprimida e minoritária do que ela mesma. Assim, no grande baile multicolorido, há convidados aos quais as autoridades progressistas de Washington esqueceram de enviar o cartão convite: os AAPI, por exemplo, ou seja, os “asiáticos-americanos e ilhéus do Pacífico”, sentindo-se estigmatizados por terem que se contentar com as sobras do banquete.

No entanto, Joe Biden havia feito todas as paradas: um índio no equivalente do nosso Ministério do Interior, um cubano nas dependências próximas do departamento em questão, um homossexual no Transporte e um transgênero não especificado na Saúde. Mas os AAPI, cujos filhos já são discriminados na entrada das universidades, estão começando a crescer, especialmente desde o massacre de Atlanta, perpetrado em 16 de março, que teria sido perpetrado por causa da origem asiática dos funcionários deste salão de massagens, cenário da carnificina, onde seis mulheres e dois homens teriam sido mortos por razões provavelmente relacionadas ao Covid, apelidado ali de “vírus chinês”.

O resultado? Tammy Duckworth, uma senadora de origem tailandesa, mas nascida em Illinois, com o apoio de Mazie Hirono, uma havaiana nativa, ameaçou bloquear qualquer futura nomeação para o Senado. O que não é exatamente peru para o Dia de Ação de Graças, considerando que, nesta câmara, os democratas eleitos olham para tantos conselheiros republicanos com uma cara séria. Assim, para cortar o nó górdio, a Casa Branca aponta para a herança asiática de Kamala Harris, sua mãe tendo nascido na Índia. Mas a AAPI retorquiu imediatamente: “É um insulto! Diríamos aos negros que Kamala Harris é negra e que não há necessidade de outros afro-americanos na administração?”

O problema é que Kamala Harris não é realmente negra, pois seu pai nasceu na Jamaica, um país altamente mestiço – até mesmo o pai de Bob Marley era um oficial britânico bem treinado – enquanto sua mãe indiana, apesar da proximidade geográfica, não faz parte da esfera cultural asiática: é um longo caminho de Nova Deli até Pequim.

Deve-se acrescentar que os pais da 49ª vice-presidente dos EUA têm, de um ponto de vista sociológico, pouco a ver com o gueto do Harlem: o pai é economista e professor emérito em Stanford, onde conheceu a mãe, que é doutoranda em endocrinologia. Se deixarmos de lado as considerações raciais e voltarmos ao campo social, admitiremos que Kamala Harris sempre evoluiu na alta sociedade, ao contrário dos caipiras que votam em Donald Trump. Pobres bastardos!

Enquanto isso, a AAPI está exigindo uma melhor representação para seus concidadãos americanos. Mais fácil dizer do que fazer: com apenas um representante entre 23 no gabinete Biden, os asiáticos perfazem 4,5% do gabinete em questão enquanto pesam 5,5% da população. Uma segunda nomeação, portanto, aumentaria sua representação para 18% e provocaria a raiva de outras minorias que são dadas a ser “discriminadas”, mas que, uma vez no poder, nunca fazem outra coisa que não seja dilacerar-se mutuamente.

Se fôssemos Donald Trump, estaríamos dando tapas nas coxas com gargalhadas.

Fonte: Éléments

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Nova Resistência
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