O contexto político mundial se organiza, atualmente, ao redor de uma disputa entre globalistas e antiglobalistas. Neste esteio, em vários países do mundo têm surgido alternativas concretas às velhas pseudo-polarizações liberal-democratas e burguesas entre “direita” e “esquerda”.
Alguma esperança havia de que o Brasil estivesse sincronizado politicamente com essas tendências internacionais e que, portanto, surgiria alguma grande alternativa, alheia a essa pseudo-polarização, que poderia partir para uma conexão direta com o Povo, saltando às ilusões representativas, a partir da qual se poderia fundar uma nova legitimidade — para desafiar os interesses dos senhores do mundo. A isso, a mídia burguesa tem dado o nome de “populismo”.
Mas para nós, “populismo” é tão somente a democracia real, ou seja, o harmonização concreta e efetiva entre o Povo e sua liderança, para o atendimento dos interesses das massas por uma direção carismática, que tem ciência da falência dos mecanismos representativos e que, por isso, dialoga diretamente com esse mesmo Povo. O chamado “populismo”, assim, é a principal forma assumida pela democracia real, orgânica, em nossa época.
No entanto, caso se concretize uma disputa em segundo turno nas eleições presidenciais entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, poderemos dizer que essas esperanças não se concretizarão. Nenhum dos dois constitui qualquer alternativa real às polarizações burguesas liberais. As duas candidaturas não passam de simulacros organizados ao redor de encenações e espetáculos absolutamente inautênticos.
Desde um senso puramente prático e realista, poderíamos dizer que, em alguma medida, isso poderia até ser esperado por conta da imaturidade política e da facilidade com a qual o povo brasileiro em geral é manipulado pelos impulsos midiáticos. Tal como gado, a massa brasileira pende, ora à direita, ora à esquerda, votando mais por oposição a algum “demônio” político do que por conta de qualquer plataforma prospectiva.
Mas desde uma perspectiva mais ideal, a partir da pura potencialidade nacional, o Brasil de fato não mereceria esse segundo turno.
Haddad é a eterna promessa da “justiça social”, nunca concretizada, sempre adiada, e que oculta, por detrás de toda sua encenação, tão somente um intelectualzinho de DCE, um academicozinho burguês, muito semelhante ao Outro Fernando que nos governou recentemente (o do PSDB). A esquerda estará votando em um assassino de mendigos, que promete conciliação com as forças do Choque Neoliberal de Temer, em prol do objetivo de “barrar Bolsonaro” — que, em sua mente, seria o “mal absoluto”.
Bolsonaro é a promessa de uma alternativa à “velha política”, mas uma promessa já há muito encampada, vendida, entregue e conciliada com essa mesma velha política. Por detrás de toda a presepada espetaculosa de Bolsonaro estão os mesmos velhos interesses que têm guiado a política e a economia brasileira nas últimas décadas: banqueiros, rentistas, ONGs, think-tanks. O discurso “duro” oculta um homem extremamente frouxo, sem opinião própria, e que se dobra com facilidade para qualquer lero-lero vindo de seus “gurus”. Quem votar em Bolsonaro, o fará como gado, guiado basicamente pelo antipetismo e pelo sentimento anti-esquerda, mesmo discordando dos projetos de seu candidato. Tudo que importa a estes será “barrar o PT”, o “mal absoluto”.
Mas Outra Política (e, com isso, Outra Eleição) seria possível. Caso houvesse um candidato que encarnasse as demandas mais essenciais do Povo, que perpassam justiça social e segurança, soberania econômica e moralidade pública, e que entendesse o Grande Momento internacional no qual estamos (de disputa entre os interesses dos povos livres do mundo e os projetos globais de engenharia social e totalitarismo capitalista da elite internacional).
Um Outro Brasil é possível. As potencialidades desse país são infinitas. Não há nada que falte aqui em termos materiais. O Brasil poderia ser grande, soberano e próspero.
Mas não com Haddad. Nem tampouco com Bolsonaro.