Em uma rede social, o filósofo e analista político Aleksandr Dugin teceu diversos comentários sobre o assassinato do general Qassem Soleimani, martirizado em um atentado terrorista americano. Os comentários de Dugin se fundamentam basicamente na perspectiva do logos iraniano, estudado pelo teórico russo em seu magnum opus Noomaquia.
Como é comum em suas análises, o professor Dugin traça a contradição fundamental que está em jogo na morte de Soleimani:
“É um crime? Não: é guerra. A guerra por e contra o mundo moderno. Este herói era contra. Nós também. E eles? Eles matam na guerra. Acontece. A morte não é o fim, mas um começo. Então, que comecemos…”.
E acrescenta que “não se trata de vingança. Trata-se de vitória. Nossa vitória”, ressaltando novamente a dimensão escatológica e espiritual do embate entre EUA e Irã.
Um dia após soltar estas declarações, em um comentário de clara inspiração evoliana feito em russo, e que repercutiu em várias redes sociais, o professor Dugin, novamente baseado em sua Noomaquia (obra que trata do Ser das civilizações), escreveu mais detidamente sobre a figura de Soleimani como um guerreiro engajado em uma guerra metafísica — uma genuina manifestação heroica do Logos Iraniano:
“O general Soleimani viveu como herói, lutou como herói e tombou como herói. E lutou contra o Dajjal. Uma vida exemplar, um fim exemplar. A isto se dá o nome de sublime, o ‘sublime’ perdido: o fundamento da estética. É importante não só viver corretamente, mas morrer corretamente. Essa é a verdadeira Arte. Lutar contra a escuridão global e tombar como um guerreiro. E este é o Logos Iraniano: os Filhos da Luz lutam contra os Filhos das Trevas. O que importa não é apenas vencer, mas lutar no lado correto. Nisso está a verdadeira glória: a luz sutil do Hvareno. Nenhuma piedade ou pesar: foi o exemplo ideal; o melhor que pode acontecer a um homem é morrer com armas nas mãos, concretizando muitas façanhas, destruindo títeres sauditas do ISIS, salvando os amigos (a Grande Síria) e derrotando os inimigos. O mais importante em nossos dias é o que acontecerá, não na Líbia, mas no Iraque. De agora em diante, é nessa terra, principalmente, que está a esperança da libertação. Aqui é onde nascerá a Nova Resistência. A partir do espírito do general Soleimani”.
É importante ter em mente que, ao longo dos últimos anos, o professor Dugin fez diversas viagens ao Oriente Médio, construindo boas relações com intelectuais e autoridades políticas e religiosas em países como Irã, Iraque, Síria, Líbano e Turquia. Aparentemente, Dugin é, inclusive, uma figura vista esporadicamente na TV iraniana, de modo que a construção do “eixo xiita, em aliança com a Rússia, projeto no qual Soleimani estava engajado, é parte de seus interesses enquanto eurasianista.
Não obstante, Dugin deixa claro que o que está em jogo aqui vai muito além da geopolítica, abarcando também dimensões existenciais profundas e expressando um confronto espiritual fundamental, entre as forças hegemônicas do materialismo (pós)moderno e a Vanguarda da resistência tradicional.