No espírito mesmo do nacionalismo internacionalista, conversamos com Charles Vincent, representante da Organização Socialista Revolucionária Europeia (OSRE), organização francesa dissidente, nacional-revolucionária e socialista, que possui muitos pontos de vista comuns com a Nova Resistência.
Conforme advertia o General Juan Perón, assim como as oligarquias dominantes são unidas e integradas entre si, nós, aqueles que resistem em nome do povo e da pátria, devemos fazer o mesmo: esse deve ser o destino dos povos.
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1 – O que é a OSRE?
OSRE significa Organização Socialista Revolucionária Europeia [Organisation Socialiste Révolutionnaire Européenne]. Somos um grupo de ativistas espalhados por toda a França e que publica uma revista bimestral denominada Rébellion.
2 – Como a OSRE se define ideologicamente?
Nossas raízes remontam à tradição do socialismo francês, que provavelmente foi mais bem resumida nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial pelo Cercle Proudhon (um ajuntamento de monarquistas e sindicalistas). No entanto, efetivamente, não possuímos uma doutrina oficial. A OSRE pode ser encarada como um ponto de encontro entre diferentes tendências dentro da cena metapolítica francesa, de modo que extraímos influências de diversas escolas de pensamento, à esquerda e à direita, nacionais e estrangeiras, contemporâneas e históricas.
3 – Qual é a relação da OSRE com o pensamento e obra de Alain de Benoist ?
Ao longo dos anos, Alain de Benoist concedeu várias entrevistas à nossa revista. Também contribuímos com a revista Éléments – que ele ajudou a fundar no final da década de 1960 – com alguns dos nossos escritos. Ele exerceu uma grande influência sobre a OSRE e sobre a maioria dos movimentos nacionalistas franceses das últimas décadas. Foi um dos primeiros teóricos a expandir o alcance ideológico da direita [nota: por “direita” está se entendendo o movimento contracultural Nouvelle Droite] com seu trabalho extensivo e enciclopédico, que até hoje continua fornecendo uma considerável gama de munição intelectual. Em geral, a Nouvelle Droite é a mãe de muitos movimentos dissidentes franceses contemporâneos, dentre os quais se encontra a OSRE, que representa uma visão de mundo mais socialista.
4 – A OSRE é simpática, ou aderente, ao pensamento de Aleksandr Dugin?
A influência do pensamento Tradicionalista em Dugin é compartilhada por muitos na OSRE, muito embora nós sejamos, geralmente, católicos ou pagãos ao invés de cristãos ortodoxos. Um dos artigos mais sistemáticos escritos para a nossa revista (não assinado, já que os textos “oficiais” da OSRE são anônimos) recebeu o seguinte título: “Somente a Tradição é Revolucionária” .
5 – Como começou a revista Rébellion?
Começou em Toulouse no início dos anos 2000 como uma iniciativa surgida de reuniões informais, em bares, de ativistas nacional-revolucionários, que começaram a enviar uma fanzine/boletim xerocado aos seus camaradas na França. A popularidade dessa publicação amadora acabou por transformá-la em uma revista mais profissional e estruturada, dirigida a um leitor médio, mas contando com autores bastante aclamados, como o pesquisador suiço David L’Épée – que se debruça fundamentalmente sobre a multiplicidade dos socialismos e sobre a teoria feminista e anti-feminista contemporânea – ou o jovem filósofo Charles Robin – que escreve sobre o liberalismo e seu aporte na extrema-esquerda (um de seus livros recebe o carinhoso título de The Story of a Reformed Lefist).
Recentemente, nós lançamos a Éditions des Livres Noirs, uma pequena editora focada em ensaios e panfletos mais longos em relação ao que é usualmente vinculado à revista.
6 – Quais são as propostas da OSRE para a França?
Antes de qualquer coisa, é necessário reedificar o povo.
O objetivo principal, por anos, tem sido deixar a UE e recuperar a soberania francesa. Para conquistar esse objetivo, a única via concebível agora é uma vitória eleitoral de um candidato anti-UE. Uma maioria hipotética da população compartilha pontos de vista eurocéticos, mas está dividida acerca das questões ligadas às políticas de imigração e de identidade. Durante as últimas eleições, essa fatia da população optou pelos candidatos populistas Jean-Luc Mélenchon e Marine Le Pen, mas acabaram não chegando a um acordo – somente uma pequena porção dos votos de Mélenchon migrou para Le Pen no segundo turno das eleições, o que ocasionou a sua derrotada para a hidra globalista, representada por Emmanuel Macron.
A política partidária é cada vez mais sem sentido para a gente comum. Na realidade, sempre foi, mas a exposição maciça aos conteúdos midiáticos, que atingiu uma espécie de ápice durante a eleição, deu um golpe na população. Atualmente, o governo executa uma massiva reforma nos direitos trabalhistas, que tornará os trabalhadores presas fáceis da concorrência ainda mais desenfreada do livro mercado. Alguns chegam a protestar, mas o que é mais um protesto? Jean-Luc Mélenchon reage eloquentemente frente às multidões, mas o que é mais um discurso épico, com frases de efeito, lançado contra um presidente que mal tem tempo para se importar por causa de sua própria agenda midiática lotada?
Tudo o que resta a fazer é criar focos de resistência e de autonomia, pequenas empresas e alternativas ecológicas, retornar ao campo, formar famílias e continuar informando o povo que nos rodeia. A palavra “re-enracinement” (reenraizamento) é usada frequentemente por nossos ativistas. Em suma, devemos nos tornar um povo novamente.
7 – Como as políticas migratórias dos governos europeus afetam a vida dos trabalhadores nativos na França?
A França mudou muito nos últimos 50 anos. Uma parte considerável da população vem das nossas antigas colônias (África do Norte e, mais recentemente, África subsaariana). Eles foram trazidos para cá por grandes empresas para fazer baixar os salários. Adicione a essa equação à terceirização e os trabalhadores temporários que vêm da Europa Oriental ou da Turquia e os empregos de colarinho azul passam a ser cada vez menos e menos remunerados. Em certo sentido, a atual crise migratória é como a cereja de um bolo. O multiculturalismo fracassou. A França gera minorias ressentidas há décadas. O que o governo faz, e permite, só faz piorar esse quadro. Os debates sobre liberdade de expressão e identidade saturam o discurso público. Seguindo o exemplo americano, o feminismo interseccional e o ativismo estilo Black Lives Matter vêm se tornado um negócio.
Alguns chamam isso tudo de “a Grande Substituição”. Outra maneira encarar é como uma Grande Acumulação.