A Revolução Farroupilha representa a luta de um povo contra a opressão exercida pelo centralismo monárquico. Uma luta por respeito e uma vida minimamente digna que, em um campo teórico, foi uma luta por justiça social. A adesão de escravos, negros libertos, mestiços, índios e pobres do campo, não nos deixa dúvidas disso. Numa análise além da versão romantizada vemos que, além do amplo apoio popular, também houve a revolta da elite agropecuarista local, a qual não instigou a Revolução por uma ânsia de justiça social, mas sim motivada pela crise e descapitalização da pecuária gaúcha.
Havia sim uma subordinação econômica e política na relação Província e Império, mas tal Revolução só se fez presente quando os interesses da elite agropecuarista local foram ameaçados, pois após a derrota na Guerra da Cisplatina e a instalação do Período Regencial, encontraram-se totalmente afetados e enfraquecidos tanto politicamente quanto economicamente.
Anteriormente, a elite local estava conivente e alinhada com o Império do Brasil. Embora, diferente dos senhores de outras regiões, os senhores do sul tivessem padrões de vida menos luxuosos, mais modestos e costumes menos refinados, isso não anula a existência de conflitos sociais e de mecanismos de dominação na sociedade gaúcha. A verdade é que os meios de produção da atividade fundamental da economia da região na época, ainda se encontravam nas mãos de uma elite agropecuarista, a qual, sim, exercia sobre seus subordinados uma forma de subordinação muitas vezes pautada na violência.
De toda forma, dado o contexto histórico, os interesses desta elite eram compreensíveis, embora questionáveis, sendo eles condizentes com a classe à qual ela pertencia, esta ligada ao gado, à terra e aos escravos. Exemplificamos através de uma de suas principais lideranças: Bento Gonçalves, um militar de carreira que por muito tempo defendeu os interesses da Coroa, mas revoltou-se quando seus próprios interesses foram ameaçados. Bento Gonçalves, embora tido como herói, foi também um usurpador de terras, que quando se deparou com uma real proposta de cunho social e político, a combateu — menção aqui às campanhas na Banda Oriental.
Sem que sejamos reducionistas, a Revolução Farroupilha teve, claro, seu viés popular, com a conscientização do povo, quanto à situação insustentável na qual se encontrava, de opressão da Corte sobre a Província. Todavia, somente há manifestação desta após a intensificação do prejuízo econômico-político e da perda de prestígio militar por parte das camadas dominantes locais. Assim, como em toda Revolução, é importante que o olhar vá além, para que possamos questionar, afinal, quem lucra ou beneficia-se com tal.