Ataque ao Coração do Populismo Indo-Latino

Embora desprovido de uma estratégia precisa, o presidente estadunidense voltou a concentrar seu foco na Venezuela, como já havia feito durante o primeiro mandato na Casa Branca.

Desta vez, porém, o objetivo é mais audacioso e passa por fases alternadas entre as mudanças ocorridas na condução da nação bolivariana e as dificuldades de um ataque deliberado a uma nação soberana na qual a aliança cívico-militar1, sem precedentes no continente indo-latino, constitui o verdadeiro elemento dissuasório ao enésimo plano de subversão apoiado pelos EUA.

Quais são os verdadeiros objetivos de Trump?

Por que justamente a Venezuela ou, se se preferir, por que novamente a Venezuela? Essa é a pergunta que surge espontaneamente num primeiro enquadramento. Ao passar em revista as motivações, encontram-se muitas que podem fornecer uma resposta bastante bem articulada.

A primeira, de caráter econômico, está ligada à vastidão das reservas de petróleo de que a nação sul-americana dispõe. Um petróleo, o venezuelano, pesado e carente de refino para a sua inserção no mercado internacional, mas terrivelmente próximo das costas estadunidenses e distante dos aliados dos BRICS e do restante das potências regionais do Sul global. Se se faz exceção ao vizinho Brasil, com o qual as relações se normalizaram após o retorno do progressista Lula da Silva à presidência da potência verde-amarela, ainda que não estejam destinadas a uma plena convergência, as costas da Venezuela se voltam para o lado “errado” do continente: o atlântico. Rússia e China, que ainda assim garantem uma aliança nada trivial, operam como podem no que diz respeito às compras, enquanto os acordos bilaterais conectam a indústria extrativa venezuelana aos serviços, aos financiamentos e ao know-how de que ela necessita. Permanece intransponível o problema da geografia, dado que, para quem chega pelo Pacífico, os portos venezuelanos se encontram todos no oceano além do canal do Panamá.

Dito isso no que se refere ao principal recurso de que a Venezuela é rica e pelo qual os EUA desencadearam guerras até do outro lado do mundo, não se deve esquecer o momento histórico. As últimas rodadas eleitorais, na aurora de um biênio intensíssimo para os cidadãos do centro e do sul do continente americano, estão caminhando todas na mesma direção, premiando as direitas liberalizantes que se reconhecem no projeto ocidentalista representado por Trump. Na Argentina, das eleições de meio de mandato chegou uma vitória inesperada do partido do presidente Milei, que, com os novos números de que dispõe nos dois ramos do Parlamento, poderá dar início com maior facilidade às intenções declaradas na campanha presidencial de dois anos atrás. Na Bolívia, o socialismo, historicamente aliado ao bolivariano, dissolveu-se como neve ao sol, entregando o país à direita após vinte anos; e também o Chile, depois do fracasso da presidência de esquerda, pode guinar à direita. Paralelamente, o populismo latino-americano tem dificuldade em recuperar a maioria em outros Estados nos quais esteve longamente no governo (como no caso do Equador), razão pela qual Nicolás Maduro pode contar, hoje, mais com a neutralidade e a não ingerência dos vizinhos Brasil e Colômbia do que com as alianças que se desenhavam há um tempo nem tão distante.

Se o momento histórico-político sorri às direitas protestantes, que veem em Israel um baluarte da luta pela defesa dos “valores ocidentais” e acusam o populismo de políticas comunistas fora de época, não é menor o impacto que essa disputa assume no plano interno dos próprios Estados Unidos. Donald Trump e o Partido Republicano fizeram do voto hispânico um reservatório do qual extrair amplamente, apelando à matriz religiosa cristã comum e a valores compartilhados em contraposição ao progressismo em versão woke, artífice, entre outras coisas, da teoria de gênero e de políticas permissivas em relação ao aborto até o nono mês de gestação.

Alguns Estados antes considerados em disputa tornaram-se, em virtude das estratégias adotadas por Trump, fortalezas do elefante conservador; é o caso da Flórida, há décadas local de desembarque e destino de latinos abastados que deixam voluntariamente o país de origem para fugir das políticas redistributivas implementadas por governos socialistas (da Cuba castrista ao Venezuela chavista e não só).

Não é por acaso que Marco Rubio, hispânico nativo de Miami, após ter sido um ferrenho opositor da ascensão do tycoon no Grand Old Party durante as primárias de 2016, que os viram candidatos um contra o outro, hoje tenha obtido o cargo de secretário de Estado.

Em meio a tantos homens, não se pode esquecer o papel de verdadeiro cavalo de Troia atribuído à nova liderança da oposição antichavista, María Corina Machado, de quem se ocupou ampla e exaustivamente, neste mesmo site, Daniele Perra2.

Em definitivo, o perfil de Nicolás Maduro3, contra o qual também está em curso uma manobra destinada a lhe atribuir um papel na expansão do narcotráfico (mais do que à proteção garantida a membros de organizações incluídas na “lista negra” de associações consideradas terroristas por Washington, como Hamas e Hezbollah), é hoje o do principal obstáculo que impede o restabelecimento da Doutrina Monroe, de modo que a sua queda marcaria o match point sonhado pela Casa Branca após as repetidas tentativas fracassadas contra Fidel Castro em Cuba.

Notas

  1. Sobre isso ver: Daniele Perra, Scontro aperto Usa-Venezuela, “Eurasia”, 25 agosto 2025 e Norberto Ceresole, Caudillo, esercito, popolo, Edizioni all’insegna del Veltro, Parma 2025. ↩︎
  2. Daniele Perra, Il Nobel per la pace è una dichiarazione di guerra, Eurasia, 12 ottobre 2025. ↩︎
  3. Fabrizio Maronta, Maduro, il nemico utile, Limes, 21 ottobre 2025. ↩︎

Fonte: Eurasia Rivista

Luca Lezzi
Luca Lezzi

Bacharel em Ciência Política, especializado em História Contemporânea e Geopolítica da América Latina.

Artigos: 53

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