Hoje é o Dia da Independência do Iêmen: um antigo país árabe cuja história é significativamente distinta da história dos demais países árabes da Península Arábica.
O território iemenita foi um dia chamado de Fertile Arabia (“Arábia Feliz” ou “Arábia Abençoada”) e abrigou os Estados mais antigos, prósperos e ricos da Península Arábica. Diferenciava-se dos territórios com populações beduínas, caracteristicamente sedentárias, agrárias e artesanais. Foi o local onde o Reino da Rainha de Sabá estava situado. Seus reis professaram o judaísmo e, em seguida, o cristianismo, ao passo que na Era dos Aquemênidas e posteriormente, o zoroastrismo iraniano foi amplamente difundido no território.
Em poucas palavras, o Iêmen é algo bastante singular e profundo e – o mais importante – radicalmente diferente da maioria dos Estados da Arábia, especialmente da Arábia Saudita com seu salafismo, wahhabismo, e com sua política pró-ocidental à base do petróleo e da corrupção desenfreada dos clãs dominantes.
É importante salientar que o Iêmen é constituído não só de sunitas, mas de xiitas, que compõem, de acordo com várias estimativas, pelo menos metade de sua população. E onde os xiitas estão, não há e nem pode haver qualquer compromisso com o wahhabismo e tampouco com o assim chamado “Islã Puro”, que atualmente é o que dá forma às diversas manifestações do terrorismo islâmico, através da Al Qaeda, do Hizb ut-Tahrir, da Frente Al-Nusra e do ISIS – todos, é bom lembrar, proibidos na Rússia.
Assim, na história moderna, os conflitos entre o Norte e o Sul do Iêmen repetidamente se acentuaram, dado que estas diferentes regiões, que integram esta vasta área costeira, possuem diferentes histórias e diferentes tradições políticas, culturais e religiosas. O Iêmen evidencia o quão ambíguo é o conceito de “árabe”: nem todos os povos que falam o árabe e praticam o Islã são, no sentido pleno da palavra, árabes. Entre as diferentes tribos e grupos étnicos que existem dentro do mundo árabe, as diferenças são tão grandes que, entre elas, facilmente surgem conflitos militares, inimizades e ódio.
É justamente isso que está acontecendo agora no Iêmen, que, desde o século 20, vem sendo repetidamente perpassado por numerosas guerras e conflitos civis.
Neste sentido, em 2004, no norte do Iêmen, os xiitas hussitas (ou zaiditas) insurgiram sob a liderança do Imã Hussein Badr al-Din Al-Husi. Eles exigiam o estabelecimento de uma monarquia xiita e a rejeição da cooperação do Iêmen com os atlantistas (EUA e OTAN). O centro do território dos Houthis era precisamente a cidade de Saada, de fato, a segunda capital do Iêmen. Paralelamente, as principais forças de oposição aos xiitas no Iêmen – os terroristas extremistas wahhabis da Al-Qaeda – eram apoiadas pela CIA e pela Arábia Saudita. Assim o conflito ganhou uma tônica religiosa e, ao mesmo tempo, de natureza geopolítica: os xiitas iemenitas ao lado de uma civilização da Terra (uma espécie de eurasianismo árabe) e os sunitas, especialmente a Al-Qaeda, ao lado do atlantismo, da civilização Mar.
Foi então que, em 2011, na capital do Iêmen, Saná, iniciou-se a Revolução que eclodiu com a derrubada do presidente xiita Ali Abdal Saleh, que liderou o país após a unificação do Norte e do Sul do Iêmen, mas foi incapaz de solucionar as contradições que sacudiam o país. É importante salientar que os protestos contra o frágil e controverso Ali Abdal foram apoiados até mesmo pelos Houthis, que são xiitas. Como resultado, outro presidente, al-Hadi, que tinha os olhos voltados para os Estados Unidos e a Arábia Saudita, chegou ao poder. Os xiitas derrubaram-no em 2015 e tomaram a capital Saná, no Iêmen. Hadi fugiu para Aden e anunciou a criação de um Governo Provisório. Ele firmou um pacto com a Al-Qaeda e, com o apoio e ajuda da CIA e dos globalistas em Washington, a sunita radical Arábia Saudita invadiu o Iêmen, aliada com os terroristas wahhabis em terra. A operação recebeu o codinome de Golpe Final.
De um ponto de vista geopolítico, o desenho do Iêmen é muito claro: como em toda parte, os xiitas – neste caso, os Houthis iemenitas – defendem a civilização da Terra, enquanto seus adversários – os wahhabis, a Al-Qaeda e os sauditas – são, como de costume, fantoches da civilização do Mar, da globalização, do atlantismo, e defendem os interesses americanos do Pântano. Deste modo, a nossa política em relação ao Iêmen é bastante clara: apoiar, total e firmemente, o Houthis contra Hadi, a Al-Qaeda e os sauditas. Afinal, na Síria, estamos numa guerra mortal contra essa mesma força, de modo que o Iêmen Xiita – que deverá ser grande, soberano e verdadeiramente independente – ficará ao nosso lado também.
Em todos os pontos da Ásia Central e do Oriente Médio, opera um lei de ferro que intersecciona geopolítica e religião: os xiitas estão sempre do mesmo lado da barricada que os russos (muitas vezes junto com os muçulmanos sufis). Por outro lado, os terroristas radiais wahhabis do ramo salafista e ultra-islamista sunita, da Al-Qaeda ao ISIS (ambos proibidos na Rússia), sempre estão contra nós. E, em linhas gerais, eles nem mesmo são o Islã, mas um simulacro criado pelos atlantistas.