Escrito por Cory Morningstar
Como é possível que você seja tão facilmente enganado por algo tão simples quanto uma história? Por que você é enganado? Bem, tudo se resume a uma coisa central, que é o investimento emocional. Quanto mais você está emocionalmente investido em algo na sua vida, menos crítico e menos objetivamente observador você se torna.” – David J.P. Phillips, membro do conselho diretor da ONG “We Don’t Have Time” (A Ciência Mágica das Narrativas)
We Don’t Have Time
Conforme este termo rapidamente se torna corriqueiro como mantra coletivo para abordar o atual desastre ambiental, ele é melhor descrito como um aceno óbvio, afinal é verdade que não temos tempo. Não temos tempo para parar com as guerras imperialistas – as guerras sendo os maiores contribuintes para a mudança climática e para a degradação ambiental – mas devemos fazê-lo. É claro que isso seria impossível sob o peso esmagador do sistema capitalista, de uma economia americana de guerra e de uma pressão na direção de uma quarta revolução industrial baseada em energias renováveis. Ainda assim, o inconveniente não tem nada a ver com a necessidade de abordar uma situação específica. O que nunca é discutido sobre a chamada “revolução das energias limpas” é que a sua existência é inteiramente dependente do imperialismo “verde” – termo cujo sinônimo é sangue.
Mas esta série não é sobre isso.
Esta série é sobre novos mercados financeiros em um mundo em que o crescimento econômico global passa por uma estagnação. A ameaça e resposta subsequente não é tanto sobre mudança climática quanto sobre o colapso do sistema econômico capitalista. Esta série sobre a oportunidade de crescimento sem precedentes que o clima oferece, sobre lucros e sobre as medidas que nossas elites tomarão para conseguir isso – incluindo aí a exploração da juventude.
O que é “We Don’t Have Time”?
Nosso objetivo é estarmos entre os maiores atores da internet.” – Ingmar Rentzhog, We Don’t Have Time, 22 de dezembro de 2017, Nordic Business Insider
Em 20 de agosto de 2018 um tweet (https://twitter.com/WeDontHaveTime0/status/1031657287763599365) com uma foto de “uma garota sueca” sentada em um meio-fio foi postado pela empresa We Don’t Have Time, fundada por seu CEO Ingmar Rentzhog:
Uma menina de 15 anos diante do parlamento sueco está protestando até o dia das eleições em 3 semanas. Imaginem o quão sozinha ela deve estar se sentindo nesta foto. As pessoas estavam apenas passando por ela. Continuando com seus afazeres. Mas a verdade é. Não podemos e ela sabe!”
O tweet de Rentzhog, através da conta da We Don’t Have Time no twitter, seria a primeira exposição da já famosa greve escolar de Thunberg.
Taggeados no tweet de Rentzhog sobre a “garota solitária” estavam cinco contas de twitter: Greta Thunberg, Zero Hour (um movimento de juventude), Jamie Margolin (a fundadora adolescente do Zero Hour: https://www.teenvogue.com/story/jamie-margolin-21-under-21-2018), o Climate Reality Project do Al Gore, e a conta de twitter do People’s Climate Strike (em fonte e estética idênticas às do 350.org). [Estes grupos serão abordados em breve.]
Rentzhog é o fundador da Laika (uma importante empresa sueca de consultoria no setor de comunicações que oferece seus serviços à indústria financeira, recentemente adquirida pela FundedByMe: https://www.laika.se/). Ele foi indicado como presidente do think tank Global Utmaning (Desafio Global em português) em 24 de maio de 2018 (https://www.globalutmaning.se/ingmar-rentzhog-ny-ordforande-global-utmaning/), e é parte da direção do FundedByMe. Rentzhog é membro da Climate Reality Organization Leaders do Al Gore, onde ele é parte da Força Tarefa de Política Climática da Europa. Ele recebeu seu treinamento em março de 2017 do ex-vice presidente dos EUA Al Gore em Denver, EUA, e novamente em junho de 2018, em Berlim.
Fundado em 2006, o Climate Reality Project do Al Gore é um parceiro do We Don’t Have Time.
A Fundação We Don’t Have Time cita dois assessores para a juventude: Greta Thunberg e Jamie Margolin (https://www.wedonthavetime.org/about-us).
Marten Thorslund, chefe do setor de marketing e sustentabilidade da We Don’t Have Time tirou muitas das primeiras fotos de Thunberg após o início de sua greve escolar em 20 de agosto de 2018. Na instância seguinte, fotos tiradas por Thorslund acompanham o artigo escrito por David Olsson, chefe de operações da We Don’t Have Time, “Essa menina de 15 anos viola a lei sueca em prol do clima”, publicado em 23 de agosto de 2018 (https://medium.com/wedonthavetime/this-15-year-old-girl-breaks-swedish-law-for-the-climate-d1a48ab97e3a):
Greta se tornou uma defensora do clima e tentou influenciar aqueles mais próximos a ele. Seu pai agora escreve artigos e dá palestras sobre a crise climática, enquanto a sua mãe, uma famosa cantora sueca de ópera, parou de voar. Tudo graças a Greta.
E claramente, ela aumentou seu escopo, influenciando o diálogo nacional sobre a crise climática – duas semanas antes das eleições. A We Don’t Have Time reportou sobre a greve de Greta em seu primeiro dia e em menos de 24 horas as nossas postagens do Facebook e tweets receberam mais de 20 mil likes, compartilhamentos e comentários. Não levou muito tempo para a mídia nacional dar atenção. Já na primeira semana da greve, pelo menos seis grandes jornais, bem como as TVs nacionais da Suécia e Dinamarca, [1] entrevistaram Greta. Dois líderes partidários suecos passaram para falar com ela também.”
O artigo continua:
Há algo de grande acontecendo aqui? Esta criança imediatamente arranjou vinte apoiadores que agora estão sentados com ela. Esta criança recebeu milhares de mensagens de amor e apoio na mídia social… Movimentos juvenis, tal como o #ThisIsZeroHour (https://medium.com/wedonthavetime/were-not-okay-with-it-we-ll-fight-back-65d50a735c3a) de Jaime Margolin que a #WeDontHaveTime entrevistou antes, falam com uma urgência necessária à qual os adultos deveriam dar atenção…”
Sim – havia, e ainda há, algo acontecendo.
Algo chamado marketing e branding.
“Ontem eu sentava completamente sozinha, hoje há outra pessoa aqui também. Não há ninguém que eu conheça.” – Greta Thunberg, 21 de agosto de 2018, jornal Nyheter, Suécia (https://www.svt.se/nyheter/lokalt/stockholm/greta-thunberg-15-klimatfragan-ar-var-tids-odesfraga)
A “criança imediatamente recebeu vinte apoiadores” – de uma rede sueca para negócios sustentáveis.
Esses acordos e políticas incluem captura e armazenamento de carbono (CCS), recuperação avançada de petróleo (EOR), bioenergia com captura e armazenamento de carbono (BECCS), descarbonização total, pagamentos por serviços de ecossistema (chamado de “capital natural”), fissão e energia nuclear e várias outras “soluções” que são hostis a um planeta já devastado. O que está acontecendo é um reboot de uma economia capitalista estagnada que necessita de novos mercados, novo crescimento, para salvar a si mesma. O que está sendo criado é um mecanismo para liberar aproximadamente 90 trilhões de dólares para novos investimentos e infraestrutura. O que está acontecendo é a criação de, e investimento em, talvez o maior experimento em mudança comportamental já tentado, em escala global. E quais são os fatores decisivos em quais comportamentos a sociedade global deve seguir? E mais importantemente, quem decide? Esta é uma pergunta retórica já que sabemos muito bem a resposta: os mesmos salvadores ocidentais e o mesmo sistema econômico capitalista que eles implementaram globalmente e que tem sido a causa de nosso pesadelo ecológico planetário. Esta crise continua sem solução na medida em que eles apontam a si mesmos (novamente) como os salvadores de toda a humanidade – um problema recorrente há séculos.
Nosso objetivo é nos tornarmos pelo menos 100 milhões de usuários. É 1/8 de todos que embarcaram nas mídias sociais. Apenas mês passado nós conseguimos alcançar 18 milhões de contas nas mídias sociais segundo uma pesquisa que a rede de notícias Meltwater fez por nós. No Facebook, nós já estamos em sétimo lugar entre todas as organizações climáticas do mundo. Estamos crescendo com 10 mil novos seguidores por dia no Facebook.” – entrevista de Ingmar Rentzhog com Miljö e Utveckling, 15 de outubro de 2018 (https://miljo-utveckling.se/ingmar-rentzhog-ar-arets-miljoinfluencer-2018/)
A We Don’t Have Time se identifica como um movimento e startup tecnológica que está atualmente desenvolvendo “a maior rede social do mundo para ação climática”. O elemento “movimento” foi lançado em 22 de abril de 2018. A plataforma virtual ainda está sendo construída, mas deve lançar em 22 de abril de 2019 (coincidindo com o Dia da Terra). “Através da nossa plataforma, milhões de membros se unirão para pressionar líderes, políticos e corporações para que ajam em prol do clima”. O objetivo da startup de atingir rapidamente 100 milhões de usuários atraiu até agora 435 investidores (74.52% das ações da companhia) através da plataforma FundedByMe (https://www.fundedbyme.com/sv/campaign/8227/we-dont-have-time/).
A startup pretende oferecer parcerias, propaganda digital e serviços relacionados a mudanças climáticas, sustentabilidade, e a crescente economia verde a uma “grande audiência de consumidores e embaixadores engajados”.
A We Don’t Have Time está ativa principalmente em três mercados: mídia social, publicidade digital e compensações de carbono. [“Apenas nos EUA o mercado estimado para compensações de carbono equivale a mais de 82 bilhões de dólares dos quais as compensações voluntárias de carbono representam 191 milhões de dólares. O mercado deve crescer no futuro, estimando-se que em 2019 15% de todas as emissões de gases estufa estejam associados com algum tipo de custo de compensação”.] Como a companhia é uma organização de nicho, as redes sociais são capazes de fornecer serviços adaptados a usuários de plataformas. A startup identificou esta oportunidade para oferecer a seus usuários a habilidade de comprar compensações de carbono através da certificação da própria plataforma. Esta opção se aplica tanto ao usuário individual da plataforma, bem como a organizações/companhias na plataforma.
Um incentivo de muitos identificados na seção de investimentos da startup é que os usuários serão encorajados a “se comunicarem conjuntamente e poderosamente com atores influentes” (https://www.fundedbyme.com/sv/campaign/8227/we-dont-have-time/). Estes influenciadores são Greta Thunberg e Jamie Margolin, as quais possuem futuros lucrativos no branding de indústrias e produtos “sustentáveis”, caso queira seguir este caminho utilizando a sua celebridade atual para ganhos pessoais (uma marca dos movimentos “de base” de ONGs). Ler mais em: The Increasing Vogue for Capitalist-Friendly Climage Discourse (http://www.theartofannihilation.com/mckibbens-divestment-tour-brought-to-you-by-wall-street-part-xiii-the-increasing-vogue-for-capitalist-friendly-climate-discourse/).
A empresa tecnológica está apostando na criação de uma base massiva de “usuários conscientes” que permitirão “colaborações comerciais lucrativas, como por exemplo em publicidade”:
Tomadores de decisão – políticos, empresas, organizações, Estados – recebem uma classificação climática baseada em sua habilidade de corresponder à iniciativa dos usuários. Conhecimento e opinião se reúnem em um lugar e usuários pressionam tomadores de decisão para que acelerem as mudanças.”
As principais fontes de renda vem de atores comerciais que receberam classificações climáticas altas além de confiança na base de usuários da We Don’t Have Time. [2]… O modelo de renda se assemelhará à plataforma social do modelo de negócios da TripAdvisor.com, que com seus 390 milhões de usuários gera anualmente mais de 1 bilhão em rentabilidade… Trabalharemos com parceiros estratégicos tal como líderes do Climate Reality, organizações climáticas, blogueiros, influenciadores e especialistas no campo.”
Vídeo: vídeo promocional da We Don’t Have Time, publicado em 6 de abril de 2018
Um estado de visibilidade consciente e permanente garantem o funcionamento automático do poder”. – Michel Foucault (Vigiar e Punir)
Comparável a outros empenhos nas mídias sociais onde “likes”, “seguidores” e quantidades assustadoras de metadados determinam o sucesso financeiro, o fato de que o negócio é virtual permite altas margens de lucro. O retorno sobre o investimento (https://www.fundedbyme.com/sv/campaign/8227/we-dont-have-time/#return-on-investment), melhor descrito como aquiescência popular e desejabilidade por meio de exposição, serão obtidos através de dividendos futuros. Em antecipação a esse sucesso projetado, a empresa de tecnologia planeja levar seu negócio ao mercado de ações no futuro próximo. (Lembremos do Facebook e do Instagram). O componente mais crítico para o sucesso dessa startup (como seus predecessores) é alcançar uma base de membros imensa. Portanto, segundo a companhia ela “trabalhará ativamente tanto recrutando influenciadores como criando conteúdo para várias campanhas ligadas à hastag #WeDontHaveTime”.
[Download: http://www.theartofannihilation.com/wp-content/uploads/2019/01/Prospectus-WE-DONT-HAVE-TIME-PDF.pdf]
Em 18 de abril de 2018 a plataforma de crowdfunding FundedByMe (utilizada pela We Don’t Have Time para recrutar investidores) adquirou a Laika Consulting, empresa criada por Ingmar Rentzhog. Trechos da conferência de imprensa seguem:
“A FundedByMe anunciou hoje a aquisição de 100% das ações na companhia financeira Laika Consulting AB, uma agência de comunicações que atua no setor financeiro. Como resultado, a companhia dobra a sua rede de investimentos para perto de 250 mil membros, fazendo dela a maior na região nórdica. A aquisição é um passo estratégico para fortalecer a amplitude de serviços financeiros da FundedByMe.
[Ingmar Rentzhog] continuará a trabalhar em projetos estratégicos de clientes para a FundedByMe e para a Laika Consulting em meio-expediente. Ademais, ele assume um papel na direção da companhia. A maior parte de seu tempo será focada em mudanças climáticas através da empresa recém-estabelecida, “We Don’t HAve Time”, como CEO e fundador”. [Fonte: https://news.cision.com/fundedbyme/r/fundedbyme-acquires-laika-consulting,c2731674] [3]
O App We Don’t Have Time: A última onda de ideologia corporativa ocidental ao alcance dos seus dedos
Em outubro de 2016, a Netflix exibiu a terceira temporada de Black Mirror, “uma antologia de TV no estilo de ‘Além da Imaginação’ sobre ansiedades tecnológicas e futuros possíveis”. O primeiro episódio “Nosedive” apresenta uma população superficial e hipócrita com “plataformas sociais e busca por validação” se tornando o fundamento de uma sociedade futura. [A terceira temporada de Black Mirror abre com uma abordagem mordaz das mídias sociais]. O episódio inquietante tem paralelos com o conceito por trás de We Don’t Have Time (https://www.theverge.com/2016/10/24/13379204/black-mirror-season-3-episode-1-nosedive-recap). A diferença sendo que ao invés de exclusivamente dar notas a pessoas, nós estaremos dando notas a marcas, produtos, corporações e tudo ligado ao clima.
Os resultados, não por acaso, serão múltiplos. As corporações com os melhores executivos de publicidade e os maiores orçamentos serão as vitoriosas. “Greenwashing” se tornará um método sem precedentes de publicidade, bem como a arte de “construir narrativas” (ninguém nunca disse que uma história tem que ser verdadeira). Pequenas empresas com poucos recursos financeiros serão geralmente as perdedoras.
Acrescentando ao diálogo sobre quem se beneficia dessa iniciativa desde uma perspectiva cultural, social e geográfica está o fato de que “preconceitos subconscientes são um problema demonstrado (https://www.eastbayexpress.com/oakland/racial-profiling-via-nextdoorcom/Content?oid=4526919) em relação a muitas plataformas de financiamento coletivo”. [Fonte: https://www.theverge.com/2015/10/28/9625968/rating-system-on-demand-economy-uber-olive-garden] Finalmente, isso significa que para poder adquirir o apoio necessário como plataforma multimídia, o interesse do mundo ocidental deve estar em primeiro plano, deixando de lado a preocupação com o “Sul Global” – exceto pelo que que pudermos continuar roubando dali.
Rentzhog garante à sua audiência que “nossa essência, porém, permanecerá, nomeadamente empoderar nossos usuários para que pressionem líderes mundiais para que eles avancem mais rápido rumo a um mundo livre de emissões e em direção a soluções e políticas ecologicamente sustentáveis”. [Acquisition International Magazine, número 10, 2018: https://www.acq-intl.com/issues/issue-10-2018/6/]
Um mundo “livre de emissões” parece atraente – mas não há qualquer plano para fazer retrair as nossas economias baseadas em crescimento infinito. “Soluções ecologicamente sustentáveis”…segundo quem? Segundo um líder tribal que defende os princípios da “sétima geração” (a crença indígena de que as pessoas devem prover adequadamente para seus descendentes garantindo que nossas ações no presente permitam a sobrevivência terrena de sete gerações sucessivas – por favor, não confundir com a compra da Seventh Generation Inc. pela Unilever) – ou segundo o Banco Mundial? (Nós já sabemos a resposta para esta pergunta retórica).
Outra verdade inconveniente, em relação à premissa acima, é que há uma pressão crescente sobre os governos para que aumentem a verba federal de pesquisa para desenvolver e empregar tecnologias de “descarbonização verde” como uma das “soluções” primárias para as mudanças climáticas. Isso foi proposto no Acordo Climático de Paris com a iniciativa “Mission Innovation” de Bill Gates que se comprometeu a dobrar o investimento governamental em tecnologias energéticas.
“Queremos que custe mais, em termos de receita, apoio público e reputação, não trabalhar na redução de emissões e no aumento da sustentabilidade ambiental, enquanto aqueles que lideram o caminho devem ser reconhecidos por isso. Nossa visão é criar uma corrida em direção à sustentabilidade ambiental e à neutralidade de CO2, tornando-a a principal prioridade para empresas, políticos e organizações em todo o mundo. ” – Acquisition International Magazine número 10, 2018 (https://www.acq-intl.com/issues/issue-10-2018/6/)
Aqui, novamente, devemos examinar atentamente a linguagem e a perspectiva. Quem são “aqueles que lideram o caminho”? Eles estão se referindo a cidadãos ocidentais que podem guardar todos os seus pertences em uma mochila? [Aqui deve-se dizer que os heróis ambientais do Ocidente NÃO são os Richard Bransons ou os Leonardo DiCaprios do mundo. Os verdadeiros heróis do meio ambiente, devido à sua pegada ambiental quase inexistente, são os sem-teto – apesar do desprezo que recebem da sociedade como um todo.] Eles estão se referindo aos maasai africanos que até hoje, literalmente, não deixam vestígios? Ou seriam “aqueles que lideram o caminho” a Unilever e a Ikea (representados no quadro de diretores da We Don’t Have Time). Esta é outra pergunta retórica para a qual todos sabemos a resposta. Observe a menção de “neutralidade” de CO2, em vez de uma redução drástica das emissões de CO2. Linguagem conveniente quando um dos principais pilares do modelo de negócios é a venda de compensações de carbono – racionalizando a continuidade do mesmo estilo de vida baseado em carbono pela construção de uma fantasia, que qualquer pessoa rica pode comprar.
Como os reviews online e os sistemas de classificação se tornaram um elemento ocidental básico na determinação do valor de uma pessoa, grupo ou corporação, a internet atualmente é a principal fonte de determinação da qualidade de uma entidade. Um exemplo desse tipo de sistema é o site Trip Advisor, que utiliza o feedback do usuário como régua de avaliação de um hotel, companhia aérea, aluguel de carros, etc. Como o sistema de classificação do Trip Advisor é o modelo de receita que a We Don’t Have Time busca emular, exploraremos esse sistema de classificação específico.
Enquanto um site respeitável e bem estabelecido, como o Trip Advisor, é baseado em uma experiência real – as avaliações da We Don’t Have Time são mais voltadas para promessas futuras relacionadas a uma revolução tecnológica verde e/ou a eficácia da publicidade para fazer as pessoas acreditarem na veracidade dessas promessas. Ao utilizar contas falsas (pense no Twitter e no Facebook), as campanhas estrategicamente orquestradas permitirão efetivamente que o aplicativo destrua carreiras políticas e demonize pessoas e países com base no número de classificações (“bombas climáticas”). Essas bombas podem ser administradas contra qualquer inimigo que não abrace as tecnologias (buscadas pelo Ocidente para beneficiar o Ocidente) dessa chamada revolução, independentemente de o motivo para isso ser justificável ou não.
A própria palavra “bomba” será reformulada. Em vez de associar as bombas ao militarismo (nunca abordado pela We Don’t Have Time”), a palavra bomba acabará por se tornar associada principalmente a classificações, produtos ruins, ideias ruins e pessoas más. Tal é o poder da linguagem e do enquadramento quando combinados com a engenharia social. Aqui, a economia comportamental do ódio pode ser transformada em arma – uma nova forma virtual de “soft power” (http://www.wrongkindofgreen.org/2012/06/22/rio-summit-good-versus-evil-advert-displays-blatant-racism-and-u-s-imperialism-at-core-of-avaaz/). O governo sandinista nicaragüense que não assinou o Acordo de Paris porque ele é muito fraco (e serve apenas aos interesses ocidentais) pode rapidamente se tornar um pária no cenário global – à medida que o Ocidente controla o palco. Já um alvo para a desestabilização, o “soft power” do aplicativo seria empregado como a classe dominante quiser.
Quando se contempla o complexo industrial sem fins lucrativos, ele deve ser considerado o exército mais poderoso do mundo. Empregando bilhões de funcionários, todos interconectados, as campanhas de hoje, financiadas por nossos oligarcas governantes, podem se tornar virais em questão de horas apenas pela diretoria interligada trabalhando em conjunto em direção a um objetivo comum de instilar pensamentos e opiniões uniformes, que gradualmente criam uma ideologia desejada. Essa é a arte da engenharia social. O conformismo e o conteúdo emotivo como ferramentas de manipulação foram e sempre serão as armas mais poderosas da caixa de ferramentas dos “Mad Men”. Se 300 mil pessoas já votaram com “corações climáticos” em um “trending topic” em menos de 48 horas – deve ser uma ótima ideia.
Ninguém quer ser o pior da turma.” Ingmar Retzhog, We Don’t HAve Time, 22 de dezembro de 2017, Nordic Business Insider
Para ser claro, o Ocidente não está em posição de “ensinar” (empurrar) o sistema de valores “correto” em relação à sustentabilidade para o mundo, quando os maiores poluidores do planeta são fabricados em “líderes climáticos” e “heróis climáticos”. Esta é a realidade virada de cabeça para baixo. Uma realidade que somos condicionados a aceitar. Instituições como as Nações Unidas, em conjunto com a mídia, alimentam essa loucura (que desafia toda lógica) para a população global, em servidão às classes dominantes.
Finalmente, essa plataforma de ciência comportamental se presta à contínuo involução do pensamento crítico. Com praticamente tudo e todos sendo avaliado o dia todo – quem tem tempo para analisar profundamente qualquer política ou produto que, afinal, soa e parece simplesmente incrível devido ao marketing sofisticado, associado às táticas de mudança comportamental? É vital ter em mente que a engenharia social – e lucros maciços – são os principais méritos e objetivos deste aplicativo.
Essa é a primeira parte de uma série. Continue lendo aqui.
Notas:
- Serviço público TV 2 Danmark, serviço público SVT, TV 4 News, Metro TV, Dagens Nyheter, Aftonbladet (20 de agosto, 2018: https://www.aftonbladet.se/svenskahjaltar/a/G1AL4q/greta-15-skolkar–for-klimatets-skull), Sydsvenskan, Stockholm Direkt, Expressen (20 de agosto, 2018: https://www.expressen.se/nyheter/greta-15-strejkar-fran-sin-skola-for-klimatet/), ETC, WWF, Effekt Magazin, GöteborgsPosten,Helsingborgs Dagblad, Folkbladet, Uppsala Nya tidning, Vimmerby Tidning, Piteå Tidningen, Borås Tidning, Duggan, VT, NT, Corren, OMNI, o post viral do CEO da We Don’t Have Time no Facebook (https://www.facebook.com/rentzhog/posts/10155571949555736) que a menciona pela primeira vez. [Fonte: https://medium.com/wedonthavetime/this-15-year-old-girl-breaks-swedish-law-for-the-climate-d1a48ab97e3a]
- Publicidade baseada em cliques com base em empresas de alta classificação que desejam direcionar tráfego para seus sites; publicidade na web direcionada para empresas que desejam alcançar usuários com consciência ambiental em diferentes segmentos; assinaturas comerciais em que empresas e organizações têm a oportunidade de interagir com os membros e obter o direito de usar a marca We Don’t Have Times e a classificação da empresa em seu marketing. [Fonte: https://www.fundedbyme.com/sv/campaign/8227/we-dont-have-time/]
- “A Laika Consulting foi uma das primeiras empresas na Suécia a trabalhar com financiamento coletivo quando estabelecemos a marca em 2004. Estou ansioso para acompanhar de perto o crescimento da empresa. Uma combinação da experiência da Laika em empresas listadas, juntamente com o FundedByMe com sua presença internacional e digital, pode criar novas oportunidades de crescimento”, diz o CEO da Laika, Ingmar Rentzhog.” [Fonte: https://news.cision.com/fundedbyme/r/fundedbyme-acquires-laika-consulting,c2731674 ]