No dia 5 de maio comemorou-se o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Efeméride que marca a semana dedicada ao assunto.
A “última flor do Lácio”, de Olavo Bilac, o “latim em pó”, de Caetano Veloso, a “Pátria’ de Fernando Pessoa, surgiu na região da atual Galícia, como evolução do latim vulgar e de um substrato celta. Decretada língua oficial em 1290, espalhou-se pelo mundo no pioneiro processo de mundialização ibérico iniciado no século XIV. Tornou-se, a partir daí, uma riqueza cultural que não pode se quedar inaproveitada.
Hoje, a Lusoesfera se espalha por todos os continentes e tem o Brasil, com quase 80% de seus falantes, como seu principal membro. Se constitui em um projeto maior, mais diverso, dinâmico e rico de possibilidades que, por exemplo, as correspondentes franco e anglo esferas.
Em um mundo Multipolar a preservação das Identidades, das culturas, dos idiomas, é a base, a condição sine qua non, da Universalidade.
O perigo maior não são os conflitos entre Estados, transitórios por natureza, mas de Cultura contra Cultura. O inimigo da civilização combate por impor-se culturalmente, com seus implícitos interesses, na luta mundial por corações e mentes, empregando fonopolíticas. A linguagem é sempre uma legislação submissiva, e a língua é seu Código. Idioma é muito mais que sangue. A submissão ao idioma do outro sempre tira algo de nós.
O poder Globalista luta contra uma tríplice adversidade: etnias, que se negam a desaparecer; culturas, que se negam a se transformar e idiomas, que insistem em traduzir isto.
O que temos nos dias atuais é esta influência ibérica ameaçada por uma anglofonia, arma de um Imperialismo Cultural nefasto. A língua é companheira da dominação estrangeira. O que tem nos faltado, entre muitas outras faltas, é uma fonopolítica capaz de fazer frente a este poder cultural homogeneizante e redutor.
De diminuir, ou mesmo eliminar, este relacionamento assimétrico. Criar uma nova geometria política que se ponha a abraçar o Universal. A crença tola, ou mal intencionada, de muitos, de que existe uma influência cultural inocente, que, afinal, o soft power seja um ato político gratuito, tem de ser denunciada e combatida com vigor.
Nossos grupos dominantes sempre se fizeram de modernos, de cosmopolitas, mas não o são. São apenas antinacionais, porque antipovo. Este ódio ao povo se reflete em seu desprezo pela língua nacional. Esforçam-se para reduzir nosso idioma a um anacronismo, algo a ser superado pela “modernidade”. Um barbarismo subdesenvolvido que não merece respeito ou atenção. Nossa língua materna sofre de “anglotite”, uma infecção generalizada, uma corrupção, inoculada pelas forças que pretendem uniformizar o Ser Humano.
É fundamental, nesta guerra cultural, exorcizar a infausta Lenda Negra, aquela criada pelo calvinismo holandês e divulgada pelos anglo-saxões – de que tudo que é latino, católico, é bárbaro, inferior e merecedor de destruição.
Ser latino-americano é imprescindível e ser lusófono também. O sonho geopolítico do Bom Rei João, D. João VI, e de sua esposa Carlota Joaquina, dos impérios espanhol e português unificados; sonho refletido na bandeira argentina, concebida pelo general Belgrano; segue, com as roupagens de nosso tempo, em pé.
A língua portuguesa nos põe em todos os continentes e mares. Seu iberismo, o ser latino-americano, nos dá continentalidade, a Terra; a lusofonia dá a oceanidade, o Mar. Assim nossa Civilização pode, e esta é sua singularidade, continentalizar-se e oceanizar-se. É, nossa língua, um legado magnífico, que nossos grupos dominantes não percebem, não entendem, ou pior, simulam ignorância e desprezam.
O sonho de um Império universal, de uma Nova Humanidade, sempre existiu no imaginário latino. O mito celta da terra afortunada, do Hi-Brasil, será realizada aqui. O Quinto Império, de Vieira, o imperador da língua portuguesa, aguarda, subjacente, porque a História é, em última instância, os afloramentos de uma infra-história, de uma torrente subterrânea, sob os acontecimentos da superfície, de propostas e tentativas derrotadas.
Portugal fez o Brasil e nele se desfez. Sua missão histórica universal se encerrou ali, a nossa começou. A língua portuguesa tem uma formidável capacidade de mobilizar os recursos de culturas diversas. E os interesses econômicos e políticos devem estar com os olhos postos nas afinidades culturais. Assim se forja um projeto civilizacional.
Somos a conclusão lógica dass duas universalidades que nos antecederam: o Romano e o Ibérico. Terra e Mar. Os particularismos nacionais não podem nos assustar. Vamos nos unir por vínculos de cultura e heranças históricas. Várias culturas uma só Civilização. O multilinguismo deve fazer parte de nossa identidade civilizacional, e ser o melhor de nossa universalidade ecumênica.
A cultura latina é a prefiguração da humanidade do futuro. Ainda é Ariel contra Calibã (J. E. Rodó). As integrações, para consumarem-se em práticas sólidas, precisam começar pelo cultural. Não queremos ser “globalizantes”, mas sim universais e inter-nacionais.
Estreitar os laços, tornar efetiva a CPLP, povos sedentos de Brasil, nos permite abrir outra dimensão geopolítica. Controlar “o rio chamado Atlântico”. Fazer dele Mare Nostrum, e não um lago anglo-saxão. Estreito do Atlântico? Cabo Verde/Guiné Bissau. Na área mais rica da África, o Golfo da Guiné? São Tomé e Príncipe. No potencialmente país mais poderoso do continente africano? Angola. Porto de saída da área mais rica do sul africano para o Oriente? Maputo/Moçambique. Portos de contato com o comércio árabe e indiano? Norte de Moçambique. China? Macau. Eixo Australásia-Filipinas-China? Timor Leste.
E mais teremos se não nos faltar grandeza e alargarmos esta herança histórica costurada pela Lusoesfera. Uma presença na Europa, na península Ibérica, e no Atlântico Norte com os Açores. No mundo árabe com nossa herança moura no Marrocos, o Al-Andalus: Algarve e Andaluzia. Nas Nações Celtas com o projeto identitário da Galécia. No Caribe, com o papiamento, das ilhas ABC, e, no Suriname, com o saramacano, crioulos de base portuguesa. Em Malaca, na Malásia, e em Goa na Índia, relações a serem retomadas e desenvolvidas. Com países e regiões interessadas em participar do projeto, como a Guiné-Equatorial e a Galícia na Espanha.
Somos obrigados ao nosso legado. Temos de merecer, de fazer jus, estar à altura da empreitada. Somos a Nova Roma. Aqui se forjará o Homem Novo. A Raça Cósmica, de J. Vasconcelos. A Metarraça, de G. Freyre.
“Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.”, L. de Camões.
“Havemos de amanhecer.”, Carlos Drummond de Andrade.
Pátria Livre!
por Camarada H.M.