Desde que Bolsonaro lançou sua candidatura, a esquerda tem estado em polvorosa. Não há dia que passe sem que a popularidade de Bolsonaro seja garantida pela relação simbiótica estabelecida com a crítica esquerdista.
Já explicamos como a crítica esquerdista é central para a popularização de Bolsonaro – já que a aversão popular pela esquerda, no Brasil, leva muitas pessoas (como gados) a simplesmente optarem por votar em qualquer candidato que se apresente como “anti-esquerda”.
Ademais, o teor da crítica esquerdista foca em coisas com as quais o povo brasileiro concorda ou que lhe são indiferentes: direitos humanos, democracia, autoritarismo – quem se importa com isso? P povo brasileiro se importa com questões bem mais claras, como segurança e renda, e não liga minimamente para abstrações burguesas.
A propósito, o povo brasileiro possui as mesmas posições que levam Bolsonaro a ser chamado de “machista”, “homofóbico”, “transfóbico” e as outras mil invectivas histéricas que a esquerda lança contra ele. Mas enquanto a esquerda foca toda sua atenção na figura caricata e circense de Bolsonaro, outras forças se mobilizam por trás das cortinas e longe da luz dos holofotes.
Por mais que Bolsonaro se apresente como liberal, seu passado e sua inconstância psicótica garantem a ele uma elevada desconfiança por parte das forças econômicas que controlam a política brasileira.
O “Mercado”, eufemismo fantasmagórico para o conjunto de forças do parasitismo financeiro, não confia em Bolsonaro. E o “Mercado” é fator determinante para vencer eleições no Brasil. Foi ao “Mercado” que Lula se dirigiu para ganhar as eleições de 2002, por exemplo, tal como todos os outros presidentes, desde Sarney.
O “Mercado” possui outro candidato favorito nesse momento.
Reconhecendo o delírio fantástico das candidaturas de partidos como NOVO, o “Mercado” prefere apostar em quem é “macaco velho” do Sistema. E hoje, essa aposta cai sobre os ombros de Geraldo Alckmin, governador notoriamente corrupto, membro da Opus Dei.
Todo o poder organizado do neoliberalismo nacional e internacional está com Alckmin: a máquina do PSDB, o mercado financeiro, a mídia de massa, os partidos do chamado Centrão, e a garantia de tempo muito superior à de todos os outros candidatos no rádio e na televisão.
Enquanto a hipótese Bolsonaro representaria caos, pela incapacidade do candidato de negociar apoio e por sua insistência na defesa das prerrogativas de certas camadas do funcionalismo público constituírem um “estatismo” inaceitável para os liberais, Alckmin possui décadas de experiência na aplicação da Doutrina do Choque no estado de São Paulo.
Alckmin é a continuação e o aprofundamento, ilimitado, do governo Temer. Ele é a ocultação ainda maior e mais garantida dos crimes e escândalos de corrupção envolvendo a classe política brasileira. É, fundamentalmente, em todos os sentidos possíveis, o candidato do Sistema. É a intensificação do choque econômico, sem nem a menor esperança de abalo do Sistema partidário pelas investigações de corrupção.
Causa espanto, portanto, que diante da hipótese plausível de um segundo turno envolvendo Bolsonaro e Alckmin, haja figuras de esquerda cogitando o voto em Alckmin para barrar o “racista-nazista-fascista-machista-homofóbico” Bolsonaro. Na verdade, a impressão parece ser precisamente a de que toda essa manobra de espetacularização da figura do Bolsonaro, na qual a esquerda participa entusiasticamente, tenha como finalidade apresentar Alckmin como o candidato da “razoabilidade”, do “bom senso”, da “respeitabilidade”. O candidato a receber voto das “pessoas comuns”, sempre amedrontadas por qualquer coisa que aparente “radicalismo”. É um caso que parece se assemelhar ao que aconteceu nas eleições francesas, com Macron servindo de “hipótese razoável” contra o “radicalismo” nacional-populista e a falência centro-esquerdista (naturalmente, resguardados os abismos qualitativos entre Le Pen e Bolsonaro). E sabemos os resultados da vitória de Macron: aprofundamento do neoliberalismo, decadência econômica, política e social.
Alckmin é o candidato do Sistema. O agente das forças parasitárias. O sicário dos inimigos do povo brasileiro. A eleição de 2018 como um todo tem sido preparada como uma grande armadilha para eleger Alckmin. E Bolsonaro é uma das iscas nesse jogo.
Então a ideia aqui: é preferível Bolsonaro ganhar e por conta de sua fragilidade ser eventualmente impedido ou isolado do que ter Alckmin na presidência colocando em funcionamento a máquina liberal. A pergunta é onde vocês preferem o liberalismo, só na cultura?